sábado, 5 de setembro de 2009

Graus de dificuldades

Sábado, oito da manhã. Sol de primavera. De repente nubla. Várias espécies de pássaros ocupam os galhos da mangueira distraída, ainda desfolhada do outono. Um casal de jandaia encima a galharia, parecem leões guardiões de acrópoles, um sofrê saltita nervosinho pra lá e pra cá, um bando daqueles que chamo de bem-te-vi renegados (são parecidos, mas não iguais) e um solitário pica-pau cor de telha animam o cenário.
Então soa a sonosplatia.
Um salão de eventos de Testemunhas de Jeová, a uns 500 metros de distância em linha reta da janela de onde estou, abre os trabalhos do dia por um alto-falante potente o suficiente para trazer algumas frases no lombo do vento e invadir os meus moucos ouvidos: e agora, em oferecimento do apóstolo Antonio Santos, da Congregação do Arraial, ouviremos o sermão 195 pápápá...
Por um instante, só por um instante, tive a impressão que os pássaros estavam me olhando à espera das palavras iluminadas. Só depois, bem depois, percebi que devia ser uma sutil manifestação de disfunção da lógica, ou do armário onde se guardam o bom senso e a desordem e o equilíbrio, tudo na mesma gaveta. Talvez seja dia de faxina.

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