sábado, 3 de janeiro de 2009

A herança

O artigo do professor Demétrio Magnoli na Veja deste fim de semana está reverberando na consciência política nacional. O raciocínio do professor é claro, objetivo, firme e seguro, quase indefensável para os goleiros de plantão. Mas aqui da arquibancada, da antiga geral, pode-se ver, sem a necessidade de uso de binóculos acadêmicos, basta a luz da realidade, que a herança da passagem de Luis Inácio Lula da Silva está muito longe de ser apenas uma questão de identidade racial. Depois de separar os prós e os contras, o joio do trigo, a ficção da realidade e o truque da magia, talvez algum iluminado observador independente da real cena política nacional consiga decifrar o que haverá dentro da caixinha preta quando Lula não for mais Presidente. Por enquanto, o que há são apenas especulações, sejam elas intelectualizadas e comprometidas ou não. Permitam-me, pois, também especular um pouco.

O Brasil com Lula, ficou mais forte e respeitável, e os brasileiros mais confiantes e competitivos, mesmo que se considere isso como uma evolução geopolítica econômica natural, digamos assim, são fatos, não tem peneira para este sol. A imposição do branco e do negro em detrimento do brasileiro tem tanta chance de dar certo quanto o projeto Fome Zero. Não somos mais iguais, nada houve de estrutural no País além das cotas para negros nas Universidades. No máximo, e isso aceitando como pelo menos ilustrativo os exercícios publicitários da propaganda oficial, nós estamos menos diferentes. A conversa do doutor, com interesses escusos norte-americanos no meio do papo, tem jeito de paranóia da conspiração.

Mas e as heranças deixadas pelos outros presidentes? O professor esqueceu de traçar uma linha comparativa para que o pobre leitor analfabeto e desmemoriado possa enfim saber se afinal o tal legado é mais interessante ou não para o Brasil e os brasileiros. O que Vargas, por exemplo e pela ordem, legou ao Brasil? A maioridade como Nação e a primeira identidade legal a todos os mulatos inzoneiros talvez seja uma resposta razoável. E Juscelino? Yes, we can. João Goulart? A consciência política e um sabor de chocolate. E os militares, todos juntos e incluídos, o que fizeram por este país e por nós? A segunda identidade legal, Delfim Neto e seu olhar de Kombi.a megalomaníaca faraônica, a consolidação do credo ao Papai Noel, o oficialismo na mídia de comunicação e a subserviência ao capital estrangeiro. O senhor José Sarney? Uma inflação de 80% ao mês. Collor? A noção pública do estelionato eleitoral. Itamar? A certeza de que as moças não usam calcinhas nos camarotes da Sapucaí. Fernando Henrique Cardoso? A mania de grandeza só para os ricos, a importância de mestrado e doutorado para garantir bom emprego e, vá lá, um pontapé na bunda da inflação.
E assim chegamos de volta a Lula e o seu legado. Talvez ainda seja muito cedo para se discutir isso, mas é melhor começar a editar um banco de dados. O fim do preconceito, o que talvez fosse uma das maiores esperanças de todos nós, pelo jeito não estará no testamento presidencial. O preconceito ainda é um mal arraigado na sociedade brasileira e agora mesmo está brilhando intensamente no artigo do professor...

Um comentário:

Tania Celidonio disse...

Antonio, parabéns pelo blog e pelos temas. Também comecei o meu, quando tiver um tempo dê uma olhada, ok?
um beijo e ótimo 2009 pra você.