quarta-feira, 30 de setembro de 2009

One note samba

Descobri no rastro de um post no Noblat hoje de manhã.
A rainha de Los Grandes.
Música pura na língua de todos, esta mesma que temos dentro da boca.

Esta semana vamos enfrentar os imperadores do Norte pela indicação da cidade sede das Olimpíadas de 2016.
Para ela, ou melhor, Ella, temos Elis.
Para Jordan, temos Pelé.
Para Obama, Lula.
E para Chicago, temos o Rio.
Vamos mostrar ao mundo que nossos baixinhos são melhores que os altinhos deles.

http://www.youtube.com/watch?v=PbL9vr4Q2LU&feature=player_embedded

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Big brotherzinho

Cooptação política de jornalistas venais sempre foi o método preferido de políticos carreiristas sem compromissos ideológicos. Antigamente, no tempo dos militares, por exemplo, o poder central comprava empresas jornalísticas inteirinhas, da antena da emissora de tevê aos charutos do redator-chefe, mas agora, talvez por economia, os moços encarregados da lógica política governista têm assestado a mira em colunistas estratégicos para influenciar formadores de opinião. Hoje, com a similaridade cada vez mais estreita entre a ótica nacionalista militar e a postura estatizante de um governo que se pretende social-democrata, parece que o velho método de compra por atacado está de volta.
Um exemplo?
Manchete do portal UOL de agora de manhã:
Lula é visto como herói pelos apoiadores de Zelaya.
O outro lado desta notícia é escandalosamente verdadeiro –ou seja, Lula é visto como um invasor, tanto pelo governo de Honduras como o Departamento de Defesa dos Estados Unidos.
A decisão de manchetear apenas uma tendência do fato, portanto, foi claramente o que se chama de manipulação editorial.
Já há alguns meses quatro das dez maiores empresas de comunicação do País, Globo, Bandeirantes, UOL e Terra, são dedicados porta-voz do Governo Federal em todos os níveis.
Isto sim é que é ditadura, o resto é Honduras...

Um buque de guerra

A maior dificuldade para escritores ficcionistas, depois da criação do argumento e do esqueleto emocional do roteiro, é compor os personagens. A vida real, claro, é a referência principal e o noticiário dos jornais diários a maior fonte de inspiração.
Imaginem, por exemplo, criar um conto realista com um velho aposentado da Marinha nacional, um sargento taifeiro, que tenha passado grande parte da vida realizando pequenos furtos para compensar o salário magro para tantas almas e bocas dependentes, e que tenha sido pego em flagrante, já com mais de 60 anos de idade, furtando duas latas de leite em pó num supermercado, autuado, fichado e despejado numa cela de presídio, e a família tenha ficado lá na favela, com os bicos abertos como filhotes no ninho.
Dramático e instigante, não? Não. Não é imaginação. O cara existe e o fato aconteceu mesmo, ontem, no Rio de Janeiro. E deve estar acontecendo algo parecido agora, em outro canto do país. É. Este é o país, estes somos nós, marinheiros e escritores, e esta é a brava Marinha nacional, a mesma que está comprando submarinos nucleares.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Los grandes

É Clementina cantando com medo as aventuras de seu povo aflito,
é seu Francisco me ensinando que a luta é mesmo comigo.

http://www.youtube.com/watch?v=VyGGQ1ahsI8

Segundona

Alguns pontos anotados no fim-de-semana e nos quais se deveria pensar durante a semana:
-A execução pública de um assaltante, com direito a tevê, tiro na testa e aplausos entusiastas do público presente.
-O que leva a justiça do país mais livre do mundo a prender um cineasta genial por ter transado com uma menina 30 anos atrás?
-Por que um golpista está refestelado em uma embaixada brasileira como se esta fosse um galinheiro e ele um grande pensador refugiado?
-Por que o presidente Lula usou o mesmo mote marqueteiro de George Bush (vamos às compras!) para combater a crise econômica?
-Dilma, como diz seu pai político, ou Vilma, como diz o povo, contratou o marqueteiro de Obama para sua campanha, como se o cós tivesse alguma coisa a ver com as calças.
-Os jornalistas da Rede Globo, todos!, estão superando os imitadores de artistas que a empresa tem no elenco na busca insaciável por emoções fugidias.
-Como o Grêmio conseguiu perder por 2 a 1 um jogo que estava ganhando de 1 a 0 contra um timezinho sem qualquer expressão como o chatíssimo Goiás?

