quinta-feira, 30 de abril de 2009

Diário da Aldeia

Abri a Internet de manhã cedo, olhei a capa da UOL e imediatamente desloiguei o computador. Como se sabe, antes das nove da manhã é muito, muito perigoso se contrariar, como diz minha mãe.
Voltei agora e a capinha escrota continua no ar.
No tempo em que havia jornalismo, em que os jornais tinham que respeitar certa hierarquia de importância dos fatos, em que os jornalistas sabiam discernir entre farsa e realidade, em que os interesses comerciais e políticos NÃO se sobrepunham aos conceitos editoriais, nesse tempo não se levava uma bofetada na consciência ao olhar as capas dos jornais.
Pois hoje, na metade alta da capa da Uol –como de resto acontece em praticamente todos os portais– há uma “notícia” com direito a foto com a seguinte chamada:
Chateada, Miley Cyrus nega que queira voltar com Nick Jones.
Gostaria de saber, sinceramente, se há pelo menos meia dúzia de pessoas entre os 180 milhões de brasileiros que saibam quem são estes dois personagens e o que fazem na vida.
Ah, esqueci de dizer que naquele tempo em que havia jornais e jornalistas, crianças não editavam primeiras páginas. Nem idiotas.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Um piscar de olhos

Dizem que o poder muda a cabeça das pessoas.
Não sei, nunca estive sequer próximo do poder, só me atrevo a pensar assim em voz alta porque estou baseado em fatos. O presidente Lula começou na vida pública como líder sindicalista radical de esquerda. Ontem aconselhou a ministra Dilma a rezar e fez o sinal da cruz diante das câmeras da tevê. A ministra Dilma, questionada dois anos atrás pela Folha sobre se acreditava ou não em Deus titubeou entre “será que há, será que não há”, e hoje não perde um baileco em nome de Jeová ou de Jesus ou de qualquer santo padroeiro de alguma excentricidade.
Talvez o verbo mais exato para este ditado popular sobre o poder seja desatarrachar.
A mentira e a verdade, para políticos profissionais, estão separadas pela mesma distância que limita a realidade da imaginação -um tantinho assim.

Almanaque

Caso os senhores não tenham reparado, maio começa no próximo fim-de-semana, ou melhor, depois de amanhã a meia noite. Maio de 2009. Parece que está passando depressa demais. Isso de tempo, assim como certo e errado, bem e mal, depende muito de se estar virado para onde sopra o vento, claro, mas acho que algo desatou no relógio do sol e a vida desembestou ladeira abaixo. Sugiro, caso haja um divino diretor de cena, que o volante do planeta seja entregue a Rubens Barrichello. Seríamos todos conduzidos com técnica, precisão e segurança, sem muita pressa de chegar...

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Erre de Rei

Nós nunca tivemos um rei, nós tivemos todos os reis.
O rei do futebol. O rei do dó maior com açúcar. O do baião. O da cocada preta. Os reis dos gramados, das pistas, dos ringues, das quadras, dos picadeiros, dos prostíbulos. Do cangaço, da maracutaia, do tráfico de armas e de drogas e de animais e de mulheres e de crianças. Nossos reis são reis de tudo e de nada.
Pois, hoje, nós do País do Futebol amanhecemos súditos outra vez, nos reconhecemos todos súditos. Um súdito só é súdito quando reconhece o rei. Um rei só é rei quando é rei de todos. Como foi Pelé, como é Ronaldo.
Nós sabemos que somos súditos quando vemos o rei correndo em nossa direção, com a alma erriçada, sorriso e braços abertos depois de ter feito algo que nenhum de nós é capaz de fazer, e quando a gente nem sabe direito o que dizer disso tudo.
Viva a Monarquia. E um terceiro mandato para Ronaldo.

domingo, 26 de abril de 2009

Um sábado qualquer




















Flagrante caseiro, na lente Ipod de Pascoal Gomes, numa malfadada tentativa de Velásquez, com este escriba imitando uma anta gorda segurando espelho, o bailarino Sobral refestelado na poltrona, e a dona da casa, Eleonora, a sorrir.

Segue o barco

De sexta-feira para cá, quando este blog esteve em silêncio, aconteceram pelo menos dois fatos de alta relevância na política nacional. A descoberta da farra das passagens aéreas no Congresso e o câncer linfático da ministra candidata a presidente. Para o bem geral da Nação, as duas coisas vão dar em nada, tanto no diagnóstico como na conseqüência. Os deputados e senadores vão continuar se lambuzando em vantagens e a ministra ganhará, quando muito, dois pontinhos no índice de popularidade.

Vida de urso

Estou com problemas técnicos para alimentar o blog. A placa mãe do velho PC de mesa deu os doces, como se diz no Rio Grande. Neste momento estou a navegar no laptop de minha filha caçula como se caminhasse no gelo, é muita tecnologia para quem aprendeu a dedilhar teclas numa velha Olivetti descamisada. Além do mais, ando com uma preguiça inexplicável. Penso que é coisa da Bahia. Acho que o povo baiano, nesta doce e revoltosa figura gaúcha, está prestes a inaugurar uma nova era – a hibernação recomendada. Só para iniciados, claro. Por enquanto.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Um pouco sozinho

Chove como se fosse preciso.
Estamos na Bahia. Aqui quem manda é o sol. Às vezes, a lua. Aqui o suor é sangue, vive-se sob 30 graus, manhã, tarde e noite. Chuva? Nem fazendo reserva na beira da praia.
Em abril e maio, não sei bem porquê, a natureza dá em lavar a terra. Falam em águas de março. Não acredite. Não há informação confiável, muito menos de órgãos públicos e de porta-vozes para explicações técnicas sobre angústias cotidianas nacionais. Melhor nem ouvi-los.
Águas de março titulam a maior obra musical desta terra de tantos requebros, devolteios e assovios. Só. E esse não quer dizer pouco, mas sim muito ou tudo.
A vantagem da chuva, pelo menos aqui neste refúgio, é encher a piscina sem precisar esvaziar o poço. A desvantagem é o sumiço dos passarinhos. Terreno sem passarinho é como música sem harmonia, barco sem rio, romance sem ardil, noite sem dia, início sem fim, samba sem Tom Jobim, talvez apenas um espaço para versejar rimas sobre o nada.
Como se fosse preciso.

