quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

A bomba verde e amarela

As primeiras semanas do próximo ano trarão no lombo do vento do noticiário a resposta para a crucial questão, qual é a posição política ideológica do presidente Lula? Ele mesmo vai ter de dizer claramente, sem subterfúgios nem metáforas nem sofismas, o que vai acontecer com a Lei de Anistia. O presidente acaba de assinar um texto o qual disse que não leu, depois anunciou que vai revisar, e se recolheu em férias de fim de ano. O texto lido em voz alta em cerimônia pública e recebido com lágrimas emocionadas dos ex-militantes guerrilheiros e olhos arregalados dos antigos militares torturadores define que um dos lados em guerra tinha razão e o outro não.
Lula, ao que parece, pretendia resolver a grande questão da revisão ou não dos acontecimentos trágicos da ditadura militar no Brasil com uma generosa esmola aos torturados e o perdão juramentado presidencial aos torturadores. Deu errado. O presidente foi surpreendido com uma pequena radicalização da turma dos torturados, que preferiram tratar o problema de acordo com a sua ótica exclusiva, ou seja, os torturados tinham razão de matar e morrer pela liberdade e os torturadores tem que pagar por terem feito a mesma coisa, ou seja, matar e morrer pela liberdade. Agora, está em jogo não apenas a dignidade política de um país e seu povo como também estão os parafusos que atarracham a máscara ideológica do presidente da República desde quando ele sentou na cadeira presidencial e mandou queimar todas as bandeiras de consciência que o levaram ao poder, instituindo uma única esmola nacional aos desvalidos e entregando o país à sanha dos famélicos sindicalistas, aos interesses comerciais da mídia de comunicação e à exploração absoluta dos mercadores de miragens financeiras.
Lula, pressionado pela revolta dos militares e pela desfaçatez de seus colaboradores mais próximos, estes realmente comprometidos com uma posição política ideológica de esquerda, com referência no modelo soviético stalinista, vai ter de esclarecer aos queridos ouvintes, afinal, de que lado ele, Lula, o convertido, está.
Desde que o caso chegou ao noticiário nacional, embora ainda docemente acobertado pelos panos quentes da mídia, alguns personagens midiáticos –ou celebridades televisivas- começaram a expressar opiniões e sugestões reveladoras. O venerável paladino das liberdades individuais, o jornalista Boris Casoy, não chegou a fazer biquinho com seus lábios bezuntados de baton para dizer que isto é uma vergonha, mas defendeu que a Lei de Anistia não deve ser alterada, ou seja, ninguém deve ser investigado nem punido, e que é hora de passar a borracha no passado. O mesmo se ouviu na Globo e na cambaleante Bandeirantes e ainda se pode ler nos editoriais dos grandes jornais, todos a favor do silêncio e da varredura para debaixo do tapete.
E o senhor? De que lado está? Eu aprendi desde menino a não acreditar em gente fardada. E estou aprendendo agora, velho safado de barba na cara, a não acreditar em outros velhos safados de barba na cara. Mas gostaria de deixar bem claro que eu acredito e vou acreditar até o fim da vida que lugar de torturador é na cadeia.
E espero, do fundo do meu coraçãozinho galinha de leão, que o presidente Lula largue um pouco de lado o pragmatismo político da "governança" e nos mostre afinal que é um estadista de fato e não um mero mercador de ilusões.

Ah, sim, o próximo ano.
Desejo que todos nós estejamos tão felizes ao longo do ano que não tenhamos mais pressa nenhuma –nem para dormir nem para acordar.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Relevâncias



Laerte, na Ilustrada de hoje. Reconhece seu fracasso? Sim. É o número três, com chapéu de caubói e óculos.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Roubado da Silva

Não olhe agora, pode ser perigoso, mas você está sendo roubado. É. Agora. Neste exato momento.
Olhe agora, preste bem atenção, lá vai ele, o ladrão.
Pode ser o trombadinha da esquina, o cabo de Polícia, o deputado, o governador, o ministro, o presidente. Basta ler os jornais do dia.
Você acaba de ser roubado no bolso, no estômago, na cabeça, no coração.
Resta incólume apenas a alma a olhar algum vulto furtivo passar a mão na sua bunda e sair correndo (devia escrever na nossa bunda, mas achei melhor botar na sua).