domingo, 27 de setembro de 2009

Sem fumaça

Domingo, sol de calor, céu azul, levanto com vontade de ir à praia. Digo sol de calor porque estou na Bahia, se estivesse no Rio Grande diria sol falso. Faz mais de ano que não vou à praia, pelo menos de sunga e com intenção de mergulhar. Deve ser a vida nova que a medicina prevê para a gente quando se larga o cigarro. Deve ser. Parece que de fato estou mais disposto, mas a desconfiança com o mundo mau continua a mesma. Não vou à praia.
Ontem, tive dose suficiente de contato externo. Não houve futebol aqui em casa, mas manteve-se o encontro semanal de velhos companheiros de máquina de escrever e de desatinos ideológicos. Convocado com elegância e intimado com severidade, fui a um restaurante na Boca do Rio para degustar rabada com pirão de leite e me deliciar com o debate político em mesa de veteranos jornalistas independentes de repente trajando vistosas bandeiras partidárias.
Em meio a golpes de alfinetes afiados e sorrisos debochados, percebi que aquela mesinha de falastrões risonhos reunia em torno desta voz anarquista solitária um assessor do Prefeito (PMDB), dois assessores do governador (PT) e um assessor do candidato adversário (DEM). Todos pensadores liberais progressistas e que não se entendem quanto aos mais simples conceitos de democracia.
Voltei para casa com um sorriso pregado no rosto e chupando uma balinha de menta dissimuladora, com a certeza de que as incoerências políticas não são decisivas nem tem qualquer importância para relacionamentos de amizade. Mar de Piatã e Itapuã verde clarinho como uma esperança tímida. Não tem Lula no mundo que perturbe a realidade da vida. Esta ninguém tasca, a gente viu primeiro.

sábado, 26 de setembro de 2009

Kung Davi

Sensacional flagrante feito pelo tio Mano do pódio da premiação do campeonato infantil de judô em Porto Alegre. A foto é sensacional porque mostra em primeiro plano meu neto Davi já com a medalha no peito e pronto para ouvir o hino nacional.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Os maiorais e o maioral

O presidente Lula estava indo tão bem nas aparições internacionais. Respeitado pelo desempenho da economia brasileira, pela consolidação do processo democrático e pela postura ideológica em favor dos povos menos favorecidos, Lula estava, como se dizia antigamente, dando cartas e jogando de mão em mesa de profissionais calculistas como Obama, Sarkosy e Berlusconi. Beleza.
Mas de repente, sem mais nem porque, sabe-se lá por que cargas d’água, Lula resolveu interferir em Honduras, uma pequena República centro-americana com mínimas relações comerciais e culturais com o Brasil. A foto que ontem era brilhante, hoje amanheceu esmaecida. Lula, ao que parece, usou aquela velha idéia política de que para resolver um problema, nada melhor do que outro problema. Zelaya na Embaixada brasileira em Honduras é o bode na sala. Agora, segundo a lógica do marketing, basta tirar o bode da sala.
O prestígio internacional brasileiro já se esfuma como surgiu, na poeira do tempo, e aqui no quintal, fora o assombro da população com a expectativa de o Brasil se envolver em um conflito internacional, já floresce mais desarranjos políticos partidários do que Maria-sem-vergonhas e para alvoroçar ainda mais o cenário se sabe que dois caças franceses Rafale, do tipo que estamos comprando por bilhões de dólares, caíram no mar em simples manobras de exibição.
Ainda bem que nada temos a ver com o fato de uma sonda indiana ter descoberto água em mais de 60 por cento do solo lunar. Se não já estaríamos lendo um comunicado oficial da Presidência da República de que Lula não sabia de nada, é tudo mentira até que se prove o contrário, mas a Petrobrás já estaria estudando uma maneira de prospectar a água lunar, engarrafar e distribuir ao sofrido povo nordestino, porque nunca neste país o povo teve oportunidade de tomar água da lua e blá, blá, blá.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Manicomial

