quarta-feira, 4 de março de 2009

Dois dedos de prosa

Nesta manhã que a Bahia parece fazer topless na praia, num calor contido como a temperatura ideal do vinho, reparo que pássaros e micos se reacomodam nas árvores aqui de casa, um casal de jandaia ocupa o buraco no coqueiro de um antigo casal de pica-pau, e um bando de nossos ancestrais voltou a devorar ninhos a frutas como se tudo no mundo fosse deles, e é, nesta manhã em que hay pan para hoy, que só me faltam os malditos cigarros e não sei aonde se enfiaram duas ilusões que pensava tê-las tão bem guardadas, me ocorreu um raciocínio que talvez ajude a decifrar a nota que está abaixo desta, nesta onda do é agora ou agora.
Como se sabe, a democracia se revelou o instrumento mais eficaz do sistema para acabar com os movimentos revolucionários. A suposta vontade da maioria expressa pela igualdade do voto, impulsionada e patrocinada pelo poder econômico, legitima governos tão gaiatos quanto espúrios, todos em nome do povo. As bandeiras de consciência acabam em passe de mágica, os homens que iam mudar o mundo acomodam-se em seus gabinetes e, pronto, vida que segue. Ninguém governa para elaborar e aplicar políticas públicas efetivas e conseqüentes, todos governam pela ocupação de espaço, e em alguns casos como se não existisse ninguém além do governante, são terras de um homem só.
Então, diante deste ocaso incontestável da esquerda revolucionária, seria razoável pensar em uma ditadura da intelectualidade como o modelo político mais recomendável?
A resposta equivale a decisão de onde enfiar o voto.

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