sábado, 30 de maio de 2009

Hora da hóstia

O arcebispo de Olinda e Recife, aquele descendente de ratão do banhado que acha o aborto um crime maior que o estupro de uma menina de nove anos de idade, não está sozinho, como a princípio se chegou a considerar em favor de uma suposta modernidade no pensamento da Igreja Católica.
O cardeal espanhol Antonio Cañizares, um dos ministros da Cúria do Vaticano, surpreendeu o mundo esta semana ao afirmar, comentando os abusos sexuais contra menores cometidos nas escolas católicas irlandesas entre os anos 1950 e 1980, que "não é comparável o que tenha podido acontecer em alguns colégios com os milhões de vidas destruídas pelo aborto".
Ninguém conseguiu entender porque Vossa Santidade minimiza a pederastia dos padres, mal capaz de destruir moralmente crianças e adolescentes, e maximiza a criminalização do aborto, uma decisão pessoal de defesa do próprio corpo.
O cargo del monsenhor no Vaticano, indicação do Papa, talvez ajude a formular uma resposta: o cardeal é nada mais nada menos que ministro da Congregação pelo Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Quer dizer, é o Marqueteiro das Trevas.

Nube roja

Recebi hoje de manhã un saludo de um bom amigo, Fernando Marroni, deputado federal pelo PT gaúcho, colorado de berço e cabeça. Marroni defende o que eu combato e combate o que eu defendo, mas nós dois sabemos que quando estourar a guerra de verdade estaremos juntos na mesma trincheira.
Entonces, por esta manhã fria em Salvador e quente em Pelotas, posto um trecho da letra de uma canção de Sabina e a canção por inteiro. Em homenagem aos poetas da palavra e da certeza.

...cuando despierto y voto por el miedo de hoy,
cuando soy lo que soy en un espejo roto,
cuando cierro la casa porque me siento herido,
cuando es tiempo perdido preguntarme qué pasa.

Sólo puedo pedirte que me esperes
al otro lado de la nube negra,
allá donde no quedan mercaderes
que venden soledades de ginebra.

Al otro lado de los pagones,
al otro lado de la luna en quiebra,
allá donde se escriben las canciones
con humo blanco de la nube negra.


http://www.youtube.com/watch?v=Fnoy2hTvFpE

Vem cá, meu nêgo...




Foto de Rafael Andrade, Folha Imagem.


Presidente Lula brinca com o governador carioca Sergio Cabral em uma quadra poliesportiva em Manguinhos. Os caras certos, no lugar certo, na hora errada. Boa parte do Norte e Nordeste do País está debaixo d’água, há cidades inteiras devastadas, milhares de desabrigados; as obras do PAC são mínimas, ínfimas, só funcionam para propaganda oficial... E Lula faz cosquinhas em Sergio Cabral. Lula, dia vai, dia vem, cada vez mais obcecado pela campanha eleitoral fora de hora, está ficando inoportuno.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

De bate pronto

O jornalista metido a humorista, segundo ele mesmo, Tutty Vasquez, do Estadão.com, publicou uma notinha ou piadinha, sei lá, pretendendo brincar com a sensualidade do povo baiano. Diz a nota, ou piada, sei lá, que há grande expectativa na Bahia quanto ao sexo do bebê que a cantora Ivete Sangalo está gestando. O colunista, numa infelicidade absolutamente cretina, diz que a criança, como bom baiano, será homem só até o meio dia.
Não queria me meter (!!) nisso, mas ouvi meu espelho comentando que a maioria dos baianos, depois do pôr do sol, costumam mesmo é virar touro tarado capaz de comer todos os viadinhos paulistas enrustidos que vêm aqui curtir a “magia da terra da felicidade”.

Uma voz a menos

O senhor é jornalista? Então hoje é dia de acender uma velinha para a agonia da profissão nestes novos tempos de comunicação cibernética. Está sendo publicado nesta sexta-feira o último número do diário Gazeta Mercantil, fundado a mais de 80 anos atrás. O jornal, gerenciado por exploradores de massa falida, estes moscas varejeiras de cadáveres insepultos, não permitiu sequer que os jornalistas produzissem uma edição especial para o último número. O lema dessa gente, quando acabam de sugar o último oxigênio financeiro das empresas que “dirigem”, é porteira fechada e pontapé na bunda. No fim, perdem a sociedade, o jornalismo e os jornalistas. Os empresários? Estes nunca perdem nada... vão mamar noutro lugar.