Em homenagem ao primeiro dia da primavera neste ano de vácuo nacional em que o país parece estar despressurizando aos poucos, relacionamos (eu e eu mesmo) alguns fatos correntes do noticiário diário. Então, as flores da primavera ao vivo nesta quarta-feira 23:
-um golpista centro-americano invadiu a embaixada brasileira em Honduras e garante que “daqui não saio, daqui ninguém me tira”.
-o governador do Mato Grosso do Sul diz que o ministro do Meio Ambiente é veado e que poderia estuprá-lo.
-O filho do senador José Sarney afirma que nomeia quem quiser para o Senado.
-o ex-deputado federal cassado por corrupção José Dirceu indica diretor da Petrobrás e ministro do Supremo e critica pesquisas eleitorais desfavoráveis à sua candidata.
-O boxeador Acelino Freitas, o Popó, é acusado de mandar matar o namorado da sobrinha e se candidata a deputado federal.
-O ex-deputado Hildebrando da motosserra diz que foi um correligionário seu quem cortou braços e pernas, furou os olhos e cravou um prego na testa de um suposto inimigo.
-O crime organizado na Bahia não admite mais prisões pela Polícia Civil e queima ônibus urbanos como forma de retaliação.
Se o governo democrata-nacionalista mandar cercar o país nesta adorável primavera, finalmente seremos o que sempre fomos, ou seja, um horto no hospício.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Ignorância na Web

A atriz Dirce Migliaccio morreu hoje, no Rio de Janeiro, em um hospital público municipal. Era um dos grandes nomes do cinema nacional, com passagem obrigatória, por questões de desequilíbrio comercial do mercado cinematográfico nacional, pela dramaturgia televisiva -ou a indústria noveleira que estraçalhou a arte da interpretação no Brasil. A prova deste descalabro crítico está no textinho biográfico da UOL sobre a trajetória profissional da atriz, onde o desinformado redator destaca a atuação da veterana atriz como Emília, no original do Sítio do Pica-Pau Amarelo, um papel humorístico para uma novela de Dias Gomes e o fato de ser irmã de um ator da novela Caminho das Índias! A perfomance de Dirce no Assalto ao Trem Pagador, o maior filme da história do cinema nacional, com atuações históricas de Átila Iório, Grande Otelo e Reginaldo Farias, não foi sequer citada. E olha que nessas redações de hoje em dia tem até ombudsman. Para quê?

Toada nordestina

Novas pesquisas eleitorais indicam que embolou de vez a disputa para ver quem vai para o segundo turno com José Serra. Ciro e Marina crescem, Dilma murcha, ou melhor, bufa com o favoritismo contestado. Ainda tem muito tempo pela frente, os barra-bravas do PT consideram cedo para puxar o presidente e avisar “gorgulho deu no feijão, colega”, muitos esperam por uma reviravolta, embora nem o milagreiro pré-sal tenha funcionado, e talvez, na verdade dos fatos, já passe da hora de anunciar, isto sim, que “mofo deu na farinha”.

Nada vele nada

Está enganado quem imagina que haja uma mudança fundamental, um avanço irreversível no judiciário nacional, com a indicação do advogado José Dias Toffoli para ministro do Supemo Tribunal de Justiça. Apenas sai um coroa, por morte, e entra um garotão, por esperteza. Os dois nasceram e cresceram no mesmo berço ideológico, o fundamentalismo católico de extrema-direita. O morto combatia o uso de células-tronco na medicina, o esperto advoga em favor de criminosos torturadores do tempo da ditadura militar. O presidente Lula, como sempre, está coberto de razão ao dizer que tudo que a oposição diz sobre o caso é “bobagem”.

domingo, 20 de setembro de 2009

Modelo de façanha

Hoje é dia de revolução. Vinte de setembro. Dia de lembrar a guerra dos gaúchos contra os brasileiros. Dia de reverenciar a luta do Rio Grande para ver-se livre do Império do Brasil. Uma guerra que durou dez anos e deixou mais de dez mil mortos. O Rio Grande perdeu e o Brasil venceu, embora algumas almas desencarnadas acreditem que o combate ainda não acabou.
A Guerra dos Farrapos não tem nada a ver, como pensam alguns débeis mentais de lá e de cá, com tradicionalismo nativista dos grupos folclóricos que cultuam bombacha, churrasco e gaita como expressão cultural. A revolução farroupilha foi um movimento separatista, de luta armada pela independência e liberdade do povo gaúcho em relação ao governo imperialista nacional. Não foi um passeio no bosque nem um convescote político. Foi uma luta em nome da vida e valia a morte.
Lembre-se dos farroupilhas hoje, eles merecem. Os farroupilhas foram os primeiros governantes de uma Nação de direito que nunca chegou a existir de fato. Um país que continua plantado no imaginário popular. Como uma semente de realidade.