Para parar de molhar

Dia de chuva, postado na varanda, sem luz nem telefone, igual vida sem imagem nem texto. Como no escurinho do cinema, bom para pensar loucuras.
Quem sabe um novo romance com personagens de outros romances. Poderia chamar-se Novela. Ema Bovary servindo o jantar para José Arcádio, Blimunda secando as chagas de São João hospitaleiro, Baleia ressonando aos pés de Pedro Páramo, tia Júlia de mãos dadas com Dulcinéia. Escrito em espanhol e no compasso da música do sanfoneiro cego de Amarcord. Enredo de loucura, filosofia e morte.
É. Vai ser difícil chegar ao fim da tarde sem sair caminhando na chuva. Ou melhor, dançando no barro.

Bom dia ao meio dia

Sem Internet, ou com a Internet cacarejando, escrevo posts como se trabalhasse no programa de eletrificação rural. A questão é conseguir fio suficiente para ligar o aqui ao ali.
A notícia do dia parece ser mesmo o fato de Lula viajar mais ao exterior do que Fernando Henrique. O cara já bateu o recorde do professor –com dois anos de lambuja. Números, sejam quais forem, são flores no tapete vermelho de Lula.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Tragédia urbana

Houve um caso de briga de família em Porto Alegre na semana passada que parece uma piada de mau gosto ou um roteiro piegas ou apenas reflexo do absoluto non sense cotidiano de milhares de lares por este Brasil afora.
Um pai atirou num filho porque este exigia dinheiro de qualquer maneira para consumir crak. Ao ver o filho caído ferido, o velho teve um mal súbito e os dois acabaram sendo levados juntos para o hospital. Dois dias depois, pai e filho tiveram alta, mas só o filho voltou para casa, o pai foi autuado em flagrante por tentativa de homicídio e levado para o presídio.
Isso mesmo. É a Lei. Neste momento, o filho está pelas ruas tentando trocar o que resta de sua vida por um punhado de droga e o pai está no presídio, como verdadeiro criminoso.
Um detalhe, entretanto, depõe contra o velho. O filho se chama Charles Bronson. Só podia dar em filme ruim.

Em nome da história

Hoje é dia dedicado a Tiradentes, nosso único herói. A história da colonização e do crescimento do Brasil como Nação não registra outros salvadores da Pátria. Nossos heróis são todos esportistas modernos, Pelé, Senna, Ronaldo. Talvez, por isso, nossa cultura de entretenimento, por exemplo, seja tão diversificada e incipiente. Os Estados Unidos, também por exemplo, fabricaram heróis em série e acabaram inventando a indústria do cinema. Enquanto eles vinham de Búfalo Bill, Daniel Boone, David Crocket, a gente ia de Mazzaropi, Oscarito, Carmen Miranda. Hoje eles têm Obama e a gente tem Lula, quer dizer, agora os nossos heróis estão no poder.

Não fica um, meu irmão







A desbragada utilização de passagens aéreas pelos congressistas como bem convém a qualquer um deles atinge quase que a totalidade da Câmara e do Senado Federal. Na verdade, neste momento, procura-se pelo menos UM político que não confunda seus direitos de eleito com interesses pessoais. Hoje, na manchete da Folha, o presidente da Câmara, Michel Temmer divide os holofotes com o venerável deputado Fernando Gabeira, uma espécie de Madre Teresa de Calcutá da defesa da moral e da ética política. Os dois também foram pegos distribuindo bilhetes como bombom entre os familiares.
Em represália, estou pensando em trocar o nome de meu bravo cachorro Gabeira (foto). Acho que vou começar a chamar o velho Beira como Ahmadinejad, o grande líder fundamentalista muçulmano liberal progressista.
Agora mesmo, neste instante, Beira está lá embaixo, no portão, advertindo os transeuntes para os perigos que correm ao passar por aqui. Já gritei Ahmadinejad, suba!!, mas que nada, ele só me olhou com cara de quem não entendeu e continuou no mesmo lugar, igualzinho aos políticos experientes e matreiros.

domingo, 19 de abril de 2009

Consultoria econômica

Pelo que se percebe no noticiário, o melhor negócio do mundo, hoje, sem dúvida, todavia, contudo, é ter uma ong a serviço da base partidária do Governo Federal. A democracia permite uma elasticidade moral excepcional aos projetos abençoados por canetas oficiais, nem é preciso ser parente nem ter qualquer credenciamento extraordinário, basta fazer tudo de acordo com o figurino. Não sei ainda qual seria a bandeira cultural, social, política ou esportiva de tal ong, mas acho que deveria ser algo tipo lavanderia.
Lavanderia Coco Verde –projeto de capacitação para subir em coqueiro.
Lavanderia Sabiá Laranjeira –programa Assovie Bem.
Lavanderia Bola Boa –projeto para capacitar em firulas, embaixadinhas e cobranças de falta. Lavanderia Sonho Meu –programa de aplicação de goiabada em confeitos caseiros.
E por aí vai.
Tudo em nome da geração de emprego e renda.
Tente. Mande carta do próprio punho para qualquer ministério.

sábado, 18 de abril de 2009

Brrrr...

As águas de março, sempre preguiçosas, afinal chegaram a Bahia. E está esfriando. Hoje fui obrigado a botar uma camiseta. Devem ser os efeitos do aquecimento global. Assim não pode, assim não dá.

O reggae da vez

O governador do Maranhão, Jackson Lago, foi apeado do cargo, mas se recusa a deixar o palácio do governo. Lago é uma das últimas peças de resistência ao poder da família Sarney no paraíso tropical nortista. Ele resiste coberto de razões políticas, ideológicas, econômicas, sociais, etc, afinal são mais de 30 anos de Sarney dominando um Estado estagnado, pobre e contaminado pela exploração política. O problema, para o choroso Lago, é que a sorridente Roseana Sarney ganhou no Supremo Tribunal de Justiça por unanimidade. O bom velhinho vai ter de procurar outro lugar para morar. O povo do Maranhão... bem, o povo do Maranhão já sabe o que vai acontecer.

Alguém duvida?

Tem uma musiquinha na Internet, dessas esculhambando Lula por qualquer motivo, com um bordão safado, Ele era Pobre e Agora é da Zelite. Nada mais verdadeiro. E legítimo. O cara era pobre, agora não é mais, subiu na vida –tem alguém contra isso?
Pra frente é que se anda...
Mas hoje, afinal, chegou à mídia, e portanto aos nossos ouvidos curiosos, a sensacional notícia de que vem aí o Blog do Lula. Agora sim, haverá diversão diária na rede. Dizem que a equipe de assessoria de comunicação está estudando a melhor linguagem. A melhor linguagem para comunicar com o povo, aqui, na Casa Branca e na Lua, sem qualquer pestanejar, é a de Lula. Marqueteiros, antes de tudo, são sujeitos pretenciosos. Mas anote aí, o Blog do Lula vai bater todos os recordes de acesso da Internet.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Pronominal

Estava cá a dedilhar uma notinha sobre a questão da reforma psiquiátrica ou onde vai desembocar a cruzada anti-manicomial no Brasil quando reparei um súbito escurecimento do ambiente. As nuvens negras voltaram, aquelas que cruzam o horizonte da janela como um trem. Tudo bem, basta acender a luz, mas há algo errado, muito errado, porque está ventando no sentido contrário.
Quer dizer, olha eu pensando em loucuras, e as nuvens andando contra o vento!

