quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

A bomba verde e amarela

As primeiras semanas do próximo ano trarão no lombo do vento do noticiário a resposta para a crucial questão, qual é a posição política ideológica do presidente Lula? Ele mesmo vai ter de dizer claramente, sem subterfúgios nem metáforas nem sofismas, o que vai acontecer com a Lei de Anistia. O presidente acaba de assinar um texto o qual disse que não leu, depois anunciou que vai revisar, e se recolheu em férias de fim de ano. O texto lido em voz alta em cerimônia pública e recebido com lágrimas emocionadas dos ex-militantes guerrilheiros e olhos arregalados dos antigos militares torturadores define que um dos lados em guerra tinha razão e o outro não.
Lula, ao que parece, pretendia resolver a grande questão da revisão ou não dos acontecimentos trágicos da ditadura militar no Brasil com uma generosa esmola aos torturados e o perdão juramentado presidencial aos torturadores. Deu errado. O presidente foi surpreendido com uma pequena radicalização da turma dos torturados, que preferiram tratar o problema de acordo com a sua ótica exclusiva, ou seja, os torturados tinham razão de matar e morrer pela liberdade e os torturadores tem que pagar por terem feito a mesma coisa, ou seja, matar e morrer pela liberdade. Agora, está em jogo não apenas a dignidade política de um país e seu povo como também estão os parafusos que atarracham a máscara ideológica do presidente da República desde quando ele sentou na cadeira presidencial e mandou queimar todas as bandeiras de consciência que o levaram ao poder, instituindo uma única esmola nacional aos desvalidos e entregando o país à sanha dos famélicos sindicalistas, aos interesses comerciais da mídia de comunicação e à exploração absoluta dos mercadores de miragens financeiras.
Lula, pressionado pela revolta dos militares e pela desfaçatez de seus colaboradores mais próximos, estes realmente comprometidos com uma posição política ideológica de esquerda, com referência no modelo soviético stalinista, vai ter de esclarecer aos queridos ouvintes, afinal, de que lado ele, Lula, o convertido, está.
Desde que o caso chegou ao noticiário nacional, embora ainda docemente acobertado pelos panos quentes da mídia, alguns personagens midiáticos –ou celebridades televisivas- começaram a expressar opiniões e sugestões reveladoras. O venerável paladino das liberdades individuais, o jornalista Boris Casoy, não chegou a fazer biquinho com seus lábios bezuntados de baton para dizer que isto é uma vergonha, mas defendeu que a Lei de Anistia não deve ser alterada, ou seja, ninguém deve ser investigado nem punido, e que é hora de passar a borracha no passado. O mesmo se ouviu na Globo e na cambaleante Bandeirantes e ainda se pode ler nos editoriais dos grandes jornais, todos a favor do silêncio e da varredura para debaixo do tapete.
E o senhor? De que lado está? Eu aprendi desde menino a não acreditar em gente fardada. E estou aprendendo agora, velho safado de barba na cara, a não acreditar em outros velhos safados de barba na cara. Mas gostaria de deixar bem claro que eu acredito e vou acreditar até o fim da vida que lugar de torturador é na cadeia.
E espero, do fundo do meu coraçãozinho galinha de leão, que o presidente Lula largue um pouco de lado o pragmatismo político da "governança" e nos mostre afinal que é um estadista de fato e não um mero mercador de ilusões.

Ah, sim, o próximo ano.
Desejo que todos nós estejamos tão felizes ao longo do ano que não tenhamos mais pressa nenhuma –nem para dormir nem para acordar.

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