sábado, 19 de setembro de 2009

Vanerão axé

Pobre Rio Grande, triste Bahia.
Não bastasse a chuva e a incompetência do governo, a terra da liberdade viu-se obrigada ontem a suportar a visita sarcástica do presidente da República. Fiel ao estilo dúbio e à desfaçatez das opiniões, Lula preferiu se escudar na lei pra não dizer o que pensa sobre a sucessão do governo gaúcho. O presidente foi incapaz de afirmar apoio a Tarso Genro e ainda deixou escapar nas entrelinhas do seu discurso tatibitate que pode apoiar uma candidata ao governo do Estado, que quer dizer, claro, Maria do Rosário, para perder, claro, para José Fogaça.
Lula, desta vez sem ofender diretamente a todos os gaúchos, como costuma fazer de vez em quando, mas apenas aos pobres crentes ingênuos do Partido dos Trabalhadores, insinuou no seu palavreado de duas caras que prefere candidatos alinhados com o partido de seu bolso e coração, o PTMDB.
Na Bahia, antítese espiritual, política e cultural do Rio Grande, a situação é a mesma. Sugiro, com a humildade do sol que acaba de bater em minha janela, que Tarso Genro e Jacques Wagner apóiem outro candidato ou candidata que não seja a favorita do Planalto, a guerrilheira manequim do diploma fajuto em favor dos interesses do capital internacional. O motivo? O País está ficando para trás no que interessa diretamente à massa da população, a Educação e a Saúde. Antes dos jatos supersônicos e dos submarinos nucleares, talvez fosse razoável alfabetizar o seu João e garantir atendimento médico para dona Maria.

Eleitoooooraaaiiisss

Ciro Gomes está desde ontem à noite estrelando a capa do maior portal de notícias do País, com sorriso de serial-killer sedutor. O destemperado mais simpático da classe política nacional descobriu agora que é mais provável se eleger presidente da República do que governador de São Paulo. Nada demais, todo mundo sabe disso. Ciro ainda acredita que Lula pode mudar e desistir da candidatura de Dilma. Difícil, talvez impossível, ninguém confia em ninguém em política.
Então, também inspirado nos raios de sol deste sábado baiano primaveril, eu sugiro ao bravo paulista cearense que se candidate ao hipotético cargo de Presidente do Mundo. Pelo menos no quisito Primeira-Dama, ele levaria grande vantagem, só perdendo para Nicolai Sarkosy. A vitória viria se o francês, docemente respaldado na sua primeira-dama, resolvesse concorrer, com folga, a Presidência da Via Látea, de olho no trono de Deus, claro, pois a Virgem Santa já está ao seu lado.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Isto é ela




Pra dar outro toque lateral na realidade da vida, sem querer brigar com deus, afinal a primavera já veste cores e luzes de fantasia, mas vejam e ouçam isto.


Realmente tinha algum sentido ser apenas um sabiá e cantar bem ou mal de acordo com o alpiste que me era servido.



terça-feira, 15 de setembro de 2009

Laralaralaralá

Só para dar um toque de realidade nesta manhã de primavera.

http://www.youtube.com/watch?v=S_VhxSagVpE

Era isso que a gente cantava em 76, 77, enquanto esperava -e fazia- a hora de construir um novo país, mais justo, livre e feliz, longe dos coturnos e dos dólares.

Sempre no coração, haja o que houver...
Veja bem, meu patrão, como pode ser bom,
Você trabalharia no sol e eu tomando banho de mar...
Luto para viver, vivo para morrer,
Enquanto minha morte não vem,
Eu vivo de brigar contra o rei.

Simples assim





Laerte, hoje, na Ilustrada.

A chama da batalha



Excepcional flagrante de Daniel Marenco, da Zero Hora para a capa da Folha de S. Paulo de hoje.

A governadora Yeda Crusius, tal qual na vida real, aparece encoberta pelas chamas na cerimônia de abertura da Semana Faroupilha, no Rio Grande.

Yeda, como se sabe, é alvo prioritário do PT gaúcho na luta pelo poder na terra da liberdade.

