Sábado, oito da manhã. Sol de primavera. De repente nubla. Várias espécies de pássaros ocupam os galhos da mangueira distraída, ainda desfolhada do outono. Um casal de jandaia encima a galharia, parecem leões guardiões de acrópoles, um sofrê saltita nervosinho pra lá e pra cá, um bando daqueles que chamo de bem-te-vi renegados (são parecidos, mas não iguais) e um solitário pica-pau cor de telha animam o cenário.
Então soa a sonosplatia.
Um salão de eventos de Testemunhas de Jeová, a uns 500 metros de distância em linha reta da janela de onde estou, abre os trabalhos do dia por um alto-falante potente o suficiente para trazer algumas frases no lombo do vento e invadir os meus moucos ouvidos: e agora, em oferecimento do apóstolo Antonio Santos, da Congregação do Arraial, ouviremos o sermão 195 pápápá...
Por um instante, só por um instante, tive a impressão que os pássaros estavam me olhando à espera das palavras iluminadas. Só depois, bem depois, percebi que devia ser uma sutil manifestação de disfunção da lógica, ou do armário onde se guardam o bom senso e a desordem e o equilíbrio, tudo na mesma gaveta. Talvez seja dia de faxina.
sábado, 5 de setembro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário