segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A Brasília amarela

Começa o novo ano. O céu da Bahia está lindo. Como sempre. O sol é doce e implacável. Como a vida.
Em um cenário de bem-te-vi destroçando filhote de calango a golpes de bico num galho de goiabeira e um pica-pau matraqueando uma manga de vez, estou tentando entender qual a relação entre a foto inimaginável de um velho conhecido conduzido ao camburão acusado de um crime hediondo e indefensável e algumas moedas que surgem no fundo do prato de ração dos gatos da casa sem qualquer explicação plausível e um sapo distraído que se instalou em cima do chuveiro do banheiro e os golpes do refluxo em meu esôfago como se tivessem a firme determinação de me levar à morte.
Nada a fazer. Vive-se sob a ditadura do bom senso e da felicidade. Aliás, vive-se no País das Maravilhas.
Minha contribuição em favor deste início de ano que se anuncia nos reclames oficiais como melhor ano de nossa vida é apoiar, em definitivo, sem mais quaisquer outras considerações, o programa de direitos humanos sancionado pelo presidente da República. E também sugerir a derrubada de todas as estátuas públicas de símbolos religiosos, a exemplo do Cristo Redentor, dos apóstolos de Aleijadinho, do Padim Ciço e outras de menor expressão pública, mas com o mesmo poder conspurcável para futuras gerações do País das Maravilhas.
Também poderia sugerir alguns nomes de personalidades para substituir os atuais monstrengos de seitas católicas, mas creio que este deva ser o principal objeto da ampla discussão entre a sociedade civil organizada sob os auspícios do Governo Federal e sua estranha democracia de “caráter discriminatório”. Além do fato claro e glorioso de que só haverá um nome primeiro e único para moldar todas as estátuas do País.
Então, a seguir, por uma questão de equilíbrio psíquico, é melhor pensar em outra coisa.
Como céu e sol.

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