Pátria amada


Foto da página Brasil, na Folha de hoje, para ilustrar a matéria sobre o encontro do ministro do Meio Ambiente com o presidente da República.
A foto mostra uma queimada no pantanal, mas bem poderia ser uma estilização da nova bandeira do Brasil sob o governo Lula:
o amarelo do ouro já sumiu, o verde das matas está acabando e o azul do céu está caindo sobre nossas cabeças.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

A festa do bode

Enquanto o presidente reeleito da Venezuela, general Hugo Chávez, deliciava-se com quitutes baianos no café da manhã com o presidente reeleito do Brasil, metalúrgico Lula da Silva, o escritor peruano Mário Vargas Llosa estava detido pela Polícia venezuelana em Caracas. Em um episódio absolutamente surreal, o escritor, favorito este ano, entre outros prêmios, ao Nobel de Literatura, foi advertido por um capitán que, na condição de estrangeiro, não poderia fazer comentários sobre a situação política no país.
A Venezuela, pelo que se tem notícia, é uma República democrática, não pode cercear a liberdade de ninguém, muito menos de uma figura pública internacional que sempre defendeu a liberdade e o direito de expressão. Quer dizer, República democrática uma ova. A Venezuela é um país aprisionado no delírio totalitarista de um aprendiz de ditador. O mundo moderno não admite tiranetes fantasiados de democratas. Os dias de Chávez no poder estão contados. E de seus amigos também.

Bom dia

A edição da Folha de S. Paulo de hoje está muito interessante.
Manchete:
Censo Aponta Formação Deficiente de Professores.
Chamadinhas na capa:
-Brasil está em recessão desde 2008, diz comitê.
-Empresas com participação da Petrobrás doam mais a petistas.
-Auxílio-moradia irregular é pago a Sarney e mais três senadores.
Parece outro país.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Passeata do bem

Recebi um e-mail de outro veterano amigo bacharel convidando para participar de uma manifestação política no próximo fim-de-semana na orla marítima de Salvador.
Uma caminhada contra o aquecimento global.
Gosto muito da dúzia de amigos que tenho, tudo Pedra 90, linha reta, mas não concordo com o tema. A Bahia tem questões mais urgentes a enfrentar. Falar de aquecimento global em uma terra que está sofrendo uma epidemia de dengue, um surto de meningite, a maioria das escolas públicas funciona a meio pau e a insegurança pública é absoluta, isso para dizer o mínimo, parece ser inapropriado, inadequado, inútil.
O País do PT não é o país de todos. É o país deles, dos petistas, dos lulistas, dos segregacionistas políticos.
Então, por favor, pode até não ter a menor importância, claro, mas avisa dona Maricotinha que eu não vou.

O País do futebol

O mosaico da cultura brasileira tem peças dos mais variados materiais e cores, como azulejos portugueses, mármore carrara e papel higiênico.
Sou desses tipinhos deslumbrados com as artes varonis, cheguei até a acreditar, num primeiro momento deste que dizem ser o novo tempo da Nação verde e amarela, que o então ministro da Cultura, Gilberto Gil, faria de fato algo por nós. Não fez. Não se sabe se não soube, não pôde ou não quis. O fato é que não fez.
Ontem, no site do Estadão, havia uma notinha muito ilustrativa da realidade cultural nacional.
O escritor Rubem Fonseca, talvez o maior autor vivo da literatura brasileira, assinou contrato com uma nova Editora para publicar seus livros. O romancista recebe um milhão de reais para trocar de oficina.
O centroavante Obina, reserva do Flamengo negociado a troco de banana com o Palmeiras, também está de patrão novo. Deve receber mais de um milhão de reais só pelos direitos de imagem, fora salários, prêmios, publicidades, etc.
O que o senhor quer ser quando crescer, escritor de romances ou centro-avante cabeça de bagre?