Não há vagas

Dizem que quando acontece algo muito estranho, bizarro, pode contar que na Bahia tem precedente. Desta vez, no caso do Hospital das Clínicas de São Paulo, acho que será difícil encontrar algo semelhante na Terra da Felicidade, por mais infeliz que seja a realidade local da saúde pública.
O neurocirurgião responsável pela coordenação da equipe médica de atendimento de politraumatismos da emergência do HC mandou um ofício ao Samu e ao Corpo de Bombeiros pedindo que NÃO fossem levados casos graves para o hospital porque já havia superlotação e reinava o caos absoluto.
A Folha de hoje diz que “dezenas de macas no corredor, falta de vagas na UTI, mesas de cirurgias ocupadas por pacientes por falta de leitos nos quartos e fila de espera para a cirurgia de emergência” era o quadro real do Hospital das Clínicas quando o médico decidiu mandar o ofício para o Samu e os Bombeiros.
O que pode acontecer a uma pessoa gravemente ferida se o pronto socorro de emergência não pode atender? Se for pobre, morre. Se for rico, procura uma clínica particular.
A direção do hospital resolveu o problema imediatamente: demitiu o neurocirurgião desumano. Os diretores continuam lá, com sua humanidade às avessas.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Vatapá, nunca mais!

Você já veio à Bahia, nêga? Não? Então não venha.
Tem gente demais. Sem qualquer referência aos governantes, já está saindo pelo ladrão.
Tudo na Bahia se multiplica como milagre bíblico, inclusive a riqueza e a pobreza. Em três décadas, Salvador, São Salvador primeira e única, saltou do sexto para o terceiro lugar entre as grandes cidades e já está colada no retrovisor do Rio de Janeiro. Condomínios de luxo são construídos no mesmo ritmo em que se erguem invasões na periferia. O resultado disso é que quase não dá para andar nas ruas. Passar uma tarde em Itapuã? Melhor ir armado.
Nesta requentada moda de preservar –ou segregar– recursos ambientais, bem que nosso governador candidato a governador de novo poderia mandar construir um muro ao longo dos limites do Recôncavo, por exemplo, e proibir, simplesmente proibir, a entrada de quem não tem nada a fazer aqui, os turistas, e de quem pensa que tem, os retirantes. Os primeiros seriam encaminhados para Aracaju e os segundos para Brasília.
Assim talvez os baianos, e os gaúchos de alma negra, por exemplo, resgatariam o sagrado direito de jogar um flor no colo de uma morena sem o risco de ver a rosa cair em cima dos dólares de um gringo ou da peixeira de um sertanejo.

Lero-lero-lero

O Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, é uma figuraça.
Sujeito sério, bem formado, sangue bom, cheio de idéias e intenções nobres, mas, como se diz na gíria esportiva, não agüenta correr os 90 minutos. O confronto do seu Brasil idealizado em gabinete e as dezenas de Brasil que proliferam no Gigante Pela Própria Natureza revela o tamanho da distância entre o projeto político do Governo Federal e a realidade rural da Pátria amada. Um militante do governo Lula, o inventor da esquerda e da democracia, NÃO pode ameaçar de prisão um agricultor que sobrevive do que planta, enquanto o MST invade fazendas produtivas e exploradores da soja devastam a Amazônia e o Pantanal, isso sem contar a exploração desmedida da madeira, do garimpo, da fauna, etc, etc.
Além do mais, é difícil para o cidadão normal entender porque uma autoridade de alto escalão do Estado usa – invariavelmente – colete estampado. Por que isso? Ele quer provar que é diferente de todos nós? No primeiro momento de exposição nacional, o senhor Minc pareceu um cara folclórico simpático, depois já dava para desconfiar de exibicionismo fashion, agora já é impossível agüentar sua fantasia de bolero colorido e uma conversa que não soma dois mais dois. Reconsidere o superlativo da primeira frase desta nota. Troque por figurinha, é mais verdadeiro.

Ao som da luz

Em pleno alvorecer do vigésimo primeiro século da humanidade, segundo o calendário da própria Igreja Católica, para ser mais exato, na ensolarada tarde do dia 15 de abril de 2009, o Papa Bento XVI voltou a surpreender o mundo. Do alto de sua sacadinha forrada de veludo vermelho na Piazza de San Pedro e diante de milhares de fiéis boquiabertos, o Santo Padre afirmou que a ressurreição de Jesus Cristo “é um fato real, histórico e provado por testemunhas”.
Como diria o grande Gérson, o Canhota, será que ele tem foto, vídeo tape?
Das três, uma:
- aumentou o teor alcoólico do vinho do Vaticano.
- o Papa quer impor o obscurantismo no currículo escolar.
- a única coisa interessante na Igreja Católica, hoje, é mesmo a Ilse Scanparini.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Comentário zinho

Como até ontem não se sabia, mas agora já se sabe, existem marolas e marolinhas, e esmolas e esmolinhas.
A crise econômica, no Brasil, segundo o presidente Lula, é uma marolinha, não chega a marola. O primeiro passo norte-americano em direção ao fim do embargo econômico a Cuba é uma esmola, como disse o comandante Fidel, mas também não é só uma esmolinha, como insinuam os românticos dinossauros da velha esquerda.
A similaridade evidente entre a marolinha que bate nas canelas da economia brasileira e a esmola que não chega às unhas dos pés da economia cubana é que os dois fenômenos vão provocar mudanças históricas nas três Américas.
Mas, além das sutis subjetividades lingüísticas, segundo analistas credenciados e não apenas palpiteiros de plantão, como eu, não há muito com o que se preocupar.
O Brasil vai sair desta como nova mascote do poder econômico internacional, Cuba vai voltar ao mundo dos vivos como paraíso turístico político ecológico e os Estados Unidos... bem, os Estados Unidos continuarão a ser o velho e mau lobo do homem.
A nova realidade continental, ao que parece, não vai afetar o povo, que continuará a ser tratado pelos governantes como povinho.

terça-feira, 14 de abril de 2009

A rainha rosa

Não sei bem se posso dizer que a Literatura perdeu este fim-de-semana um de seus maiores nomes ou se é melhor apenas informar que morreu o maior fenômeno do mercado literário internacional.
Estou falando da espanhola Corin Tellado, morta aos 81 anos, autora de cerca de 4.000 romances, um por semana durante 60 anos de carreira. È a escritora mais lida depois de Miguel de Cervantes. E não há notícia de que alguém tenha escrito tanto. Só escrevia novelas de amor e paixão. Seu nome não está em academias literárias, mas desponta no Guines de Recordes como a maior vendedora de livros da história, nada menos de –se segure aí– 400 milhões de exemplares.
Parece literatura inventando Literatura.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Teste-surpresa

Ninguém aqui é freira e nós não estamos num convento.
Frase do presidente Lula publicada instantes atrás na capa de O Globo online.
Onde o Presidente estava e a quem ele se referia?
-Num bordel, onde só tem tarado.
-Num hospício, onde só tem maluco.
-Num Banco, onde só tem ladrão.
-Num mosteiro, onde só tem padre.
-No palácio do Planalto, onde só tem... (preencha o espaço à vontade, de acordo com sua consciência).

Essssportivasss

Patética a cobertura da crônica esportiva nacional à falsa despedida do centroavante Adriano dos gramados. Repórteres e comentaristas preferem criar um mundo perfeito para proteger o futebol numa redoma imaginária a ter que enfrentar a velha e boa realidade dos fatos. Adriano está negociando com deus, o diabo e o mundo para saber a quem vai alugar sua genialidade na próxima temporada. Só isso. O resto é samba.

O The Sun está dizendo que Lewis Hamilton vai ocupar o cokpit de Rubens Barrichello na Brawn GP no mês que vem. Parece loucura, mas não é. Hamilton, atual campeão mundial, tem determinação e agressividade, e apoio da Mercedes Benz, que fornece motores a BrawnGP. Mas Rubinho, pela primeira vez na carreira, é favorito para ganhar o título e considerado pelos especialistas como mais técnico e bem preparado. Só isso. O resto é rock and roll.

A torcida do Bahia é digna de pena. Parece deboche de arquibancada, mas não é. Até pouco mais que um par de anos atrás, o Bahia tinha um bom time, jogava para média de 30, 40 mil torcedores na Fonte Nova. Hoje, o Bahia não tem time –perdeu de virada, 3 a 2, para o último colocado no campeonato estadual, um tal de Madre de Deus, timeco de uma ilhota do fundo da Baía de Todos os Santos – e nem estádio aonde ir chorar suas mágoas. Isso não pode ficar assim. Não é uma fatalidade, é resultado de incompetência e roubalheira. Alguém tem que ser responsabilizado. Só isso. O resto é afoxé.

Ronaldo decepcionou na Páscoa. Nosso melhor coelhinho jogou quase nada, deu só três chutes a gol -um defendido pelo goleiro e dois brecados pelos zagueiros - e uma entrada criminosa na canela de um adversário. Acho que contra a imensa expectativa favorável de todos nós, o gordinho simpático carismático não tem mesmo mais condições físicas de suportar o ritmo de um jogo a valer, desses de final de campeonato. Uma pena, um ocaso, mas não é para desesperar. No Brasil, centroavante dá mais que Maria-sem-vergonha. Só isso. O resto é valsa.

Desmascarados

Estou intrigado. O problema (?!) é o seguinte: o jornalista Diogo Mainardi, a voz e teclado mais independente e coerente da Imprensa nacional pós Paulo Francis, publicou em sua coluna na Veja, a título de exemplo de coisa ruim, que há blogueiros que foram expulsos da Grande Imprensa e hoje faturam uns trocados na Internet. Mainardi não citou nomes, talvez porque todos os profissionais do meio saibam de quem se trata.
Mas eu, que vivo no mundo da lua Bahia, estou em dúvida e acho que o colunista não deu nomes aos bois porque são todos espécimes de alta qualidade profissional. Então, só para tentar provar que ainda estou com um pezinho no chão, aposto em Paulo Henrique Amorim, Ricardo Noblat e Alberto Dines. Quem mais poderia ser?

Outonal

Segunda-feira, abril –não vai acontecer nada, ou tudo, se valer mesmo essa história de duas negativas virar uma afirmativa. Mas aposto no nada.
Para que o mês de abril não se perca como tantos outros que viraram pó na estrada, se você tem algum dinheirinho sobrando, sugiro que caia no mundo. Um carinho confiável, uma estrada sem fim, Adiós Nonino no toca-fitas (??!!), alguém que gere calor e saiba ficar de boca fechada no banco do carona. Cuidado com o samba e com as pessoas bem falantes. O samba é muito triste ou alegre demais, pessoas falantes são pior que edredon no verão, sufocam. Mantenha o tango no ar, Piazzola descabela qualquer amargura. Abril é só mais um degrau. Depende de nós, se é pra cima ou pra baixo.

domingo, 12 de abril de 2009

Ovo de elefante

Domingo de Páscoa. Dia de reverenciar fábula, bom dia para acordar pensando em literatura.
A arte, para quem luta para ser artista, tem graus de dificuldades quase insuperáveis para mãos e mentes apenas inspiradas, que não exibem talento vocacional mínimo exigido para matrícula nesta legítima escola de vida.
A pintura, por exemplo, tem várias chaves básicas para quem se imagina retratista. A mais conhecida é o desenho de mãos. Pintar dedos é um suplício invencível para a maioria dos aprendizes. Só grandes mestres –Velásquez, da Vinci, Rubens– pintaram mãos que até hoje se admira como se estivessem vivas. A maioria os pintores esconde as mãos napoleonicamente.
A literatura também tem chaves intransponíveis, que acabam delimitando o bom do mau escritor. A paisagem é a questão mais evidente. Como se sabe, ou pelo menos desde que José Saramago chamou atenção na primeira frase do Memorial do Convento, o que mais tem no mundo é paisagem, mas há pouquíssimas pessoas capazes de descrevê-las. Depois de Flaubert e García Márquez, o próprio Saramago é o mais habilitado, sem dúvida. Em seu último livro, a Viagem do Elefante, o velho intelectual comunista encontrou uma forma graciosa e genial para driblar a grande dificuldade técnica da literatura com um recurso de narrativa incontrolável para a maioria dos mortais: a digressão.
Então, como hoje é Páscoa, um presentinho de pura arte, dois pedaços de parágrafos escritos por alguém que sabe tudo, absolutamente tudo da arte de contar histórias. Deliciem-se. É melhor que chocolate:

A caravana está pronta para partir. Há um sentimento geral de apreensão, uma tensão indisfarçável, percebe-se que as pessoas não conseguem tirar da cabeça o Passo de Brenner e os seus perigos. E o cronista destes acontecimentos não tem pejo em confessar que teme não ser capaz de descrever o famoso desfiladeiro que mais adiante nos espera, ele que, já quando do Passo do Isarco, teve que disfarçar o melhor que podia sua insuficiência, divagando por matérias secundárias, talvez de alguma importância em si mesmas, mas fugindo claramente ao fundamental. Pena que no século dezesseis a fotografia ainda não tivesse sido inventada, porque então a solução seria facílima, bastaria inserir aqui algumas quantas imagens de época, sobretudo se captadas de helicóptero, e o leitor teria todos os motivos para considerar-se amplamente compensado e reconhecer o ingente esforço informativo da nossa redacção.
(...)
Diz-se que numa das línguas faladas pelos indígenas da América do Sul, talvez na Amazônia, existem mais de vinte expressões, umas vinte e sete, creio recordar, para designar a cor verde. Comparando com a pobreza de nosso vocabulário quanto a essa matéria, parecerá que devia ser fácil para eles descrever as florestas em que vivem, no meio de todos aqueles verdes minuciosos e diferenciados, apenas separados por subtis e quase inapreensíveis matizes. Não sabemos se alguma vez o tentaram e se ficaram satisfeitos com o resultado. O que, sim, sabemos, é que um monocromatismo qualquer, por exemplo, para não ir mais longe, o aparente branco absoluto dessas montanhas, também não decide a questão, talvez porque haja mais de vinte matizes de branco que o olho não pode perceber, mas cuja existência pressente. A verdade, se quisermos aceitá-la em toda sua crueza, é que, simplesmente, não é possível descrever uma paisagem com palavras. Ou melhor, ser possível, é, mas não vale a pena. Pergunto se vale a pena escrevermos a palavra montanha se não sabemos que nome se daria a montanha a si mesma. Já a pintura é outra coisa, é muito capaz de criar sobre a paleta vinte e sete tons de verde seus que escaparam à natureza, e alguns mais que não o parecem, e a isso, como compete, chamamos arte. Às árvores pintadas não caem as folhas.

Dúvida dominical

Corrida presidencial. Alguns tabus ou conceitos políticos populares estão na berlinda. Dizem, por exemplo, que homem não vota em mulher, e este é um dos principais argumentos dos críticos da candidatura de Dilma Roussef, e que mulher não vota em homem feio. Isso, claro, não é verdade absoluta, pois se fosse o senador Heráclito Fortes, com aquela estampa de sapo, só ganharia eleição para líder do banhado. Ano que vem nossas dúvidas político-filosóficas folclóricas terão uma resposta consagradora, caso haja realmente o confronto direto entre Serra e Dilma. Pelo menos vamos ficar sabendo em quem votam homens e mulheres brasileiros. A pergunta é simples, apenas uma dúvida político-sexual-carnavalesca:
- Será que é dos carecas que elas gostam mais?

sábado, 11 de abril de 2009

No partidor

Corrida eleitoral é espetáculo garantido em qualquer cenário. Alguém devia formatar como esquete jornalístico para exibição em janelas na grade de uma grande rede nacional de televisão. Seria como drops entre uma novela e outra, um telejornalzinho e um telejornalzão, o filme do dia e o jogo da vez, essas coisas da programação cotidiana. Um serviço de utilidade pública, sem patrocinador, orientado unicamente pelos fatos do dia, só vale o que foi falado. Simples de produzir e alto potencial de audiência.
Mas sabem quando vocês vão ver algo semelhante na televisão brasileira? Nunca. Jornalismo não interessa. Só interessa como simulação da realidade. Continuaremos a depender de apenas um pouco mais que nossa imaginação, os telejornais, por exemplo, para saber o que andam tramando no vão das docas o vampiro careca, a guerrilheira manequim, o doido, a louca, o professor aloprado, todos esses candidatos a governar o Brasil.

Prezado amigo

Candidato bom é candidato com inimigo. Não há registro na história de alguém que tenha sido eleito sem um inimigo declarado, um alvo claro. Os candidatos majoritários nacionais buscam inimigos como quem cata piolhos imaginários.
O governador de São Paulo, líder nas pesquisas para a sucessão de Lula, parece ter nomeado o cigarro como o grande mal a ser batido. A Ministra da Casa Civil não têm inimigos claros, tem fantasmas, só lhe resta atirar para dentro da trincheira. O governador de Minas Gerais, o mais legítimo Romeu e Julieta da política nacional, está aí para qualquer coisa e também por isso mesmo só vai conseguir qualquer coisa. Os outros só têm duas alternativas de inimigo: Lula ou o governo Lula, duas imagens bem avaliadas pelo eleitorado.
O jogo está aberto, como diz o pessoal da crônica esportiva. Os dois maiores candidatos, do PT e do PSDB, ou Serra e Dilma, para ficar mais claro, ainda não definiram o alvo. Por enquanto são apenas escaramuças. Mais à frente, aí sim, pode acontecer um cataclismo. Só há uma certeza:
não vai ser um a um.

Quatro queijos

Passa uma nuvem negra no horizonte azul da janela. Começa a cair um chuvisco e sobe um cheiro de terra. Penso que a nuvem negra é um trem. O trem que não é dado pegar a quem não anda na linha do céu.
Semana santa, todo observador independente da cena social deve almoçar sem carne, em nome, por exemplo, das mulheres queimadas vivas na fogueira do fanatismo religioso.
Recomendo Lasanha Perdigão.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

