terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O dilema da gauche

A esquerda do caviar, como os franceses chamam os antigos marxistas que desfrutam hoje dos honrosos benefícios de uma ideologia neo-socialista liberal globalizada, se isso existir, claro, está com as barbas de molho.
A questão não é considerar Cesare Battisti um guerrilheiro ou um terrorista, um assassino ou um revolucionário, mas sim definir claramente os argumentos do Governo brasileiro para conceder refúgio político a um cidadão julgado, condenado e procurado por uma República democrática.
Nos anos 70, época de absoluta intolerância política em um mundo dividido entre ditadores e salvadores-da-pátria, a esquerda brasileira, que então abominava caviar, idolatrava as façanhas do grupo guerrilheiro italiano Brigatti Rossi, do qual pontificava o braço executor do grupelho comandado por Battisti –ele e mais dois contra a lógica política, a Polícia e o exército italiano. As Brigadas Vermelhas, de Renato Curcio, e o grupo alemão Badder-Meinhof, do lendário casal Andreas e Ulrich, eram, sim senhor, os heróis de estudantes, operários e intelectuais politizados de todo o Brasil. Eram os heróis de todos nós. Meus e seus, certamente, e dos então militantes Tarso, Dilma, Dirceu, e até de Lula, por que não?, sindicalistas alienados também são românticos... Mas e agora, Nana, Naninha, o que fazer com este heroizinho contaminado que quer se esconder no fundo da casa da gente?
O ministro da Justiça apelou para os mais nobres sentimentos patrióticos ao invocar a soberania nacional para justificar a controversa decisão. É pouco. Hoje já tem gente graúda, como juristas e professores doutores, afirmando que a decisão soberana representa, na verdade, um arroubo autoritário contra a importância da cooperação internacional e dos valores humanitários.

Talvez seja o caso de chamar um barbeiro. Pode ser que esteja chegando a hora de raspar a barbinha... Eu vou continuar com a minha. Afinal, prefiro foie-gras.

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