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Boletim do céu

Acordei esta terça-feira véspera natalina como se estivesse a 36 mil pés de altura, a 800 quilômetros por hora, ventinho de 50 graus negativo pela proa, sentado na asa de um jato intercontinental.
A primeira coisa que li foi o presidente Lula dizendo que ninguém ama mais e respeita a liberdade de Imprensa do que ele, mas que são necessários alguns ajustes nos excessos da mídia. Em seguida, já vestindo minha cotidiana fantasia de jornalista proscrito, abri os e-mails e vi dois grandes companheiros de mui antigas batalhas profissionais pela vida afora se debatendo contra a lógica de suas próprias histórias de resistência e luta e os princípios fundamentais de suas profissões ou mesmo os mais primários conceitos de ética e educação cívica de pessoas livres e independentes. Parece que estamos vivendo o esplendor da formação dos pilares da maior e melhor ditadura democrática que este país ou o mundo ou o universo já viu.
O jato desvia das nuvens e segue em frente. Ninguém aqui sabe para onde vamos. Nem os pilotos nem os passageiros no conforto da cabine nem este veterano redator na boléia. Não há, portanto, motivo para se acreditar em deuses. Nem muito menos em um deus idiota, oportunista e aprendiz de ditador.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Domingo, 13



Pequena observação dominical (quase escrevo lição, imaginem) sobre a realidade da comunicação brasileira, na capa do maior jornal do País. A manchete é Dívida dos Brasileiros Cresce Mais que Renda. A ilustração é esta foto de Rodrigo Capote de uma criança em um Centro de Educação Nutricional da Unifesp. No meio da página, outra chamadinha: Jovem Come Pior que Seus Pais e Avós.
Em compensação, para aliviar a dor dos locupletados pelo governo da Grande Maracutaia Nacional, a rede Globo exibirá ao longo do dia excepcionais reportagens ufanistas de uma suposta realidade nacional, dos esportes ao entretenimento, animada por celebridades televisivas, sem qualquer talento artístico visível, a não ser dizer amém e anunciar os produtos da casa à venda. Os fatos? Os fatos são farsas.
Este é o País, este é o legado do atual governante, seja ele Presidente da República, Governador ou Prefeito. Seja ele PT, PMDB, DEM, PSB ou PSDB. Isso, como bem poderia dizer nosso líder esquerdista convertido em fascista, é tudo a mesma merda.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Aos filhos do Carequinha

Hoje é dia do palhaço. Bom dia para pensar em palhaçada.
Então, raciocínio político lógico, é bom imaginar o que vai fazer no próximo ano já que este que termina virou um enigma publicitário governista.
Pense no seguinte: a direita está de volta. Ela mesma, a direita. Na verdade dos fatos e dos governos, nunca saiu do mesmo lugar, mas acreditando-se nas figurações ideológicas, vai voltar em grande estilo, no voto. Está se falando, claro, da derrota anunciada da esquerda bolivariana latino-americana, ou melhor, sul-americana, apesar da resistência da mídia em ceder espaço à lógica. No Chile, a elegância democrática progressista da senhora Bachelet vai dar lugar aos conservadores reacionários viúvas do militarismo desenvolvimentista. No Brasil, o neoliberal cauteloso José Serra se consolida como candidato natural da evolução democrática nacional, algo que os marqueteiros oficiais do Planalto não sabiam ou resolveram ignorar. Bachelet tem quase 80% de aprovação, mas não consegue, como Lula, transferir votos para seu candidato. Pelo menos é o que dizem as pesquisas, e pesquisas sérias, não aquelas de institutos minúsculos pagos por sindicatos poderosos. A Argentina, e los otros, virão atrás como um comboio de carroças rumo ao fim do mundo.
Eleição é sempre bom tema para palhaços, ou melhor, eleitores. A gente, que mantém a bunda virgem dos bancos oficiais, pode começar a rir a partir de agora. A velha inimiga vai voltar. Pelo menos com ela a gente já sabe que vai ao baile para dançar. Só para dançar. E também sabe que o sonho de verdade ainda nem começou.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A mãe no ar

Como se não houvesse um país, não houvesse leis e muito menos houvesse um povo a ser respeitado, entrou no ar ontem à noite, pelo menos aqui na Bahia, a propaganda eleitoral da candidata do PT a Presidência da República.
O filmete é pobre, ruim, sem qualquer criatividade, um cumpre-tabela, com texto tatibitati e uma péssima atriz.
Na real da real, como se dizia antigamente, a propaganda petista é frustrante, tanto para profissionais de comunicação, como para o eleitorado em geral.
A ministra fala direto para a câmera, sentada num suposto gabinete de trabalho, tom gris, e uma conversa que se assemelha a suaves badaladas de um sino chamando crente para a missa das seis, ou jogando milho para as galinhas.
Dilma não sorri nem um instante. Parece uma delegada fazendo um comunicado oficial ao pessoal de plantão. Se aquilo é a mãe do PAC, pobre PAC.
Lula terá de transferir todos os votos, um por um, esta senhora não conquista nem cachorro vadio.
Mas como não existe oposição organizada no país, todos nós sabemos que o PT só perderá para ele mesmo. E nós continuaremos a ver propaganda ilegal e enganosa no horário do telejornal nacional.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Game over

Um sujeito sabe que o jogo acabou quando ouve o apito final do juiz ou a sirene da rádio-patrulha.
Roubar é parte do jogo, pelo menos na ótica merrequinha do filósofo contemporâneo sindicalista, cujo grande mérito foi transformar miserável vegetativo em esmoleiro consumidor.
Abusar de criança é fora da regra, da lógica, da natureza, não tem fiança que pague. É doença mental grave, tem pouco a ver com os dementes que estão se locupletando com o poder e mistificando um estuprador nato.
Roubo, no máximo, leva à exposição na mídia. Pedofilia, no mínimo, leva à desmoralização pública. Os dois crimes juntos, claro, deviam garantir uma temporada no manicômio judiciário.
Aí, sim, este tipo de doido poderia enfim entender porque a família e os amigos de aluguel não estão mais ao seu lado e porque a batida das grades da cela do hospício soa como um sinal de interrogação.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Ratoeira da Bahia

O tempo passa e a realidade da vida obra sutis mudanças no texto da comédia diária da sociedade. No mais das vezes nem se nota, noutras vê-se o rabo nervoso de um rato ou outro. Tempos atrás, antes dos nossos amigos chegarem ao poder, por exemplo, quando um de nós se recuperava de um susto ou de um tropeço ou mesmo de uma queda livre em precipício, costumava-se escrever “recebeu alta e já está em casa”. Hoje, lê-se “foi solto e já está em casa”, pronto, nada de mais, vida que segue. A diferença está na história de cada um, no boletim de ocorrência. O resto é só a farsa cotidiana.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Prometeis



Tira de Laerte, na Ilustrada de hoje.

Prometo que gosto mais de banana que de manga.

sábado, 21 de novembro de 2009

Louvado seja José

Acabei de ler Caim.
É desconcertante.
Quando se lê Saramago o melhor a fazer é esquecer tudo que se imagina que sabe do tema, sejam poetas portugueses, jangadas, moinhos, lucidez, cegueira, morte, seja o que for, ele sabe mais.
Luis Fernando Veríssimo publicou horas atrás, em O Globo, um artigo inteligível sobre Caim, não o livro, sim o personagem. Luis Fernando é bom. Tecnicamente, é dos melhores. Parece que ele odiou o livro, o qual começa por dizer que ainda não leu, e as digressões de Saramago sobre o imaginário popular católico apostólico romano, ou seja, sobre a memória coletiva desta banda da terra. Luis Fernando não conclui o artigo, apenas se debate numa piscina de almanaques e tratados teológicos modelo Edições Paulinas, e alguma improvável versão do antigo testamento descoberta em exploração turística cultural em mercados de Paris ou Istambul, e nos deixa perplexos com uma coluna de sutis insinuações supostamente tão eruditas quanto inúteis.
Verdades e mentiras históricas, em ficção, sinceramente, são a mesma coisa e interessam menos que os impulsos conscientes e inconscientes do debochado narrador. Ler também é tentar entender por que o escritor escreveu aquela história. Nisso, claro, Saramago acerta em cheio. Caim, seja quem for que tenha sido, jamais será o mesmo. A fantasia celestial católica bordada a ouro e pedras preciosas confiscadas de civilizações hereges não é eterna e começa a esvanecer. O velho grande escritor português acaba de deitar-lhe a primeira marretada. O tempo, afinal, começa a corroer o modelo criacionista criado para cabresto da humanidade. Não demora muito, talvez os netos dos nossos netos, e o homem enfim poderá ver-se livre dos princípios cruéis e punitivos da fé cristã.
Mas do que tanto fala o velho português encantado pelo domínio absoluto da narrativa literária? De sexo, ora pois. Justo de sexo, o único tema o qual driblou a perfeição em mais de 10 romances, principalmente em O Ano da Morte de Ricardo Reis, quando o inevitável encontro sexual entre o poeta inventado e uma mulher de carne e osso é reduzido à frase final de um parágrafo de fim de capítulo, como se o leitor só tivesse direito a ouvir apenas um gemido.
Por que Saramago está escrevendo sobre sexo? Acho que sei, mas não posso me meter nisso. O velho poderia me amaldiçoar até o fim dos tempos, embora o outro velho, caso haja, claro, daria boas risadas e talvez até me salvasse da praga do desafeto. Na dúvida, fico por aqui.
O sexo soando como um fagote no contraponto sinfônico da literatura talvez seja uma armadilha de deus que nem um dos mais sábios dos homens do nosso tempo soube lograr perceber.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O circo

Esta é impressionante.
A cantora Madona, reunida em jantar com celebridades e empresários brasileiros, arrecadou mais de sete milhões de dólares em doação para sua ONG SFK.
A Rede Globo, em campanha nacional com maciças inserções comerciais na programação diária durante mais de dois meses, conseguiu arrecadar este ano algo próximo de cinco milhões de dólares para o Criança Esperança.
A cantora ainda teve que sorrir constrangida com pedidos embasbacados para que passe o réveillon em Copacabana e faça o show de abertura das Olimpíadas 2016.
Este é o País. Estas são as celebridades.

Na terra da lorota

A mentira e a desfaçatez são instrumentos legítimos para ataque e defesa política segundo a lógica dos petistas. A história da luta democrática política no país talvez explique, mas nada justifica. Ministros, governadores, prefeitos, deputados, senadores e até o presidente da República falseia a verdade de acordo com seu interesse político imediato. O jornalista Boris Casoy costuma dizer, em casos absurdos semelhantes, que isto é uma vergonha. Eu acho que é um crime. E fico envergonhado. Dá vontade de guardar os livros, recolher lápis e borracha e sair da sala. Os professores enlouqueceram.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O país da Madalena

O apagão esclareceu uma situação encoberta até agora pelas luzes festivas da mídia de comunicação e a falta de liderança política no País:
- O Brasil não tem governo administrativo. Tem apenas um grupo político capaz de qualquer artimanha ou artifício para se manter no poder.
Primeiro, o presidente da República. Nada disse de relevante, apenas tentou se justificar e desviar o foco do problema, igual ao que sempre faz quando enfrenta um problema real.
Segundo, o ministro das Minas e energia, o senhor Edison Lobão. Nada mais deslocado da cena técnico administrativa de um Ministério. É homem de negociatas políticas, talvez não saiba nem trocar uma lâmpada queimada. Presta serviços íntimos a José Sarney, não pode ser levado a sério.
Terceiro, a ministra da Casa Civil, candidata preferencial do presidente a Presidência da República, Dilma Roussef. Ninguém sabe ninguém viu, a ex-ministra das Minas e Energia simplesmente sumiu.
E, por último, o Ministro da Justiça Tarso Genro. O ex-governador gaúcho foi de uma infelicidade ímpar ao tentar minimizar e politizar o problema. Impressionante a desfaçatez e a cara de pau.
Cadê o Governo?
Esta por aí roubando uma licitação qualquer ou fazendo um filmezinho emocionante sobre o nada ou enfeitando um palanque engana-trouxa para a grande festa cívica do próximo ano.
O que o senhor poe fazer?
Como diria o ex-ministro Gilberto Gil, vá na próxima capela e acenda uma vela.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A luta do século

O único cara capaz de derrotar Lula é Fernando Henrique Cardoso.
O PT acredita que a chave da vitória na próxima eleição está no confronto dos governos Lula e FHC. O poder da propaganda inspira e fortalece a estratégia governista. O que os petistas de todas as estirpes não percebem é que o confronto pessoal entre o mesmo Lula e Fernando Henrique Cardoso indica outros resultados.
Lula fica ruborizado quando enfrenta Fernando Henrique e nem a tentativa de diminuir o inimigo a uma sigla de baixa popularidade disfarça a insegurança do discurso do presidente.
Lula é tão mau aluno quanto Fernando é mau professor, todo mundo sabe disso. A questão é que a serenidade lógica do mestre do conhecimento acadêmico, além de incompreensível para o interlocutor, desequilibra as emoções do aprendiz de feiticeiro de causas populares.
O povo e a democracia ganhariam muito com uma disputa direta entre os dois maiores nomes da política nacional nas últimas décadas.
Dilma e Serra poderiam fazer uma espécie de preliminar. Para continuarem a ser isso que já são.

Filosofia moderna

Amar é dividir o mesmo computador.

.

Ordem unida

Outro palpite esportivo.
A briga pelas quatro vagas no ataque da Seleção Brasileira.
São vários candidatos: Luís Fabiano, Robinho, Adriano, Ronaldo, Nilmar, Pato, Tardeli e Fred. Acho que Dunga vai usar o mesmo critério que deve definir o campeonato brasileiro, ou seja, vai convocar quem é de fato decisivo. Ontem, por exemplo, nos campeonatos pelo mundo afora, todos jogaram. Robinho, Nilmar e Tardeli não marcaram. Adriano, Ronaldo, Pato e Fred deixaram o golzinho de costume. Luis Fabiano, o mais garantido de todos, fez dois. É a lógica invadindo a caixinha de surpresas.

Palpite esssssportiiiivo

Vai dar Flamengo no campeonato brasileiro.
O campeonato brasileiro está sendo disputado entre jogadores e técnicos. Acho que vai dar o time dos jogadores, o Flamengo. São Paulo e Palmeiras são times de treinadores. Eu acho que na mesmice da alta competitividade do futebol profissional, além da compactação coletiva está a qualidade individual. Ganham títulos os times que tem jogadores decisivos, que significam um gol por partida cada um. O Flamengo tem dois jogadores com esta qualidade, Adriano e Petkovic. São Paulo e Palmeiras não têm nenhum. O Grêmio, no último jogo, no Maracanâ, é o problema do Flamengo.
Grande campeonato. Os torcedores de futebol mereceram. É bonito saber que havia 32 mil pagantes para ver Bahia e Fortaleza brigando contra o descenso para a 3ª divisão e mais de 65 mil tanto no Mineirão quanto no Maraca, para Flamengo e Atlético e Palmeiras e Fluminense. Ganha todo mundo. O país do futebol sacode a poeira.

sábado, 7 de novembro de 2009

O analfabeto e o burro

O cantor e compositor Caetano Veloso deu com os burros n’água.
O veterano polemista descuidou-se da abrangência política que uma declaração de boteco pode alcançar ao usar uma expressão equivocada e agressiva para conceituar atitudes do presidente da República. Não é bem assim, e Caetano sabe que não é bem assim. Lula devolveu com a precisão de um analfabeto com mestrado e doutorado em bate-boca, seja em que língua ou palácio ou canto do mundo for. O próximo passo da polêmica está nas mãos do baiano tropicalista. A questão é saber se ele será burro o suficiente para contra-atacar ou vai calar-se para sempre.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O país da Bahia

Talvez como nunca esteve, a sucessão do governo baiano está a reboque do panorama político nacional. O drama estratégico do discurso da oposição é o mesmo: como oferecer alternativa ao que está dando certo. Não que o governo esteja trabalhando certo, pelo que se sabe e se vê nas ruas, nas escolas, nos hospitais, nas estradas, o governo local é um lixo só, igual ao Federal, mas o que vale hoje, aqui ou ali, tanto faz, é a propaganda. E propaganda enganosa, repetida à exaustão (lembram daquele princípio nazi-fascista defendido pelo general Golbery?) acaba se transformando em verdade. O povo continua comendo o mesmo maldito arroz e feijão, mas arrota para pesquisadores de Ibope como se tivesse comido filé com fritas.
O quadro sucessório baiano, até ontem, estava definido entre o governador Jacques Wagner, um cidadão bem paginado graficamente, mas longe de ter pelo menos dois por cento do carisma de seu líder e mentor, Lula, o ministro da Integração Nacional Geddel Vieira, uma figura desenhada no figurino Pátria, Família, Propriedade e Conversa Fiada, e o ex-governador Paulo Souto, tido como cachorro grande, brigador, mas do qual já mal se ouve a voz. Agora, trazido pelos ventos da esperança verde e pelos espíritos da religiosidade política, invade a cena o deputado federal Luis Bassuma, ex-PT, líder do espiritismo kardecista, e que chega interpretando o melhor personagem possível no atual contexto político, o profeta dos novos tempos.
Ninguém dá nada por ele. Eu acho que é pule de dez. Aqui é a Bahia, e como o Rio Grande do Sul, não tem nada a ver com Brasil. Aqui quem manda é a galera. E a galera que adora uma reza.

Prato do dia

Sábado de rever amigos, o futebolzinho do fim-de-semana continua sem fôlego, mas o almoço de confraternização num restaurante da Boca do Rio ainda revigora amizades e conhecimentos. Como todos nós sabemos jornalistas e marqueteiros só tem um assunto, Lula, o mito que divide tribos e consciências, mas o tema surpresa em torno da rabada com pirão de leite foi justamente a moça da minissaia acossada por um bando de tarados numa Universidade em São Paulo. Os outros assuntos, dona Vilma, a santa Marina, o programinha do DEM na tevê, os desarranjos políticos baianos e as emoções esportivas do dia não foram tão apaixonantes quanto à loura exibicionista.
O melhor veio no fim, com generosas porções de cocada e ambrosia, dois expressos com creme e ainda pagaram a minha parte da conta!
Ah, sim, fiquei a favor da loura. E contra o Lula, claro.

Aos mortos

Dia de Finados, bom dia para reaparecer.
Está ficando muito difícil, para um profissional de palavras, escrever a sério sobre política e comunicação.
O País é uma aquarela de tragédias e esperanças.
Os nossos amigos estão no poder.
A esquerda de extrema-direita venceu.
Não há mais o que fazer.
Vivemos a era do espetáculo do nada, a fantasia ressalta desenvolvimentismo com justiça social e ação ambientalista sustentável.
Tire-me o tubo, ó senhor.
Eu não quero esquecer meus sonhos.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Arte de nunca mais

O crítico de arte de O Estado de S. Paulo, Daniel Piza, está com uma enquete muito interessante em seu blog, Qual o Mais Belo Quadro da Arte Brasileira? São 10 opções, com a devida reprodução, alguns esquecimentos imperdoáveis, e uma certeza, quase todas as obras são do início do século passado. É uma boa oportunidade de admirar um pedacinho mínimo da pintura nacional, tragicamente desaparecida, como a literatura, no alvorecer do poder econômico e na assunção da ignorância no Brasil do capitalismo organizado ou do descaramento demagógico, você pode escolher um ou outro, como o condenado tem o sagrado direito de decidir se vai ser fuzilado com vendas nos olhos ou não.
Eu fiquei com Di Cavalcanti e suas gurias de Guaratinguetá, mas gostaria de ver algo de Siron Franco ou um dos auto-retratos de Caymmi. Também gostaria de rever uma aquarela que pintei do lago da Redenção, quando era ginasiano no Julio de Castilhos, na mesma época em que os milicos davam o golpe no Brasil. Mas acho que isto já é outro assunto.
Não pude reproduzir o quadro porque o botão da direita de meu mouse resolveu calar-se para sempre.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Fim de linha

Estou sem escrever no blog porque tenho passado o tempo inteiro tentando arranjar um trabalhinho. Perdoem-me. E se souberem de alguma coisa... o perfil é simples: jornalista veterano, meia atacante e romancista obnubilado.
Não consigo mais ler sobre política. O cinismo, a roubalheira e a demagogia, como se fosse um trio sertanejo, tomam conta das paradas de sucesso.
A palavra do presidente da República e dos candidatos a presidente da República não valem um tostão furado.
Vou tentar mudar o foco, para não jogar no ralo esses mais de 460 posts em 10 meses de blog.
Hoje, por exemplo, vi uma materinha no UOL sobre a cantora e compositora Angela Ro Ro, celebridade ao avesso da minha geração. Sempre gostei da gordinha sapatão e agora passei a admirar.
Vejam o que disse a doida sobre si mesma:
"Eu não deixei de ser louca. Loucura é criatividade, ousadia, questionamento. Deixei de ser alcoólatra, 'toxicômana' e tabagista de plantão. Foram 56 kg que eu perdi. Estou mais sadia, mas a loucura me orienta."
A mim também. O problema é seguir adiante sem saber qual o letreiro do bonde.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Papel do céu



Angeli, na Ilustrada de hoje.