No palco



Capa da Folha de hoje, Chávez e Lula, ontem, em Salvador. O redator encontrou a legenda perfeita: Teatro de Sombras.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Los democratas

Os presidentes Lula e Hugo Chávez estão na Bahia. Mais exatamente no Hotel Pestana, ex-Meridén, debruçados sobre o Rio Vermelho, Largo da Mariquita, praia da Paciência, um pedaço romântico da história da terra.
O tema da conversa, segundo um veterano amigo bacharel, será bem mais pragmático que as inspirações do velho bairro boêmio de Salvador, talvez passe pelo terceiro mandato, depois é bem provável que continue no terceiro mandato e aí, sim, no fim, chegue mesmo ao terceiro mandato.
De um jeito ou de outro, como dizem os baianos, conversa mole é que não é.

De mentirinha

Os delegados Protógenes Queiroz e Paulo Lacerda serão levados às barras dos tribunais. Terão que responder por supostas irregularidades na Operação Satiagraha, encomendada pela Presidência da República para investigar o banqueiro Daniel Dantas.
O banqueiro Daniel Dantas, por sua vez, como se sabe, está em liberdade.
E todos nós estamos envergonhados com o cinismo heliográfico que brilha sobre a Pátria.

Bom Dia

Os senhores assistem o Bom Dia, Brasil, da TV Globo?
Bem, então, vamos a São Paulo falar com a Mariana Goddoy.
-Mariana, ao contrário do que você falou agora a pouco, com seu doce sorriso blasé matinal, o escritor Aldous Husxley nada tem a ver com Big Brother, expressão criada por George Orwell no romance 1984.
Nem o playmobil engravatado e nem a beleza cigana que estavam apresentando o telejornal foram capazes de corrigir a gafezinha literária que embalou um comentário vazio sobre invasão de privacidade das câmeras e segurança nas ruas.
Não é nada, não é nada, mas são pequenas coisas que incomodam. Jornalistas que ganham altíssimos salários para interpretar a realidade dos fatos de acordo com interesses editoriais e comerciais dos patrões não têm direito a erro. E, no caso, não foi nome ou palavra errada, foi raciocínio errado. Imperdoável, dona moça.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A hora do xerife

O líder de uma associação de pescadores que combate a exploração da Petrobrás no mar de Magé, no Rio de Janeiro, foi morto a tiro, ou pior, a tiros, seis, defronte da mulher e dos filhos, poucas horas depois da Justiça embargar a obra de um oleoduto da empresa.
Isso é banditismo da pior espécie.
O Brasil começa a caminhar para trás.
Alguém precisa se responsabilizar por nós.
O presidente da República está muito ocupado em atuar como garoto-propaganda de determinadas empresas exportadoras, admirar culturas exóticas de civilizações orientais e elaborar charadas políticas sobre o tal terceiro mandato.
O Governo, diante desses insultos da realidade, devia, talvez, eleger um presidente-plantonista para enfrentar as tragédias do dia-a-dia, sem se limitar a sobrevôos técnicos sobre áreas devastadas por calamidades públicas.

CPI neles!

A CPI da Petrobrás pode se transformar no grande marco regulatório das relações políticas nacionais.
Até o momento, desde a proposta da criação da CPI e as conseqüentes reações contrárias dos governistas, é impossível entender o que os dois lados pretendem, fora, lógico, o jogo de empurra político e a cadeira da Presidência da República.
De tudo o que se lê na mídia, o mais impressionante são a determinação e a disposição do Governo Federal, leia-se PT e seus locatários, em impedir que haja investigação –e auditoria fiscal- na Petrobrás.
O PT age como se a Petrobrás fosse uma empresa do partido. Assim como Lula age como se o Brasil tivesse sido inventado por ele.
A democracia é uma arma muito tímida para enfrentar a crescente usurpação política nacional.
Mas é a única que temos. E é preciso usá-la logo, o mais rápido possível, enquanto ainda existe país.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Cozidos a retalhos

A grande notícia do dia é a eliminação do Boca Juniors da Libertadores da América.
O resto é só o grande e inútil esforço da mídia e do Governo Federal em arrumar um punhadinho de popularidade para Dona Vilma, a candidata da peruquinha básica.
O Boca sempre foi o maior predador de brasileiros do maior torneio latino-americano de futebol. Sem o Boca, adivinhem quem surge como favorito para as finais?
Em homenagem aos barras brabas infiltrados na trincheira verde-amarela, como meu amigo Renato Pinheiro, un perro baiano acostumbrado a ladrar por el gran campeón en la Bombonera,
deixo aqui uma obra prima de Joaquín Sabina, Dieguitos e Mafaldas.
Maximize a tela e suba o som, es pura vida hermanos...

