sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O buraco é mais embaixo

A legenda do Estadão para a foto de J.D. Salinger na capa de hoje é exata, morre o arredio.
O escritor de um único grande romance começou a se afastar da sociedade logo após ter escancarado às portas do último andar. Ele sabia escrever, isso é único, tanto para ele quanto para todos os outros. Salinger, que trocou de mulher a cada década, e nunca permitiu que nenhuma delas falasse sobre a sua vida dele, considerava Hemingway um escritor de segunda categoria, e Hemingway era um gênio, inigualável na arte de descrever o nada do cotidiano, o bucolismo do amanhecer no campo, a melancolia neurótica da solidão, essas coisas que às vezes acabam com um cano de espingarda enfiado na boca. Salinger desprezava a tal mídia de comunicação porque sabia que celebridades são como a purpurina capilar da realidade, só a arte é eterna, as pessoas morrem.
O que o senhor tem a ver com isso? Nada, isto é apenas para lembrar que não se deve acreditar em algo dito ou feito por alguém, artista ou não, que seja subsidiado por brasões governamentais ou instituições sociais. Celebridade boa é celebridade invisível.

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