segunda-feira, 13 de julho de 2009

Ah, há a literatura

Como se fosse normal utilizar-se de recursos desconhecidos de técnica de criação literária para suplantar a mesmice cotidiana opressiva do noticiário político nacional e cravar mais um post no meio do nada, nada a ver com narrativa paralela ou digressões, podemos até nos valer de um dos temas clássicos à disposição em prateleiras da imaginação, na verdade uma legítima aspiração de conhecimento da pobre humanidade de passado obnubilado e de futuro incerto sobre si mesmo, a de saber se de alguma maneira há vida depois da morte, para afinal compor esta arapuca de frases em busca de um sentido.
Então, vamos tentar ir para o quinto dos infernos.
O procedimento é quase o mesmo que se teve sempre pela vida afora em busca de abstrações como felicidade e justiça, a caminhar por um túnel escuro, a chama de um candeeiro procurando uma janela de luz, a saída, a vista lambendo a escuridão, a platéia, em tudo há uma platéia, debocha em coro, aí, heim, pessoal, lambendo a escuridão, melhor não se preocupar com a platéia, nunca se parou de caminhar em busca de um destino, então seguimos nós, lá adiante deve estar o quinto dos infernos, ouve-se já o ladrar dos cães, mas não, não, o túnel de repente acaba, estamos sob as nuvens, um grande portão, o firmamento é o céu, o mundo sumiu, ouvem-se os tais finos clarins dourados celestiais, abre-se o portão onde os cães ladram conforme a presunção dos poetas e vê-se o paraíso do outro lado do universo, não pode ser aqui o quinto dos infernos, ou aquela mulher que escreveu a Bíblia era mesmo a primeira grande comediante da história.
Caminho errado. Um anjo, apiedado como ele só, chega-se a nós para avisar, em gestos suaves e palavras doces, que o quinto dos infernos fica lá embaixo, de onde nós viemos, basta dar meia volta e descer o túnel escuro, não precisa nem de candeeiro, pronto, voilá, estamos de volta ao mundo, ao noticiário do meio dia, a esta cadeira desconfortável, a este teclado sem contestador, a este truque de exatas 350 palavras.

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