http://www.youtube.com/watch?v=Z3tT5Pc7i_0

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Mas se por exemplo chover

Hoy es my cumpleaños feliz.
Um presente para quem sabe o que é música.

http://www.youtube.com/watch?v=-9R3HRPP4oQ

Foodido

O ex-ministro do Desenvolvimento do governo Lula e proprietário da empresa Sadia estrelou a capa da Folha de ontem, sorridente, com uma taça de vinho na mão, comemorando a mega-fusão com a concorrente Perdigão. A nova empresa chama-se Brasil Food e mobiliza bilhões de dólares a partir de um suporte financeiro básico bancado pelo BNDES. Se o senhor está pensando que este foi um dos maiores golpes da história deste País, está coberto de razão. E tanta razão que até pode acrescentar o sufixo dido ao sonoro e pedante Brasil Food.

Non sense

A ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, candidata do presidente Lula à presidência da República, passou 35 horas internada no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para tratar das reações à quimioterapia e saiu de lá anunciando aos interessados que está usando uma peruquinha básica e que ninguém deve fazer exploração política de sua doença.
Primeiro, ninguém quer saber de seus esforços estéticos para melhorar a imagem, pode botar quantas peruquinhas quiser. Segundo, só ela e o próprio Lula exploraram o suposto câncer linfático.
A estada no hospital, isto sim, deve render alguns pontinhos na pesquisa de intenção de voto. Se bem conheço técnicas e táticas do marketing de guerrilha do Governo Federal, ainda hoje, mais tardar amanhã, estará nas ruas uma nova pesquisa com dona Dilma roçando, no bom sentido, é claro, os 20 pontos percentuais.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Banana com pimenta



Angeli, na Ilustrada de hoje. Nunca é demais lembrar que os nossos inimigos continuam no poder.

A hora do trevo

Talvez os senhores não tenham percebido, mas desde o fim do mês passado a tese política de um terceiro mandado para o presidente da República não sai do noticiário diário. É a crônica de uma eleição anunciada em conta-gotas. Lula quer continuar no poder de qualquer maneira, caso contrário será desmascarado como ‘tocador de obras” e como “pai dos pobres”, e será enquadrado na história política recente do país como de fato merece, não como pensa –e inventou- que merece. O terceiro mandato pode vir com a fantasia de Dilma, mas se não for possível, de acordo com os boletins de pesquisa de opinião ou de plantão médico, tanto faz, ele terá de usar sua velha e manjada cara de pau.
Ontem, na China, questionado pelos repórteres viajantes da comitiva oficial sobre a possibilidade de um terceiro mandato, o presidente foi exato, pelo menos para quem sabe ler política e não é apenas fanático petista religioso. Lula disse com todas as letras que "Eu não discuto essa hipótese. Primeiro porque não tem terceiro mandato. Segundo, porque a Dilma está bem". Quer dizer, se houver a hipótese e Dilma estiver fora do baralho, ele discute, sim senhor..
Prepare seu titulinho de eleitor ou vá decidindo onde será sua morada longe desta terra que tolera ditadores.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Do mirante

O céu da Bahia ainda não foi visto neste maio.
Há uma cortina de nuvens sobre Salvador, como um cachecol a cobrir o colo da cidade. O cenário natural da casa, a moldura, da janela, da varanda e do quintal é o verde do mato e o azul do céu. Ton sur ton, todos os tons. A beleza é paisagem. O resto são palavras.
Agora o dia é minha cara. E tudo o que tenho é nada a dizer.
Aprendi escrevendo que não há palavras para descrever paisagens. Diz Saramago que só para o verde há 29 matizes. El português talvez tenha esquecido os escombros da Mata Atlântica e nunca tenha visto a floresta amazônica cara a cara. Vinte e nove matizes há no dorso de um sanhaço sob o sol. E na copa das mangueiras ao vento, quantos olhos são necessários para perceber a pantomina do verde?
Sorte a minha que não há palavras...