O Imperador Muito Louco

O jornalista Pascoal Gomes mandou estes dois postais. O primeiro, o Lado di Como, nos arredores de Milão. O segundo é a fachada da Vila Cruzeiro, zona norte do Rio de Janeiro. Os dois são endereços do centroavante Adriano, o Imperador. Ou eram.
O garotão de 27 anos, 2 metros de altura e 110 quilos de peso decidiu quebrar seu contrato com a Internazzionale e ficar no aconchego do lar carioca. Deixa de lado um salário de 400 mil euros mensais. Ou 1.200 reais por hora. Diz que não está feliz. A mesma coisa que dizem os Ronaldos quando convém. Nada a ver com droga nem com bebida, o que é a mesma merda, nunca é demais lembrar. E tem mulher na parada, claro. Uma loura que diz que ele é o homem da vida dela. E também tem um médico. Um dirigente do São Paulo que diz que ele Adriano precisa de tratamento psiquiátrico. Parece novela. Cenário de novela, enredo de novela, atores de novela, mas não é novela. É negócio. Só negócio, nada pessoal.
Centroavantes também amam, todo mundo sabe. O que às vezes nem todos percebem é que centroavantes são moeda rara. E no Milan, por exemplo, como já especula a Imprensa italiana, podem valer mais de dois mil reais por hora, sem contar novíssimos direitos de imagem.
O que se pode aprender desta meteórica aparição de Adriano no topo do noticiário do dia? O jornalismo esportivo consegue ser pior que o jornalismo político. Isso é o que salta aos olhos.
As empresas de comunicação exploram o esporte como atividade salutar para débeis mentais, como um nicho sob medida para vender publicidade de bancos, telefonia, cervejas, carros e eletrodomésticos para uma audiência emergente. Todos se comportam como idiotas, quase não há vida inteligente sob músculos. Só o que funciona de verdade é o negócio. O tome lá meus serviços e dê cá minha grana. Isso é o que importa.
O gol é só um detalhe, não esqueçam. E também não olvidem jamais que telejornalismo é pouco mais que um espetáculo circense patrocinado. Adriano, enfim, não é um herói ferido no picadeiro. É só um centroavante que quer mudar de clube para ganhar mais dinheiro.

As múmias do amém

A renovada moda dos homens públicos apontarem um inimigo poderoso para justificar ações e posicionamentos de alguma forma condenados por sua, digamos assim, comunidade, afinal, chegou de volta aonde tudo isso começou, dois mil anos atrás, na Igreja católica. Com o desgaste milenar na velha e boa imagem do Diabo, o Vaticano, na pessoa do Papa Bento XVI, acusou ontem, em plena sacada na piazza de San Pedro, no alvorecer do século XXI, o filósofo Fiedrich Nietzsche de ser um desagregador do grande rebanho mundial de almas religiosas.
O Papa disse que o pensador alemão substituiu, como virtudes fundamentais, a humildade e a obediência por dignidade e liberdade absoluta do homem. Não, o senhor não leu errado. A Igreja católica prefere ter fiéis humildes e obedientes a homens dignos e livres. Parece loucura, mas não é. É só religião.
Tenho dois livros de Nietzsche na estante. Vou começar a reler agora de manhã Além do Bem e do Mal. Leitura fundamental numa sexta-feira santa de lua cheia.
Na verdade, hoje, a única coisa interessante na Igreja Católica é a Ilse Scanparini.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Classificados

Jornalistas. Elas e eu.
Primeiro, a brava Celeste Lemos (?!), ex-reserva de Boris Csoy no SBT e ex-comentarista de economia na Tv Educativa de São Paulo. Vejam neste link um comentário sincero e emocionado que rendeu uma demissão sumária.
http://mail.uol.com.br/main/download?msg_id=Nzg5NQ&ctype=jornalista.wmv&disposition=attachment

Segundo, a bravíssima Ana Paula Padrão, ex-âncora do Jornal da Globo e ex-apresentadora de telejornais do SBT. Ela anunciou hoje que não renovará seu contrato com o canal de Sílvio Santos e está estudando propostas de trabalho.

Terceiro, eu. Não tenho canal, como a Celeste, para desovar minhas diatribes diárias com o governo e a mídia, mas posso seguir os passos de minha ídola Ana Paula. Decidi não renovar o contrato comigo mesmo e estou à espera de propostas, espero que de lindas mulheres milionárias e débeis mentais capazes de entender e consolar uma alma de poeta renegada.

Este é o País. Estes são alguns jornalistas. Este é o respeito do mercado editorial à liberdade de Imprensa e a independência profssional num regime político democrático de suposta tendência esquerdista.

Fantasia de crise

Nunca na história deste País uma crise econômica causou tanta desinformação e provocou tantas discrepâncias e tanto lero-lero inútil da mídia de comunicação. A começar pelo nome, aqui chamada de marolinha, a tal crise se apresenta com várias faces, ou máscaras, como a de um bicho-papão atrapalhando uma festa infantil no playground do prédio classe média na zona sul carioca ou como uma onça esfomeada a devastar os campos cultivados e a devorar rebanhos no pasto. Na verdade dos fatos do dia-a-dia, pelo que se vê hoje no noticiário, por exemplo, a crise veio para enriquecer ainda mais os banqueiros e para suspender os aumentos salariais da diretoria da Petrobrás!! Isso mesmo, uma das mais drásticas medidas oficiais anticrise é congelar os aumentos salariais da diretoria da Perobrás. Os bravos diretores da estatal ficarão apenas com os mesmos honorários mensais, gratificação de férias, 13º salário, participação nos lucros e férias. Eles não terão reposição do impacto da inflação no período!!
Isso sim é que é crise.
E isso sim é que é governo de esquerda!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Na mira

Em casa de telhado de vidro, todo mundo sabe, qualquer pedrinha faz o maior estrago. O senador Renan Calheiros, o imperador independente do Planalto, é proprietário de um palácio inteiro de vidro, mas mesmo assim costuma desafiar os operários de uma pedreira vizinha chamada Governo Federal. Nos próximos dias, e isso não será surpresa para ninguém das cercanias, deverá cair um belo pedaço de granito no casarão do alagoano mais atrevido do País (Collor é carioca). Renan, que como todo bom passarinho da Mata Atlântica sabe o que lhe advém quando come pedra, deve estar preparado com uma tonelada de laxante. Mas não vai resolver...
A derrota vexatória de Tião Vianna para a presidência do Senado tem um custo –e vai ser todo cobrado a pedradas.

Tá tudo dominado

“Tenho 10 centavos na caixa da Câmara Federal... Vou dar uma procuração para o ministro Mantega comprar um pedaço de corda e se enforcar”.
A frase acima não é de nenhum crítico radical da política econômica do Governo Federal, é do ex-presidente da Câmara e atual prefeito de João Alfredo, em Pernambuco, o inigualável Severino Cavalcanti. Esse prócer do baixo clero político nacional foi eleito prefeito com apoio explícito do presidente Lula. O ministro Mantega, que nada tem a ver com margarina vegetal, como pensam alguns engraçadinhos, também foi alçado ao poder pelo elevador particular do presidente Lula.
O que isso quer dizer? Que a politicalha nacional está toda na bagagem de Lula. Isso, sim, é que é governabilidade. Mas também, claro, um perigo letal para quem anda com escorpião no bolso.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Rock and roll

Uma descarada compliação semitraduzida de una canción de Joaquin Sabina, o perro andaluz, por supuesto para a claridade da manhã de uma milésima terça-feira qualquer.


