quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

O bailado aéreo da lucidez

Publico um raciocínio truncado à moda Internet que me ocorreu agora, talvez cole ou não cole, mas tanto faz, vale o exercício. Há um limite para a tolerância humana a determinados níveis de transtornos. Não há metáforas nem analogias ou simbolismos a envolver essa afirmação primata. Quase não há nada nela nem ao redor. Se houver, é só conhecimento. E conhecimento, como se sabe, tem pouco valor como moeda profissional nos tempos modernos.
O raciocínio truncado aborda os urubus e a existência de deus, ou pelo menos na valorização das leis que regem a natureza. Os urubus desfrutam do mais doce dos desejos humanos, voar entre as nuvens, banhar-se nos vapores gelados de antes da chuva, como aqueles que reparei a pouco, a 300, 400 metros de altura, cruzando entre as nuvens cinzas esparsas sob as grandes formações brancas, riscando o caminho sob o azul escuro do céu, se refrescando na fonte da transmutação pura da matéria e depois bailando parabólicas inexatas num planar sem outro rumo que não seja só seguir as doidices do vento. Os urubus dançam no céu o desenho dos sonhos. Mas antes ou depois disso, não importam, eles escavam cadáveres, arrebentam com os próprios bicos a carne podre de qualquer bicho morto. Eles saciam instintos no pior dos pesadelos humanos, a imundície animal. Enfiam o bico, rasgam, arrancam, engolem e se deliciam na mais absoluta e possível repugnância. Das duas uma, ou o vôo entre as nuvens é a recompensa por comer carniça ou comer carniça é a penitência para poder voar entre as nuvens. De uma maneira ou de outra, este raciocínio é truncado, já se viu no início, afinal o urubu tem a chave do equilíbrio da existência natural sobre a terra.
Com disse na abertura, não há nada ao redor disso. Estou preocupado apenas com os limites dos transtornos. Um homem precisa saber quando não há mais viola nem saco, só resta um predicado esvoaçante. Mas isso é tema para literatura. E não será por coisas triviais como dúvidas e certezas que iremos engolir governos populistas, demagogos e ignorantes.

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