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Nossos heróis



Laerte, na Ilustrada de hoje.

domingo, 17 de maio de 2009

Domingada

Estive fora alguns dias, estava sem computador. Acho que não perdemos nada, nem eu nem você. A levada da política nacional é mais simples que um refrão do Chiclete com Banana.
O barulho pelo terceiro mandato está aumentado. É só uma questão de tempo.
O esforço do Governo para salvar os banqueiros e suas fortunas é comovente. Mas é só negócio, nada pessoal.
E, como se sabe, o futuro a Deus pertence. Então, minha nega, é melhor nem sair de casa.

Amarguras


Tira de Fernando Gonzales na Ilustrada de hoje. Trata da realidade da vida.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Diário da aldeia

Como nos filmes americanos, acho que já publiquei isto e ninguém se importa.

Foi na tardinha do sábado, nada a ver com Sabiá, o jornal da casa, tudo a ver com futebol. Estava na janela, admirava o horizonte rosa, céu chumbo azul, vitrola moderna a cantarolar versos de poeta, sofrimento não me assusta, Maria, é meu vizinho de boas tardes, de repente dei de ver a mim mesmo, ali, acima da colina, a me olhar com cara de sinceridade, impossível, inútil me ignorar. Pareço com cara de quem não tem outra coisa a dizer a não ser que faltam apenas uns 30 minutos para o jogo acabar. Estou, não, nem sei como estou, só sei que até agora perco por dois a zero, e o time deles é bom. Não consigo encaixar um passe, uma finalização, um zagueiro já foi expulso, o volante puxa a perna, o juiz está roubando pra caralho, duas gotas de suor me embaçam a visão, e ainda assim continuo certo que a vitória é o único destino.
Nunca foi tão fácil.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Ombro, armas!

A Bahia amanhece a segunda-feira com jeito de criança proibida de brincar.
A cidade parece não acreditar que a chuva passou. O povo conforta sua solidão real com a glória nada impávida das estatísticas oficiais. “Lave sua lama e procure outro buraco para se esconder”, isto é mais ou menos o que recomendam os funcionários da defesa civil.
O que se pode fazer?
Rasgar o título de eleitor e subir os morros da Sierra Maestra que temos en el corazón.

Parece que foi ontem

Por falar nisso, alguém poderia nos dizer, afinal, o que foi feito da Revolução? O que foi feito do tiro de sal nos ladrões de galinha? E do tapa que virava a cara para as costas? Do outro que a gente tinha por dentro? De quem dava o tapa e escondia a mão? Daqueles que fugiam de casa atrás do circo? Dos que queriam morar pra sempre no cabaré? Dos que jamais diriam sim?

domingo, 10 de maio de 2009

O imperador

Dia das mães, a mídia golpista e reacionária parece adular seu filho predileto, o plantonista da Presidência da República.
Nada nos jornais nem nos portais, pelos menos substancial, sobre a reunião da executiva nacional do Partido dos Trabalhadores.
Só o que se sabe até agora é que Gilberto Carvalho deve ser mesmo eleito presidente do partido, a candidatura do partido, seja qual for o nome, é prioridade acima dos interesses partidários nos Estados, e o companheiro Delúbio Soares foi discretamente empurrado para o fim da fila.
O que isto significa? Lula está mandando mais do que nunca. Deviam ter decorado o ambiente da reunião com trevos verdes e amarelos. De três folhas, claro.

sábado, 9 de maio de 2009

Telegrama

A Bahia continua desafiando a viagem sem timão nem timoneiro.
Muitos de nós estamos neste momento com água pela cintura.
Ouça os poetas, valem mais do que rosários neste momento.
Os santos estão muito ocupados com fiéis atolados na lama ou pendurados nas ribanceiras ou desaparecendo nos bueiros.
Sabe o que as autoridades estão fazendo? Esperando a chuva passar.
Não há mais lei que a lei das minas do Rei Salomão.
Ouça o que dizem os poetas.
Eldorado era um shampoo, o pecado uma página aberta.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

E vem do céu

Continua a chover sem parar na Bahia.
A paisagem da janela amanheceu coberta por um véu branco-chumbo e está assim até agora, quase dez e meia da manhã.
Este é meu 30º ano de Bahia e a chuva nunca foi tão constante e tão forte.
Conheço a cidade como minha alma, os refúgios da baronagem e as veias abertas da periferia. Também conheço muito bem o povo e melhor ainda os governantes. Por isso sinto-me triste, amedrontado -e impotente.
Como diria Antonin Artaud, e digo eu, um mero antonin gaúcho:
"alguém precisa se responsabilizar pela Bahia".

