sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Arte de nunca mais

O crítico de arte de O Estado de S. Paulo, Daniel Piza, está com uma enquete muito interessante em seu blog, Qual o Mais Belo Quadro da Arte Brasileira? São 10 opções, com a devida reprodução, alguns esquecimentos imperdoáveis, e uma certeza, quase todas as obras são do início do século passado. É uma boa oportunidade de admirar um pedacinho mínimo da pintura nacional, tragicamente desaparecida, como a literatura, no alvorecer do poder econômico e na assunção da ignorância no Brasil do capitalismo organizado ou do descaramento demagógico, você pode escolher um ou outro, como o condenado tem o sagrado direito de decidir se vai ser fuzilado com vendas nos olhos ou não.
Eu fiquei com Di Cavalcanti e suas gurias de Guaratinguetá, mas gostaria de ver algo de Siron Franco ou um dos auto-retratos de Caymmi. Também gostaria de rever uma aquarela que pintei do lago da Redenção, quando era ginasiano no Julio de Castilhos, na mesma época em que os milicos davam o golpe no Brasil. Mas acho que isto já é outro assunto.
Não pude reproduzir o quadro porque o botão da direita de meu mouse resolveu calar-se para sempre.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Fim de linha

Estou sem escrever no blog porque tenho passado o tempo inteiro tentando arranjar um trabalhinho. Perdoem-me. E se souberem de alguma coisa... o perfil é simples: jornalista veterano, meia atacante e romancista obnubilado.
Não consigo mais ler sobre política. O cinismo, a roubalheira e a demagogia, como se fosse um trio sertanejo, tomam conta das paradas de sucesso.
A palavra do presidente da República e dos candidatos a presidente da República não valem um tostão furado.
Vou tentar mudar o foco, para não jogar no ralo esses mais de 460 posts em 10 meses de blog.
Hoje, por exemplo, vi uma materinha no UOL sobre a cantora e compositora Angela Ro Ro, celebridade ao avesso da minha geração. Sempre gostei da gordinha sapatão e agora passei a admirar.
Vejam o que disse a doida sobre si mesma:
"Eu não deixei de ser louca. Loucura é criatividade, ousadia, questionamento. Deixei de ser alcoólatra, 'toxicômana' e tabagista de plantão. Foram 56 kg que eu perdi. Estou mais sadia, mas a loucura me orienta."
A mim também. O problema é seguir adiante sem saber qual o letreiro do bonde.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Papel do céu



Angeli, na Ilustrada de hoje.

Minha mãe eu vou pra Lua

O presidente Lula, com candidatos preferenciais a tiracolo e uma renca de militares obtusos e politiqueiros puxa-sacos como saia rendada, está iniciando um tour de três dias pela região da transposição do rio São Francisco. A marcha, que vai utilizar avião, barcos e camionetes off-road, está sendo chamada pela mídia cooptada como a Coluna Lula, isso em desastrosa comparação com a histórica Coluna Prestes.
Em busca de ribalta para expor seus favoritos ao eleitorado e de fatos políticos que possam reforçar ainda mais sua espetacular biografia, Lula não se importa nem um pouco de fazer o papel principal em um movimento político-eleitoral que não passa de uma farsa histórica. Prestes era um comunista gaúcho revolucionário. Prestes lutava para mudar o regime político nacional. Lula é o governo. Lula é o cara a ser batido. O marqueting político governista parece não ter limites para seus devaneios políticos ideológicos irresponsáveis. E Lula adora se aproveitar desse vácuo na mídia de comunicação nacional.
O governo esquerdista do Brasil está a cada dia mais autoritário, populista e demagógico. E o povo batendo palmas.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Casualmente


Laerte e Angeli, na Ilustrada de hoje.
- Pra você.


domingo, 11 de outubro de 2009

Bonequinha da vez

Candidata disciplinada no cabresto do marqueting político, a ministra da Casa Civil da Presidência da República Dilma Roussef perpetuou nas últimas 48 horas o mais impressionante périplo político ecumênico da história da democracia demagógica neste país.
Tomou banho de pipoca no sincretismo religioso baiano, andou atrás da santinha no rio de gente em Belém do Pará (não se sabe se ela conseguiu segurar na corda) e deve estar agora saracoteando à vontade no bloco católico da emoção barata, em Aparecida do Norte.
É a mulatinha de todas as contas e rosários de tantas cores, fidúcias e atitudes morais desta vasta Nação, cada vez mais política-esportiva em vez de humana, igual e progressista.
Aleluia, isquindum, saravá e amém.

