quinta-feira, 26 de março de 2009

Conversa fiada

Algumas figuras públicas com ambições políticas mas desvinculadas de qualquer compromisso ideológico ou partidário, a não ser, claro, interesses pecuniários pontuais, se encarregam em manter o mais baixo possível o nível do debate político nacional.
Ontem, zapeando canais no horário dos telejornais locais, fui surpreendido pelo radialista Raimundo Varela, figura popular que se acredita uma espécie de filósofo contemporâneo seduzido pela mosca azul. A pretexto de defender um novo sistema de escuta telefônica implantada pelo governo na Bahia, Varela atacou furiosamente o deputado ACM Neto, a quem apoiou na eleição para prefeito de Salvador, cinco meses atrás. O que houve? Por que o radialista mudou do vinho pra cachaça, do azul pro vermelho, de lá pra cá, do isso pro aquilo? Tenho um palpite.
A historinha a seguir talvez ajude a encontrar a resposta para o troca-troca de opinião tão normal entre os políticos profissionais, e alguns tolos que tentam se equilibrar no cabo de aço enlameado que liga a classe política à comunicação.
Pelotas, eleição municipal, 2008. De repente, no meio do horário eleitoral, o Partido Verde, de suposta coloração esquerdista, dispara uma bomba atômica de pura baixaria contra o candidato do Partido dos Trabalhadores. Surpresa geral. Por que? Porque o bravo PV havia alugado seu espaço no horário eleitoral para o candidato adversário, de tendência malufista, inimigo natural do PT. Dois dias depois, nova surpresa. O PV ataca o candidato malufista. O partido ecológico enlouquecera? Não. Soube-se que o caso era só negócio, nada pessoal, ou seja, o cheque tinha sido devolvido. Mais dois dias e olha lá o PV atirando de novo, no mais baixo nível possível, no candidato do PT. O cheque, desta vez, na reapresentação, afinal, tinha compensado. A história arranjou um lugarzinho nos anais da trágica trajetória eleitoral pelotense –e ficou por isso mesmo.
Mudança de opinião entre políticos, não tenha dúvida, é apenas formalidade comercial. As alegorias folclóricas, ou mesmo ideológicas, são apenas alegorias. Já estão embutidas no preço.

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