A letra da lei

O Governo Federal, ou melhor ou pior, o presidente Lula está em uma cruzada diabólica para arrecadar mais dinheiro para sustentar seus planos políticos eleitorais. Li agora a pouco na Folha que foi criado um imposto para toda a cadeia produtiva do mercado livreiro. O Governo diz que o dinheiro vai ser usado em programas de incentivo à literatura.
A notícia saiu na Ilustrada e não na página de Polícia.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Só pra você

O moreno inzoneiro apresentador esportivo da TV Globo anunciou aos quatro ventos e sete mares que a Bahia faria grandes festas para saudar a muy leal e valorosa seleção brasileira de futebol. Durante o jogo com o Chile, o ladino apresentador notou que só a torcida adversária incentivava sua seleção, mas não teve coragem de falar sobre o silêncio perturbador dos baianos.
A realidade da vida mostrou ao mulatinho platinado que nem tudo neste país acontece de acordo com os altruísticos interesses do Departamento Comercial da grande rede de comunicação nacional. Às vezes, como se sabe, é preciso combinar com o povo.
De ontem à noite para hoje de manhã, por exemplo, bandidos atacaram módulos policiais e queimaram mais três ônibus, na guerra aberta entre traficantes e militares que já dura quatro dias na Terra da Felicidade.
Agora de manhã, quinta-feira, os gloriosos jogadores e jornalistas esportivos já foram todos embora, os baianos ficaram cuidando dos ferimentos e do conserto das trincheiras, com a certeza de que a vida real não passa na televisão.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Dia da Pátria

Sete de setembro, Independência do Brasil.
Sou do tempo da parada da mocidade. No Julinho, recém ginasiano, desfilava na rabeira, longe da banda, invejando os guris do tarol. Todo guri gaúcho é um herói à procura de uma causa, de uma lenda, de uma princesa. Uma banda de música dos anos 60 era como um exército. Os tambores, bumbo, caixa, surdo, tarol, estes eram a infantaria. Os metais a cavalaria. Tumbas e pratos a artilharia. Desfilar no colégio era como ir para a guerra. Eu queria ser da infantaria, aqueles que chegam primeiro na trincheira inimiga. Tudo igualzinho a vida real.
Hoje, vida que passa, estou longe do front, sou platéia, apenas povo.
E foi como povo que vi ontem à noite o pronunciamento do presidente da República e vi agora de manhã as fotos do desfile militar em Brasília.
A idéia dos rapazes que fazem marketing político de Luis Ignácio Lula da Silva era aproveitar o clima de patriotismo, de orgulho nacional, para impor uma tese política desenvolvimentista como base de discussão eleitoral para o futuro do País. Parece que não deu certo. A dose de lorota passou do tolerável. A mídia moitou. Patriotismo, no Brasil, se resume à seleção nacional de futebol e as execuções do hino nacional, este mesmo quando interpretado por uma doida. O povo conhece o país em que vive.
Talvez um ou outro demente não tenha notado as contradições evidentes do textinho mal enjambrado sobre defesa de meio ambiente e exploração de petróleo, mas acho que ninguém deixou de perceber a intenção de um governo transitório, como todos os governos democráticos, de se apoderar das riquezas naturais do país em nome de uma verdade política.
Antes de comprar carro usado na mão desse inusitado vendedor de ilusões, o povo certamente vai pensar, como estou pensando agora, em uma verdade bíblica para ver de fato com quem está tratando. Diga-me com quem andas e te direi quem és é uma bela maneira de reclassificar o honorável e popularíssimo presidente da República. Todos nós sabemos como ele foi eleito e quem estava ao seu lado. E todos nós sabemos como ele governa e quem está ao seu lado. A CUT virou uma central de pelegos. O MST continua levando tiro nas costas. Sarney, Collor, Renan e Jucá são agora os mais legítimos porta-vozes dos interesses políticos de Lula.
O sol sobre Brasília hoje de manhã e os efeitos do tempo na nossa memória não nos impediu de notar o tom pastel estragado na foto oficial da Independência.
Mas não tenho tarol nem quero ouvir Vandré, queria apenas ter orgulho do presidente da República, e não esta desconfiança cada vez mais crescente, já quase irreversível. Talvez fosse bom para minha auto-estima. Pelo menos não dependeria apenas de um texto improvável que de repente brotasse na tela do computador ou da decisão de Dunga nunca mais convocar o Robinho.

sábado, 5 de setembro de 2009

You say yes, i say no

Do jornalista, escritor e deputado federal Fernando Gabeira, na Folha de hoje.