Como se sabe em que País estamos ancorados e por quem somos governados, sugiro concurso público urgente.

Joga a chave, meu amor

A executiva nacional do Partido dos Trabalhadores está reunida neste momento. Pelo que se sabe ninguém sabe o que está sendo discutido, estão reunidos a portas fechadas.
A reunião da executiva devia ser aberta ao público e transmitida ao vivo pela televisão.
Talvez não fosse bom do ponto de vista da estratégia político-partidária, mas seria democrático e transparente.
Não é isso o que importa?

Na ribalta

O que está havendo na mídia com a tal de gripe suína? Os telejornais –todos- dedicam até cinco minutos de reportagem para dizer que não está acontecendo nada. O ministro da Saúde dá longas e repetitivas entrevistas como se fosse porta-voz do bom senso, aconselhando a lavar as mãos, escovar os dentes, pentear os cabelos, caminhar para frente sempre colocando um pé diante do outro, e coisinhas do gênero embroma-trouxa.
Ontem, no Jornal Nacional, depois de esquentamento constrangedor da “notícia”, os repórteres nada tinham a informar, o âncora William Bonner entrevistou ao vivo o ministro. O ministro, tal qual um astro do futebol, estava à frente de um painel de propaganda do Governo Federal, a logomarca ao fundo como símbolo publicitário, e falou mais ou menos como falaria um Ronaldo.
Está ficando cada vez mais engraçada, ou estranha, esta relação do governo Lula com a mídia.
Mas, de um jeito ou de outro, já passou do ridículo.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Porteira fechada

O diretório nacional do Partido dos Trabalhadores se reúne amanhã para decidir coisa alguma.
A reunião discutiria temas prioritários para o futuro do partido, como a indicação do candidato à sucessão do presidente Lula e a reintegração do ex-tesoureiro Delúbio Soares, por exemplo. Agora, entretanto, ninguém sabe exatamente qual a pauta do encontro, parece que nada pode ser discutido em público ou que o Brasil não está preparado para entender o próximo papel do PT na cena política nacional.
Há algo de novo florescendo nos jardins do Planalto. Acho que tem o formato de trevo.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Igrejas e terreiros lotados

A Bahia está pagando seus pecados. E olha que na Bahia pecado já vem como hóstia de manhã cedo, é a benção do povo encalorado, sensual, liberal e safado. Quer dizer, aqui, pecado é o que não falta. E todo mundo sabe disso.
A chuva não dá trégua, quer dizer, até dá, mas só por alguns instantes. A dengue, só no último mês, fez cinco mil novas vítimas. Cinco mil. E agora chegou a meningite. Há um surto em todo Estado.
Alguém está pensando que voto no candidato certo resolve? Pois sim. Melhor rezar. Ou bater tambor.

Aqui

Continua chovendo na Bahia. Ontem choveu sem parar, com bem força, como se diz aqui, por mais de seis horas. Deve ter sido recorde de precipitação nos últimos anos, difícil saber exatamente, não há Imprensa local, há produtos comerciais que se se intitulam jornal, rádio e televisão, mas não há jornalismo, só departamentos financeiros. Melhor nem ver.
Escrevo Bahia, mas o senhor, se não tiver intimidade suficiente com a terra da felicidade, deve ler Salvador. Aqui é a Bahia. De Feira de Santana pra lá é o sertão ou o Brasil. E a Bahia não está preparada para chuva. Nunca esteve.
Estas tragédias anunciadas, por incrível que pareça, servem para eleger profissionais da promessa, o povo baiano é muito dócil, ingênuo, maleável, tem o costume bôbo de acreditar nas pessoas, principalmente se forem políticos celebridades, e por isso, só por isso, vê a cidade passar de mão em mão, cada uma mais espertalhona que a outra, e se desmilinguir na chuva do outono.
É uma tristeza para o povo e não é nem uma vergonha para os governantes. Ou, na verdade, talvez seja mesmo uma vergonha para o povo e nem uma tristeza para os governantes.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Verdades e mentiras