E assim cresci voando e voei tão depressa
Que até minha própria sombra me perdeu de vista.
Hice trampas al pocker.
Defraudé a mis amigos.
Sobre el banco de un parque dormi como um león.
Por dizer o que penso, sem pensar o que digo,
Más de um beso me dieron y más de un bofetón.
Assim, que de momento, nada de adiós muchachos.
Adormeço nos enterros de mi generación.
A cada noite me invento.
Todavia me emborracho.
Tão jovem e tão velho, pareço um Rolling Stone.

Pato aqui, pato acolá


Foto de Ricardo Stuckert, na seção Brasil da Folha.

Sensacional trio de caipiras ensaiando o vocal em evento político em Minas Gerais. Aécio Neves no baixo, José Alencar na base e Lula no solo. Parecem estar cantando Samba de Uma Nota Só, um remake sertanejo da Bossa Nova. Dona Dilma, na platéia, achou uma gracinha... José Serra, pela tevê, está soluçando até agora.

Por supuesto, boludo

Fernando Henrique está choramingando todo dia no noticiário. O sucesso de pop star do presidente Lula mundo afora deixou o acadêmico líder neoliberal a resmungar sozinho, assim não pode, assim não dá. Hoje, na Folha, Fernando Henrique lembra ao mundo mau que, apesar de todo carisma do grande líder sindicalista nacional, ele, o velho e bom FHC, ganhou de Lula duas vezes no primeiro turno. Foi como se dissesse “qualquer um ganha dele, até eu”.
Aí está uma disputa eleitoral que o povo brasileiro gostaria muito de mediar.
Luís Ignácio Lula da Silva contra Fernando Henrique Cardoso.
Uma espécie de Brasil e Argentina em final de Copa do Mundo.
Resta saber quem é Pelé e quem é Maradona.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Nada de adiós, muchacho

Antes que eu me esqueça ou que você não leia jamais, uma sentença definitiva de Honoré de Balzac:

- A resignação é um suicídio cotidiano.

domingo, 5 de abril de 2009

A guerrilheira manequim






















Reprodução fotográfica, na Folha, da ficha criminal de Dilma Roussef

A moça circunspeta que o senhor vê na foto, óculos de fundo de garrafa, cuzinho de ferro, encarando enfezada a câmera da Polícia, atendia nos anos 70 pelos nomes de Luíza, Esttela, Wanda, Marina e Patrícia como militante de um grupo armado que combatia a ditadura militar. Hoje ela é reconhecida publicamente como Dilma Roussef, candidata à sucessão do presidente Lula. È a mulher mais importante do País, a única com história de vida combativa e não apenas algumas horas de vôo em bancos acadêmicos e tribunas legislativas. Se o Brasil vai votar ou não na antiga guerrilheira são, como ela mesma diz, outros quinhentos. Mas que ela é uma candidata legítima e credenciada pela própria história não há dúvida. Mesmo com operação plástica para ficar mais novinha e conchavos políticos com o ex-ministro da ditadura, Delfim Neto. Ah, sim, o carimbo de Capturado que se vê no alto da ficha é o selo de qualidade.

sábado, 4 de abril de 2009

Figurinhas fáceis

Os senhores devem conhecer aquelas borboletinhas amarelas muito manjadas no litoral do Nordeste, umas pequenas, do tamanho de uma caixa de fósforos, com vôo menos esfuziante que as borboletas normais, digamos assim, essas têm jeito de beija-flor, aliás também vivem de beijar flores. Pois estão passando em ondas pela janela, cruzando o vasto território do olhar até se perderem de vista, aos milhares. Para onde vão, de onde vieram? Existe migração de borboletas? Como se diz borboletas aos milhares? Miríade?

Em nome do bem

A morte de Márcio Moreira Alves.
Gostaria de registrar que o jornalista ex-deputado foi um nome de referência para minha geração. Repórter ousado, político atrevido, um homem de idéias e opiniões. Sua conclamação ao povo brasileiro para que resistisse à ditadura militar está escrita na história da Nação. Um homem de bem, sem dúvida. Agora, menos um. Está acabando o estoque nacional de homens públicos decentes.

Alvorecendo...

Acordei cinco e meia da manhã para ver o treino da corrida de baratinhas.
Gosto muito, acho que todo mundo gosta, é preferência nacional. Vejo desde Emérson na Lótus, Luciano da Valle na latinha, é difícel, é difícel. Torço por Rubinho, Nelsinho e Massa, nesta ordem. O resto é inimigo. Mas tem um garoto alemão, Sebastian Vettel, que dá gosto de ver pilotando em qualquer situação. Prestem atenção nele. Sai na sétima fila. Reparem aonde vai terminar a prova.
Mas eu queria chamar atenção para o poder da glória. Os alemães não têm história na Fórmula-1 antes de Michael Schumacher. Houve apenas um apagado Jochen Mass, escada de Emérson na MacLaren, no tempo em que a Gessy Lever ainda não tinha comprado a Palmolive e a morte comandava o cangaço. Pois agora, rei morto, reis postos. Há cinco alemães no grid (Vettel, Rosberg, Heidfeld, Glock e Sutil), quatro com chance de vitória. Nenhum homem sozinho mexeu tanto com um esporte. Nem Pelé.
O Rei nasceu para o futebol dando balãozinho dentro da área em final de Copa do Mundo. Schumacher nasceu para a Fórmula-1 dando saltos de alegria no pódio logo depois de Senna ser retirado morto do autódromo.
Mas do que é mesmo que eu estava falando? Nisso é que dá acordar cedo demais e encher a cara de café preto.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Sem trovões

Está chovendo na Bahia. São as águas de março. Elas sempre chegam em abril, atrasadas, meio preguiçosas. Agora mesmo o céu de eterno azul está coberto com um manto de nuvens cinzas prateadas. Elas, as nuvens, mal se mexem, o corpo alvo, as bordas turvas, metálicas, vindas sabe-se lá de onde, de um cenário de soldadinhos de chumbo, talvez. Parecem cansadas da longa estrada do céu, sujas de poeira estelar. O que a natureza está tentando nos dizer? Acho que é alguma coisa com o tempo, com o passar do tempo. Algo como “presta atenção, malandro, é outro outono em tua vida”.
Pois é. Nuvens.