Você diz alô, eu digo adeus

No momento em que o governo faz uma grande festa pelo pré-sal, a revista "Foreign Policy" publica um número sobre o longo adeus do petróleo. É tão grande o impacto festivo que um prefeito de Pernambuco perguntou: já posso contar este mês com o dinheiro do pré-sal? Ao governo interessa desinformar -para isso tem um grande aparato. Mas é fundamental nesse confronto fortalecer algumas teses. A primeira delas é de que o recurso do óleo deveria ser usado para nos libertarmos dele. Parece simples. No entanto, pesquisas indicam que um terço dos royalties são gastos por algumas cidades para aumentar a máquina administrativa. Isso quer dizer dar mais empregos e aumentar o poder dos grupos políticos locais. Fala-se em usar a Noruega como modelo econômico de exploração. Mas nada se fala no modelo de proteção ecológica de lá. O interessante é que o Estado não combinou com os russos, e o modelo talvez não seja atrativo para empresas. A Petrobras cuida de quase tudo, drenando imensos recursos que poderiam se voltar para a energia renovável. O importante é que houve uma grande festa. Alguns, como Sarney, saíram de sua pirâmide para celebrar; outros, como Dilma, de resguardo contra perguntas delicadas, reapareceram protegidos. Já havia legislação e toda uma história do petróleo no país. Mas a pressa em festejar parece maior que a de pesquisar e contabilizar os recursos para saber o que fazer com eles. A diferença entre Obama e Lula em energia está no ministro que escolheram. Lá é um Prêmio Nobel de Física; aqui é o Lobão, que prepara uma nova estatal, para a alegria de netos, filhos e amantes. Fazer um fogo e distribuir espelhinhos foi tática do poder desde a chegada dos portugueses. Caramuru.

Graus de dificuldades

Sábado, oito da manhã. Sol de primavera. De repente nubla. Várias espécies de pássaros ocupam os galhos da mangueira distraída, ainda desfolhada do outono. Um casal de jandaia encima a galharia, parecem leões guardiões de acrópoles, um sofrê saltita nervosinho pra lá e pra cá, um bando daqueles que chamo de bem-te-vi renegados (são parecidos, mas não iguais) e um solitário pica-pau cor de telha animam o cenário.
Então soa a sonosplatia.
Um salão de eventos de Testemunhas de Jeová, a uns 500 metros de distância em linha reta da janela de onde estou, abre os trabalhos do dia por um alto-falante potente o suficiente para trazer algumas frases no lombo do vento e invadir os meus moucos ouvidos: e agora, em oferecimento do apóstolo Antonio Santos, da Congregação do Arraial, ouviremos o sermão 195 pápápá...
Por um instante, só por um instante, tive a impressão que os pássaros estavam me olhando à espera das palavras iluminadas. Só depois, bem depois, percebi que devia ser uma sutil manifestação de disfunção da lógica, ou do armário onde se guardam o bom senso e a desordem e o equilíbrio, tudo na mesma gaveta. Talvez seja dia de faxina.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Olha eu aqui

Muito bom o horário eleitoral do PSB ontem à noite em rede nacional.
Ciro Gomes apresentou seu nome ao País como alternativa real a Presidência da República.
Aparentou calma, segurança, bom humor, algo além de uma moderna direção de arte no filmete, e passou claramente a idéia de que é a melhor continuidade possível do governo Lula.
A frase final, dizendo que o cafezinho estava gostoso, mostra que o cara-de-calango mais simpático do País está cheio de apetite.

Em nome de deus

A Folha ilustra sua capa de hoje com uma foto que mostra a ministra Dilma Rousseff cercada pelo senador Crivela, o apóstolo Hernandes, a bispa Sônia e outros próceres evangélicos em uma oração coletiva pela saúde da candidata e a vitória na próxima campanha eleitoral.
Os auto-denominados apóstolo e bispa são aqueles mesmos presos nos Estados Unidos por contrabando e lavagem de dinheiro. Marcelo Crivela todo mundo sabe quem é.
Qual a necessidade política de Dilma se submeter a uma cena dessas, na saída do Planalto?
Talvez a ministra-candidata conquistasse mais votos pelo país afora se tivesse dado voz de prisão para estes criminosos exploradores do espírito religioso do povo brasileiro.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Cara e pinta de palhaço



Artistas do Grupoo Tholl, em foto de Nauro Júnior para a Zero Hora.