Minha mãe eu vou pra Lua

O presidente Lula, com candidatos preferenciais a tiracolo e uma renca de militares obtusos e politiqueiros puxa-sacos como saia rendada, está iniciando um tour de três dias pela região da transposição do rio São Francisco. A marcha, que vai utilizar avião, barcos e camionetes off-road, está sendo chamada pela mídia cooptada como a Coluna Lula, isso em desastrosa comparação com a histórica Coluna Prestes.
Em busca de ribalta para expor seus favoritos ao eleitorado e de fatos políticos que possam reforçar ainda mais sua espetacular biografia, Lula não se importa nem um pouco de fazer o papel principal em um movimento político-eleitoral que não passa de uma farsa histórica. Prestes era um comunista gaúcho revolucionário. Prestes lutava para mudar o regime político nacional. Lula é o governo. Lula é o cara a ser batido. O marqueting político governista parece não ter limites para seus devaneios políticos ideológicos irresponsáveis. E Lula adora se aproveitar desse vácuo na mídia de comunicação nacional.
O governo esquerdista do Brasil está a cada dia mais autoritário, populista e demagógico. E o povo batendo palmas.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Casualmente


Laerte e Angeli, na Ilustrada de hoje.
- Pra você.


domingo, 11 de outubro de 2009

Bonequinha da vez

Candidata disciplinada no cabresto do marqueting político, a ministra da Casa Civil da Presidência da República Dilma Roussef perpetuou nas últimas 48 horas o mais impressionante périplo político ecumênico da história da democracia demagógica neste país.
Tomou banho de pipoca no sincretismo religioso baiano, andou atrás da santinha no rio de gente em Belém do Pará (não se sabe se ela conseguiu segurar na corda) e deve estar agora saracoteando à vontade no bloco católico da emoção barata, em Aparecida do Norte.
É a mulatinha de todas as contas e rosários de tantas cores, fidúcias e atitudes morais desta vasta Nação, cada vez mais política-esportiva em vez de humana, igual e progressista.
Aleluia, isquindum, saravá e amém.

Domingo nublado

O grande garoto-propaganda do Governo Federal, capaz de vender centenas de milhares de carros novos em um único dia, para aumentar os índices de poluição no País, endividar a classe média cretina e enriquecer um pouco mais as financeiras e as montadoras de automóveis, fez mais um gesto decisivo para diminuir as desigualdades sociais neste País de futuro esportivo tão promissor: diminuiu o IPI sobre fogões e geladeiras. E também, em outro gesto magnânimo, resolveu doar R$ 400 mil aos ex-jogadores da Seleção brasileira que foram campeões do mundo. E a realidade da vida está aí, todo dia, com cabras de brincos eleitorais, tragédias naturais cotidianas num país de infra-estrutura de castelo de cartas, combate aberto entre povo e polícia em terminais de transporte público, chacinas inexplicáveis na guerra interminável entre polícia e traficantes e o maior festival de corrupção com dinheiro público que este –ou qualquer outro– país já viu. E o garoto Casas Bahia baixa alguns centavos no preço do fogão e distribui algumas esmolas públicas para ex-heróis populares, tudo devidamente registrado pela mídia “golpista e reacionária” numa espécie de caixinha eleitoral, cujo som é aquele mesmo que todos nós conhecemos: plim, plim..
Mas hoje é domingo, melhor pensar na primavera, como fazem os jornalistas da Rede Globo. Desovei estas mal traçadas aí de cima só porque tenho o absoluto direito de dizer alto e bom som, todos os dias, que continuo me guardando pra quando o carnaval chegar. E esse papo covarde de esquerda pragmática, por favor, nunca mais...

sábado, 10 de outubro de 2009

E aí, papai?