O jornal Estado de S. Paulo perguntou ao jornalista norte-americano Gay Talese "Por que nós precisamos de jornais?". A resposta ajuda a entender a nota logo abaixo.
"Porque no prédio de qualquer redação de um jornal respeitável, a qualquer momento, há menos mentirosos por metro quadrado do que em qualquer outro prédio. Há mentirosos nos jornais também, mas em menor número. Nos prédios do governo, nas escolas, instituições científicas, estádios de esporte, nas fábricas, a mentira circula num grau mais alto. Os jornais estão mais interessados na verdade, mesmo se cometem erros, às vezes, erros involuntários. E se você ainda quer a verdade, é mais fácil chegar a ela por intermédio de um jornal do que em qualquer outra instituição. Os jornais ainda oferecem a melhor chance de manter a verdade em circulação."

Disparada

O papel da Imprensa na tragicomédia cotidiana dos fatos começa a mudar efetivamente. Mais ou menos como a abertura democrática no Brasil no tempo da ditadura, lenta, gradual e irreversível. Imprimir jornais já é politicamente incorreto, o jeito são as empresas de comunicação se acostumarem rápido com a nova roupagem eletrônica. O futuro, sem qualquer dúvida, será atração exclusiva de tela de computador, jornal nem em sanitário público.
Uma nota publicada na edição impressa do New York Times, por exemplo, pode ser lida, supõem-se, por cerca de um milhão de pessoas. Esta mesma nota, no site do mesmo NYT, é lida por mais de 20 milhões. Onde o senhor acha que os anunciantes irão colocar seus reclames?
Ainda em Nova York, o bilionário norte-americano Warren Buffett disse que não compraria nenhum dos jornais americanos por dinheiro algum. Os investidores preferem o certo da luz ao duvidoso do papel.
Quer dizer, nós, leitores primatas, estamos à mercê da liberalidade absoluta da Internet. Preparem seu coração para as coisas que eles vão nos contar...

Imagens














Capitão do Corínthians, Williams levanta a taça de campeão em chamas. Isso é que é foto-jornalismo, na capa da Folha de hoje. Obra de Ricardo Nogueira.

Abaixo, na mesma Folha de hoje, quadrinho de Laerte, algo sobre auto-ajuda e bom humor.

sábado, 2 de maio de 2009

Mês das noivas

Abro um novo arquivo para as notas do blog, maio, no velho PC restaurado (não, não estou falando do PPS), desconfiado do dia, do tempo, dos fatos. Chove lá fora, não sei até quando a natureza vai continuar ensopando a vida deste lado do País. O noticiário é o mesmo de ontem, o mundo se debate entre crise econômica e gripe suína, não se sabe se Ronaldo joga amanhã, e o presidente Lula voltou a insultar a inteligência dos brasileiros, chamando todo mundo de hipócrita.
Convenhamos, maio começa com tudo igual a abril, março, fevereiro, ou seja, tudo fora do lugar. A chuva bem que podia ir chover noutra freguesia, assim como Ronaldinho Gaúcho devia voltar para o Grêmio e o presidente da República falar como presidente da República, e não como Lula, o metalúrgico.
Seriam bons presentes, sem dúvida, para o próximo dia das mães.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Velas ao vento

Hoje, dia do trabalho, o Brasil finalmente amanheceu sem Lei de Imprensa.
O Supremo Tribunal de Justiça decidiu que o Estado deve soltar suas garras de cima dos jornais e dos jornalistas.
A votação no STJ derrubou toda a Lei, não ficou nem o direito de resposta.
O mercado, como acontece em todas as áreas, se auto-regula (ainda com hífen, pelo menos para alguns teimosos).
O Estado deve cuidar de segurança, educação, saúde, transporte... Comunicação, esporte, cultura se resolvem sem intervenções paternalistas e protecionistas.
A cada dia que passa ficamos mais distantes do autoritarismo militarista dos anos 60, 70 e 80, embora sem saber exatamente do quê nós estamos nos aproximando.
As atuais idéias do Governo Federal sobre Imprensa e Cultura, por exemplo, são ainda mais retrógradas e perniciosas, mas as instituições já começam a navegar livres das amarras do Estado, a Nação é maior, bem maior que ditadores de qualquer cepa, inclusive os eleitos pelo povo.