segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Dia da Pátria

Sete de setembro, Independência do Brasil.
Sou do tempo da parada da mocidade. No Julinho, recém ginasiano, desfilava na rabeira, longe da banda, invejando os guris do tarol. Todo guri gaúcho é um herói à procura de uma causa, de uma lenda, de uma princesa. Uma banda de música dos anos 60 era como um exército. Os tambores, bumbo, caixa, surdo, tarol, estes eram a infantaria. Os metais a cavalaria. Tumbas e pratos a artilharia. Desfilar no colégio era como ir para a guerra. Eu queria ser da infantaria, aqueles que chegam primeiro na trincheira inimiga. Tudo igualzinho a vida real.
Hoje, vida que passa, estou longe do front, sou platéia, apenas povo.
E foi como povo que vi ontem à noite o pronunciamento do presidente da República e vi agora de manhã as fotos do desfile militar em Brasília.
A idéia dos rapazes que fazem marketing político de Luis Ignácio Lula da Silva era aproveitar o clima de patriotismo, de orgulho nacional, para impor uma tese política desenvolvimentista como base de discussão eleitoral para o futuro do País. Parece que não deu certo. A dose de lorota passou do tolerável. A mídia moitou. Patriotismo, no Brasil, se resume à seleção nacional de futebol e as execuções do hino nacional, este mesmo quando interpretado por uma doida. O povo conhece o país em que vive.
Talvez um ou outro demente não tenha notado as contradições evidentes do textinho mal enjambrado sobre defesa de meio ambiente e exploração de petróleo, mas acho que ninguém deixou de perceber a intenção de um governo transitório, como todos os governos democráticos, de se apoderar das riquezas naturais do país em nome de uma verdade política.
Antes de comprar carro usado na mão desse inusitado vendedor de ilusões, o povo certamente vai pensar, como estou pensando agora, em uma verdade bíblica para ver de fato com quem está tratando. Diga-me com quem andas e te direi quem és é uma bela maneira de reclassificar o honorável e popularíssimo presidente da República. Todos nós sabemos como ele foi eleito e quem estava ao seu lado. E todos nós sabemos como ele governa e quem está ao seu lado. A CUT virou uma central de pelegos. O MST continua levando tiro nas costas. Sarney, Collor, Renan e Jucá são agora os mais legítimos porta-vozes dos interesses políticos de Lula.
O sol sobre Brasília hoje de manhã e os efeitos do tempo na nossa memória não nos impediu de notar o tom pastel estragado na foto oficial da Independência.
Mas não tenho tarol nem quero ouvir Vandré, queria apenas ter orgulho do presidente da República, e não esta desconfiança cada vez mais crescente, já quase irreversível. Talvez fosse bom para minha auto-estima. Pelo menos não dependeria apenas de um texto improvável que de repente brotasse na tela do computador ou da decisão de Dunga nunca mais convocar o Robinho.

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