segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A Flor da Maldade VIII

E a caravana passa...

Capítulo oito

Bandeira de consciência é o nome que a sociedade organizada inventou para definir conceitos reivindicatórios dos movimentos de defesa de direitos de minorias como negros, índios, crianças, mulheres, velhos, homossexuais, deficientes físicos, etc, etc., que não são atendidas pelo sistema. Esse vazio político-administrativo-social alimenta o debate em torno do processo democrático. As bandeiras são utilizadas normalmente como instrumento de pressão política eleitoral pela tendência partidária que se convencionou chamar de esquerda. O outro lado, aquele que se convencionou chamar de direita, aprendeu a tumultuar o debate público usurpando essas mesmas bandeiras. Afinal, os dois lados, direita e esquerda, lados que os observadores políticos modernos dizem não existir mais, apenas agitam as bandeiras, jamais buscam soluções efetivas, pois sem elas, lógico, não haveria necessidade de discussão política, e eles teriam de elaborar projetos sociais para o bem-estar público, o que, afinal, parece não ser do interesse de gente que faz política para ganhar dinheiro, para distribuir cargos públicos entre seus apaniguados e influenciar decisões executivas como os dois partidos que trabalham um pelo patrão e outro pelos trabalhadores, ambos tangenciando os mesmos valores políticos ao defenderem, por exemplo, a estatização dos serviços públicos e a participação do Estado nos meios de produção industrial.
O coronel se interessava mais pelo velho instrumento manuseado à náusea por todas as tendências políticas, em processo democrático ou totalitário, tanto faz, o velho e bom culto à personalidade. Afora o milagre religioso, esse parece ser o jeito mais seguro de convencimento de opinião pública. Bandeiras de consciência são para amadores –ou marqueteiros. Ele preferia usurpar, na maior cara de pau, qualquer tipo de reivindicação popular, como aumentos de salários, melhores condições de trabalho, assistência médica, reforma do sistema de ensino, programas de combate à violência e até campanhas contra a corrupção em nome da moral e da ética na política, embora seu próprio grupo político fosse responsável por quase todas aquelas questões. Batia na mesa e ameaçava com o dedo em riste quem falasse em moral e ética, embora todos soubessem do envolvimento de seus mais próximos colaboradores e até de familiares em escândalos de corrupção que freqüentavam nos jornais e revistas independentes. Acostumado a tentar manipular a opinião pública através da Imprensa, a sua imprensa, uma rede de comunicações montada com dinheiro público e mantida por empresários beneficiados com seus desmandos administrativos, o maior homem do mundo aparecia mais na televisão do que qualquer marca de refrigerante ou de cerveja ou de automóveis ou de serviços públicos, os maiores anunciantes da mídia eletrônica. Estrelava os blocos de comerciais entre as novelas, os noticiários, as transmissões esportivas, os filmes. E como a suposta esquerda, numa estratégia política obtusa, sobrevivia de ataques ao que ele fazia ou não, sua popularidade estava garantida. Cumpria, assim, a máxima da publicidade política eternizada pelo ex-presidente norte-americano Richard Nixon, “falem bem ou mal, mas falem de mim”, o que segundo os analistas políticos garante, no mínimo, 50 por cento dos votos. Quer dizer, em cada dois eleitores, um estaria com ele. Assim, sim, se constrói imagem política, e não com frescuras de bandeiras de consciência. Como candidato, embasado na máquina de angariar votos que costurou com dezenas de emissoras de rádio e repetidoras de televisão, jornais, gráficas, agências bancárias, agências de publicidade e toda estrutura física e administrativa de centenas de prefeituras e do próprio Governo do Estado, ele podia se considerar imbatível. E era mesmo. O único perigo, o único medo que o atormentava vez em quando, era a possibilidade de surgir um fato político que desatarraxasse a máscara que encobria sua verdadeira face de serpente.

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