A literatura e seu labirinto

O anúncio fúnebre literário da decisão de Gabriel García Márquez parar de escrever equivale a uma bomba atômica de fabricação caseira, como um super pum, por exemplo, no mundo idiossincrásico da Literatura. Quem vive da palavra escrita, no mínimo, ergueu as sobrancelhas, surpreso e assustado. O que isso representa de fato?
Para alguns poucos doidos fascinados pela literatura, como eu, é o fim do mundo. Para outros, mais técnicos e acadêmicos, uma decisão coerente de quem sempre escreveu sobre o mesmo tema, o amor e a realidade fantástica do povo. De um jeito ou de outro, tanto faz, para todos nós, uma perda inestimável. Até o momento ninguém se atreveu a um comentário mais aprofundado.
O Jornal da Globo, por exemplo, colocou no ar uma reportagenzinha mal engendrada, com imagens centenárias e nenhuma análise de um fato absolutamente subjetivo, o que subentende a necessidade de uma explicação, ou justificativa, formal. O editor do telejornal, William Waack, que começou nesta profissão justamente como crítico literário na Veja, limitou-se a um sorrisinho e a um boa noite, ambos amarelos. Melhor faria a Globo se ficasse calada. Conselho maroto que serve muito bem para toda a grade de programação da venerável emissora. Como num conto de García Már1quez, o noticiário da tevê soaria bem melhor em silêncio.

Até tu?


Foto de Alan Marques, Folha Imagem, no plenário do Senado Federal, com o senador Tasso Jeriessati fazendo cara de magoado.

O Blue Eyes do Sertão, sério e incorruptível líder da oposição tucana no Congresso Nacional, viu sua vistosa fantasia de lídimo defensor da moral e da ética respingada pela lama político-administrativa que seus pares jogam todo santo dia no ventilador da Casa. Todo mundo sabe em Brasília que este caso não vai para lugar algum, serve apenas para desatarrachar a máscara de mocinho que Tasso adora exibir nos matinés do Congresso. Agora ele vai engrossar as hostes de Brutus, o filho de César.

De olho na ribalta

O delegado Protogenes Queirós se transforma aos poucos em uma figura folclórica num canto isolado da cena política nacional. Não pense o senhor que o venerável delegado tem vocação para o debate político, o que ele tem mesmo, na verdade clara dos fatos, é compulsão para protagonista do noticiário da mídia.
Ontem, em evento no Rio e Janeiro, em uma quase troca de alianças de noivado com o PSOL, o delegado anunciou que há um “clamor popular” pela sua candidatura a deputado federal em 2010. Delírios à parte, sugiro modestamente que Protógenes se lance candidato a senador pelo Amapá, em nova sigla que ele mesmo pode fundar, o PPF do B – Partido da Polícia Federal do Brasil. Afinal, o Amapá existe só para casos urgente de fraude eleitoral, como a última eleição de José Sarney, por exemplo.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O debate



Laerte, na Folha de hoje.

A glória


O presidente Lula tem performance de pop star nesta viagem a Europa. Nunca neste país, o Brasil, sim senhor, nenhum presidente desfilou em circuito internacional com tamanha desenvoltura, simpatia e prestígio. Lula abriu a cena no palácio de Versalhes, o que ne c’est pas trés facile para um brutamontes assumido, fez reunião de trabalho documentada pela imprensa a bordo de um super-trem, sentou ao lado da rainha Elizabeth em foto de cerimônia oficial, suportou em público o puxa-saquismo de Obama e ainda estrelou cartazes como símbolo do mal para enfurecidos defensores do bem.
Ponto para Lula, sem dúvida. E ponto suficiente para estancar a queda na popularidade.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Solidariedade urgente




Esta flor sorrindo com outra flor na mão está desaparecida de sua casa desde o fim de fevereiro. Os pais estão fazendo uma campanha pela Internet pedindo que todos divulguem a foto em suas listas de e-mails. É um método eficiente, pode ajudar a localizar a menina.
Ela chama-se Maria Cecília e qualquer informação deve ser transmitida pelo telefone 21. 7826.9408.
Recebi o pedido de divulgação através do companheiro Salvador Mandagará Martins, de Pelotas, mas gostaria de maiores informações. É preciso divulgar os nomes dos pais, as circunstâncias do desaparecimento e o que foi feito até agora pelas autoridades competentes. As instituições de defesa de direitos de crianças e de adolescentes precisam ser acionadas imediatamente.

Plim Plim online

Nunca neste País o atrevimento editorial e o descaramento comercial da superpoderosa Rede Globo de comunicação chegou a níveis tão alarmantes. A Globo, cujo modelo de televisão se revela desgastado nos níveis de audiência e fortemente acossado pelos formatos populares de SBT e Record, estendeu seus tentáculos e fixou as garras no novo e moderno e eficiente meio de comunicação, a Internet. Os portais funcionam como base de apoio para divulgação das produções globais e O Globo online chega ao paroxismo do jornalismo dirigido, misturando seus delírios novelísticos à realidade dos fatos.
Exemplos:
- o Uol embaralha notícia de verdade, gente de verdade e fatos de verdade com notícia de mentirinha, gente de mentirinha e fatos de mentirinha. Hoje tem A Maldosa Viridiana Sabota Revista Para Que Luciano Se Dê Bem. O que é isso? Novela da Globo, claro.
- o Terra repercute o Big Brother como se aquilo fosse um programa educativo, de alto interesse da população brasileira, e não apenas um caça-níquel meio pornográfico e imbecilizado. O portal mantém enquetes ridículas sobre quem é melhor ou pior ou mais feio ou mais bonito ou isso ou aquilo sobre os participantes do programa em claro desrespeito a inteligência dos leitores.
- o próprio jornal O Globo, entretanto, comete o maior dos desatinos infiltrando no alto da página, entre as manchetes diárias de economia, política e esporte, a angústia melodramática de um personagem qualquer da novela das oito. Ontem mesmo, entre fotos de Lula, Obama e Ronaldo, lá estava o ator Marcos Garcia. O que ele fazia no alto da capa do segundo maior jornal do País? Procurava um novo amor.
Isso é o que eu lembro agora no primeiro cigarro da manhã. Se alguém se der o trabalho de pesquisar as capas de O Globo e dos portais vai descobrir um escândalo de lesa-leitor como jamais houve neste País.
O que se pode fazer? Nada. Ou melhor, podemos reclamar, reclamar muito. Mudar de canal não adianta, é pior.