Domingo nublado

O grande garoto-propaganda do Governo Federal, capaz de vender centenas de milhares de carros novos em um único dia, para aumentar os índices de poluição no País, endividar a classe média cretina e enriquecer um pouco mais as financeiras e as montadoras de automóveis, fez mais um gesto decisivo para diminuir as desigualdades sociais neste País de futuro esportivo tão promissor: diminuiu o IPI sobre fogões e geladeiras. E também, em outro gesto magnânimo, resolveu doar R$ 400 mil aos ex-jogadores da Seleção brasileira que foram campeões do mundo. E a realidade da vida está aí, todo dia, com cabras de brincos eleitorais, tragédias naturais cotidianas num país de infra-estrutura de castelo de cartas, combate aberto entre povo e polícia em terminais de transporte público, chacinas inexplicáveis na guerra interminável entre polícia e traficantes e o maior festival de corrupção com dinheiro público que este –ou qualquer outro– país já viu. E o garoto Casas Bahia baixa alguns centavos no preço do fogão e distribui algumas esmolas públicas para ex-heróis populares, tudo devidamente registrado pela mídia “golpista e reacionária” numa espécie de caixinha eleitoral, cujo som é aquele mesmo que todos nós conhecemos: plim, plim..
Mas hoje é domingo, melhor pensar na primavera, como fazem os jornalistas da Rede Globo. Desovei estas mal traçadas aí de cima só porque tenho o absoluto direito de dizer alto e bom som, todos os dias, que continuo me guardando pra quando o carnaval chegar. E esse papo covarde de esquerda pragmática, por favor, nunca mais...

sábado, 10 de outubro de 2009

E aí, papai?



Laerte, na Ilustrada de hoje, Minha Obra Prima.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Melhor vendedor

A literatura ainda não conseguiu sobrevoar todo o vasto e misterioso território do mercado editorial brasileiro. Aqui não apenas não se escreve, como também não se lê. Três vezes não.
Dias atrás recebi um borderaux da Editora sobre as vendas do meu romance. Por questão de ética editorial (!?) e absoluta vergonha na cara, não comento. São números inquietantes. Eu sabia, como todo mundo, que 2.000 exemplares significam best seller para autores desconhecidos no Brasil. Mas na Ilustrada de hoje, notei que as coisas não são bem assim, como diria o presidente Lula. São bem piores.
O borderaux da escritora Herta Mueller, prêmio Nobel de Literatura, é bem mais inquietante. Ela foi publicada em 2004, com o romance O Compromisso, tradução de Lya Luft, editora Globo, tiragem de 2.090 exemplares. Vendeu, até junho, 284 livros. Ontem, depois do anúncio do Nobel, vendeu o restante da edição.
Das duas, uma: isso quer dizer que somos um país de novos ricos aculturados ou que eu sou sério candidato a best seller.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Mas não vou acender agora...

A Rede Globo está tentando escandalizar a classe média desde ontem com as imagens de um trator pilotado pelo MST derrubando pés de laranja. O MST, definitivamente, caiu em desgraça com a mídia oficialista. A pureza ideológica, o sagrado direito à vida, toda aquela conversa acadêmica política sindicalista desapareceu dos jornais, das revistas, dos botecos, das esquinas. A idéia da reforma agrária não interessa mais ao país do suposto agronegócio. O MST serviu como bandeira de liberdade, agora não serve nem como pano de chão. A concentração de terras de grandes proprietários aumentou nos últimos anos.
Mas estamos numa ensolarada quarta-feira na Bahia, a terra das cabras com brinco. Talvez seja melhor ouvir uns sambas para distrair este gosto ruim na alma.
Eu, me fazendo de canoeiro, achei uma lista de grandes sambas na Rádio Eldorado, via link no Estadão, e já estou cantarolando “era um peito só, cheio de promessa era só!”