Os palhaços trocaram a alegria pela tristeza.

O grupo Tholl, o cirque de soleil da Princesa do Sul, é hoje um dos mais importantes grupos de dança do País, com espetáculos que encantam gerações, como dizem os amantes da arte circense. Eu estive em Pelotas no ano passado e assisti uma apresentação do Tholl no Theatro Guarany. Pareceu-me um trabalho de alta qualidade profissional, criatividade e desempenho a serviço da cultura. Meus companheiros de trabalho à época são testemunhas. Lá estávamos eu, gaúcho baiano, Zé Luís, da Fábrika Filmes, Mauro Assis, da Funyl de Brasília, Serginho Raposo, da África para o mundo, André Geniski, da Europa para Pelotas, e Amilton Coelho e Bruce, dupla de publicitários do tipo não-gosto-de-coisa-nenhuma. Gente com muita quilometragem por todas as BRs do planeta e que ficou gratificada com o show oferecido pelos artistas do Tholl em uma pequena cidade num canto distante do país, longe demais das capitais e de nossas próprias expectativas culturais para uma noite de sábado nas franjas geladas do pampa gaúcho.
Pois li agora no site da Zero Hora que o Tholl terá de deixar Pelotas. Não há um lugar adequado para o grupo se exercitar. A Universidade Federal de Pelotas e a Prefeitura Municipal não se entendem quanto à utilização de prédios públicos abandonados pela cidade e este mal-entendido administrativo está enxotando os artistas do Tholl de sua terra. Isto, claro, é uma estupidez. Uma infâmia de quem não tem compromisso cultural nenhum com sua terra nem muito menos com o desenvolvimento sócio-econômico de sua própria cidade.
Espero que desta vez o povo de Pelotas saiba o quê está perdendo.
Ou que pelo menos saiba que está perdendo. De novo.

Vox Poppuli

Premonições incorretas e sentimentos imperfeitos sobre o noticiário geral:
-Jornal Nacional aprova indicação de Lula para candidato a deus.
-Dilma não será Lara no remake de Doctor Jivago.
-Marina Silva tentará esverdear um país vermelho de esperança e preto de raiva.
-O acadêmico Collor de Melo vai, enfim, publicar seu primeiro livro, Eu Comi a Uva.
-Felipe Massa não voltará a correr na Fórmula 1, está na cara.
-O Grêmio chegará no G4, o Bahia não, e o Inter será campeão.
-García Márquez continuará a vivir para contarla.
-Saramago continuará contando para viver.
-Lula vai dar a Bahia e o Pará ao PMDB em troca do que ele já tem, os votos do povo.
-Vanuza vai cantar Boi da Cara Preta na convenção anual do MST.
-O bebê de Ivete Sangalo não será homem nem mulher, será apenas baiano.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Reflexos do baile

Saramago desistiu do blog.
Lula lançou um blog –ou coisa parecida.
Saramago diz que vai voltar a escrever a sério –ou coisa parecida.
Lula não disse coisa parecida. Ele apenas acha que deus é brasileiro e chama-se Lula.
Saramago saca o revólver quando ouve falar em deus.
Lula saca o revólver quando ouve falar em oposição.
Eu não sou nem um nem outro, embora seja fisicamente parecido com o líder operário pelego e tente em todos os formatos escrever ao menos tecnicamente parecido com o mestre literário comunista, mas penso em parar de vez com este blogzinho desconectado do mercado e demasiado sobressaltado com a tal de realidade da vida.
Descobri hoje, na Folha, que os hipertensos, meu caso, são mais suscetíveis de ficar dementes na velhice. Ainda não sou velho, fumo, jogo bola, escrevo, observo pássaros, tomo café preto com leite e açúcar e adoro pão com goiabada, coisa de menino, mas ando muito desconfiado com a memória e o vernáculo. Além do mais, tenho de dar um jeito de ganhar a vida. A mesma vida que Saramago descreve tão bem e que Lula sapateia em cima como um tiranozinho de meia tijela.