domingo, 27 de setembro de 2009

Sem fumaça

Domingo, sol de calor, céu azul, levanto com vontade de ir à praia. Digo sol de calor porque estou na Bahia, se estivesse no Rio Grande diria sol falso. Faz mais de ano que não vou à praia, pelo menos de sunga e com intenção de mergulhar. Deve ser a vida nova que a medicina prevê para a gente quando se larga o cigarro. Deve ser. Parece que de fato estou mais disposto, mas a desconfiança com o mundo mau continua a mesma. Não vou à praia.
Ontem, tive dose suficiente de contato externo. Não houve futebol aqui em casa, mas manteve-se o encontro semanal de velhos companheiros de máquina de escrever e de desatinos ideológicos. Convocado com elegância e intimado com severidade, fui a um restaurante na Boca do Rio para degustar rabada com pirão de leite e me deliciar com o debate político em mesa de veteranos jornalistas independentes de repente trajando vistosas bandeiras partidárias.
Em meio a golpes de alfinetes afiados e sorrisos debochados, percebi que aquela mesinha de falastrões risonhos reunia em torno desta voz anarquista solitária um assessor do Prefeito (PMDB), dois assessores do governador (PT) e um assessor do candidato adversário (DEM). Todos pensadores liberais progressistas e que não se entendem quanto aos mais simples conceitos de democracia.
Voltei para casa com um sorriso pregado no rosto e chupando uma balinha de menta dissimuladora, com a certeza de que as incoerências políticas não são decisivas nem tem qualquer importância para relacionamentos de amizade. Mar de Piatã e Itapuã verde clarinho como uma esperança tímida. Não tem Lula no mundo que perturbe a realidade da vida. Esta ninguém tasca, a gente viu primeiro.

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