http://www.territorioeldorado.limao.com.br/musicas/playlists/playlist.php?guid=F358AB5F611741A584D78D45BE9CE1DE,samba

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O mundo perfeito

Apesar de nunca nesse país ter havido tanto crescimento e tanta redistribuição de renda, segundo a propaganda oficial, e tanta felicidade expressa nos sorrisos sensuais da novela das oito, o Brasil continua na mesmíssima posição de 75º país do mundo no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas.
A China subiu sete posições. Colômbia cinco. E Peru também. O Brasil de Lula está empacado. Mas, é preciso reconhecer o esforço do marketing político oficialista, rebolando como nunca.
Amanhã os senhores poderão ler mais algumas informações específicas no Estadão e na Folha, na certa com alguns comentários de economistas, sociólogos ou cientistas políticos. Mas isso só nesses dois jornais, o resto da mídia tentará desviar atenção do distinto público para algum improvável ponto de vista positivo, como esta pérola de manchete do portal Terra, agora de manhã:
-Brasil permanece estável em índice de desenvolvimento humano.

Pau que nasce torto

O simpático presidente da República não se emenda. Ainda embriagado pelos vapores festivos da fabulosa vitória internacional obtida pelo esporte brasileiro, afirmou com a empáfia da impunidade que discutir transparência nos gastos públicos da Olimpíada diminui o Brasil aos olhos do mundo.
Como assim?
O presidente precisa perder essa mania de acreditar que existe um Brasil para uns e outro para outros, que existe leis pra uns e não existem para outros e que há pessoas incomuns, acima do bem e do mal, ou melhor, acima da lei, da ordem, da ética e da vergonha na cara.

Farsa news

O jornal O Estado de S. Paulo está dando um banho histórico de jornalismo independente na Rede Globo. Está interessante de se assistir e devia ser debatido nas salas de aula de comunicação pelo País afora.
Jornalismo independente, como todo mundo sabe, é aquele que não recorre a favores oficiais para abrir portas ou obter documentos sigilosos ou exclusivas versões oficiais.
A Globo saiu atrás no caso da fraude na prova do Enen e não consegue chegar à ponta da matéria. Hoje, no esfuziante Bom Dia, Brasil, o redator fez um elaborado exercício de esconde-esconde para dizer, sem a menor cerimônia ética, digamos assim, que alguém roubou a prova do Enen para vender a um repórter do Estadão.
Essa ignomínia foi dita pelos lábios sorridentes da beleza matinal global, dona Renata Vasconcelos. O repórter de rua, não lembro o nome e nem quero lembrar, repetiu exatamente a mesma frase. Em seguida, o senhor Renato Machado, com cara de quem não sabe de nada, viu-se obrigado a mostrar a página de hoje de O Estado com toda cronologia do crime, inclusive depoimentos completos à Polícia e fotos dos criminosos.
A Globo se comporta como se dependesse dela a defesa da “instituição” Ministério da Cultura. Os fatos, como tudo que ocorreu de ilegal até agora no governo Lula, não interessam aos manipuladores da opinião pública nacional. Vale o que está escrito.

Deus, o filme

Recebi agora de manhã de um amigo que curte borrifar gasolina em fogueira.
Também ardoroso admirador de circo em chamas, repasso aos clandestinos leitores desse blog semi-invisível.
Entonces, tirem as crianças da sala, preparem uma caixa de lenço de papel, e vejam isto:

http://www.youtube.com/watch?v=zRUfdAI7u3g&feature=player_embedded#

domingo, 4 de outubro de 2009

O que é isso, companheiro?

Tem craque de futebol que bate pênalti na mão do goleiro. É do jogo. Pistoleiro dar tiro no pé também é normal em duelo à bala. O que não dá para entender, em política profissional, é um candidato majoritário preferencial adotar métodos eleitorais oportunistas como se estivesse disputando diretoria em sindicato profissional ou em time de futebol da várzea. É de dizer, pô, parece que bebe.
O governador Jacques Wagner está a reboque de um plano de marketing eleitoral absolutamente idiota. Ele acaba de colocar em prática, ou colocaram por ele, tanto faz, um amplo projeto de doação de cabras e bodes para agricultores familiares de baixa renda, com um brinco na orelha de cada animal exibindo a logomarca do Governo do Estado e o slogan de sua gestão. O projeto custa mais de R$ 12 milhões no momento em que a Bahia vive graves crises nos setores de Educação, Saúde e Segurança. E o pior: a associação baiana de criadores de caprinos diz que os animais oferecidos são de baixa qualidade.
Wagner é governador bem avaliado, candidato a reeleição. É do partido de Lula, tem apoio de Lula, tem a caneta do milagre nas mãos, está com medo de quê? De Paulo Souto? De Geddel Vieira? Será que o governador não sabe ou não acredita que o maior eleitor baiano é um senhor chamado Lula? Souto perde para Wagner, a Bahia já viu esse jogo. E Geddel perde para Lula, na hora que Lula quiser ou mandar, todos caímos de saber disso.
Mas o jogo é jogado, o lambari é pescado e cabra não usa brinco!
Mais uma derrapada dessas do marketing do governador e algum político de oposição pode lembrar ao distinto público que Wagner, com aquela barbinha caprichosamente desenhada, é ele mesmo o bode no meio da sala.

Pátria olímpica

A estrela sobe e os brasileiros olham para o céu. Nunca na história deste País um político brilhou tanto no cenário internacional, e nem ninguém jamais auferiu tantos dividendos eleitorais, como o presidente Lula nos últimos dias. Uma performance extraordinária e até meio miraculosa.
Os valores do marketing político, como se conhece até então, estão absolutamente alvoroçados, para não dizer de cabeça para baixo, como a prometida bananeira de Paulo Coelho em Copacabana.
Lula catou os cavacos, ajeitou a fogueirinha, colocou seus tubarões no espeto e ele mesmo acendeu o fogo. O resultado é churrasco da melhor qualidade. Mágica é mágica. O que valia ontem, nos elaborados conceitos da ciência política, como transferência de votos, por exemplo, hoje vale tanto quanto palpite na mega-sena.
Lula, neste iluminado momento midiático nacional, elege até um poste. Ou um poste chamado Dilma.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Resistir é preciso

Imprensa independente é garantia de saúde administrativa do Estado.
Esta é uma verdade prática que se aprende em qualquer setor de redação de jornal diário, mas que parece não chegar aos ouvidos de lógica política sindicalista dos governistas, sejam estes o iluminado líder nacional, os ministros marqueteiros, os senadores que vestem ternos milionários ou simples entusiastas assalariados de uma ideologia mais esfuracada que peneiras à luz do sol. Hoje há um exemplo claro no noticiário do dia.
Uma repórter do Estadão descobriu que a prova do Enen havia vazado, procurou o Ministério da Educação e conseguiu evitar uma fraude sem precedentes na história do ensino superior no Brasil. Isto é jornalismo independente e é disso que o País precisa -não de manchetes que só dizem amém.
O Estadão é um dos últimos bastiões de liberdade de opinião, de independência de verbas oficiais, de compromisso com a ética na mídia de comunicação nacional. O Estadão e a Folha talvez sejam os únicos jornais do país que resistem à idéia governista esdrúxula de jornal único, nos moldes da antiga imprensa soviética e tão a gosto do pensamento liberal transversal fascista que vigora nos encastelados do Planalto.
O interessante desta história é que o jornal circula todos os dias, tanto nas bancas como na Internet, com uma faixa preta abaixo da logomarca avisando que está sob censura. A censura foi determinada por um juiz do Maranhão, a pedido de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado e líder de uma quadrilha especializada em desviar dinheiro público.
E tem gente que pensa que a ditadura é em Honduras.