Laerte, na Ilustrada de hoje, Minha Obra Prima.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Melhor vendedor

A literatura ainda não conseguiu sobrevoar todo o vasto e misterioso território do mercado editorial brasileiro. Aqui não apenas não se escreve, como também não se lê. Três vezes não.
Dias atrás recebi um borderaux da Editora sobre as vendas do meu romance. Por questão de ética editorial (!?) e absoluta vergonha na cara, não comento. São números inquietantes. Eu sabia, como todo mundo, que 2.000 exemplares significam best seller para autores desconhecidos no Brasil. Mas na Ilustrada de hoje, notei que as coisas não são bem assim, como diria o presidente Lula. São bem piores.
O borderaux da escritora Herta Mueller, prêmio Nobel de Literatura, é bem mais inquietante. Ela foi publicada em 2004, com o romance O Compromisso, tradução de Lya Luft, editora Globo, tiragem de 2.090 exemplares. Vendeu, até junho, 284 livros. Ontem, depois do anúncio do Nobel, vendeu o restante da edição.
Das duas, uma: isso quer dizer que somos um país de novos ricos aculturados ou que eu sou sério candidato a best seller.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Mas não vou acender agora...

A Rede Globo está tentando escandalizar a classe média desde ontem com as imagens de um trator pilotado pelo MST derrubando pés de laranja. O MST, definitivamente, caiu em desgraça com a mídia oficialista. A pureza ideológica, o sagrado direito à vida, toda aquela conversa acadêmica política sindicalista desapareceu dos jornais, das revistas, dos botecos, das esquinas. A idéia da reforma agrária não interessa mais ao país do suposto agronegócio. O MST serviu como bandeira de liberdade, agora não serve nem como pano de chão. A concentração de terras de grandes proprietários aumentou nos últimos anos.
Mas estamos numa ensolarada quarta-feira na Bahia, a terra das cabras com brinco. Talvez seja melhor ouvir uns sambas para distrair este gosto ruim na alma.
Eu, me fazendo de canoeiro, achei uma lista de grandes sambas na Rádio Eldorado, via link no Estadão, e já estou cantarolando “era um peito só, cheio de promessa era só!”

http://www.territorioeldorado.limao.com.br/musicas/playlists/playlist.php?guid=F358AB5F611741A584D78D45BE9CE1DE,samba

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O mundo perfeito

Apesar de nunca nesse país ter havido tanto crescimento e tanta redistribuição de renda, segundo a propaganda oficial, e tanta felicidade expressa nos sorrisos sensuais da novela das oito, o Brasil continua na mesmíssima posição de 75º país do mundo no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas.
A China subiu sete posições. Colômbia cinco. E Peru também. O Brasil de Lula está empacado. Mas, é preciso reconhecer o esforço do marketing político oficialista, rebolando como nunca.
Amanhã os senhores poderão ler mais algumas informações específicas no Estadão e na Folha, na certa com alguns comentários de economistas, sociólogos ou cientistas políticos. Mas isso só nesses dois jornais, o resto da mídia tentará desviar atenção do distinto público para algum improvável ponto de vista positivo, como esta pérola de manchete do portal Terra, agora de manhã:
-Brasil permanece estável em índice de desenvolvimento humano.

Pau que nasce torto

O simpático presidente da República não se emenda. Ainda embriagado pelos vapores festivos da fabulosa vitória internacional obtida pelo esporte brasileiro, afirmou com a empáfia da impunidade que discutir transparência nos gastos públicos da Olimpíada diminui o Brasil aos olhos do mundo.
Como assim?
O presidente precisa perder essa mania de acreditar que existe um Brasil para uns e outro para outros, que existe leis pra uns e não existem para outros e que há pessoas incomuns, acima do bem e do mal, ou melhor, acima da lei, da ordem, da ética e da vergonha na cara.

Farsa news

O jornal O Estado de S. Paulo está dando um banho histórico de jornalismo independente na Rede Globo. Está interessante de se assistir e devia ser debatido nas salas de aula de comunicação pelo País afora.
Jornalismo independente, como todo mundo sabe, é aquele que não recorre a favores oficiais para abrir portas ou obter documentos sigilosos ou exclusivas versões oficiais.
A Globo saiu atrás no caso da fraude na prova do Enen e não consegue chegar à ponta da matéria. Hoje, no esfuziante Bom Dia, Brasil, o redator fez um elaborado exercício de esconde-esconde para dizer, sem a menor cerimônia ética, digamos assim, que alguém roubou a prova do Enen para vender a um repórter do Estadão.
Essa ignomínia foi dita pelos lábios sorridentes da beleza matinal global, dona Renata Vasconcelos. O repórter de rua, não lembro o nome e nem quero lembrar, repetiu exatamente a mesma frase. Em seguida, o senhor Renato Machado, com cara de quem não sabe de nada, viu-se obrigado a mostrar a página de hoje de O Estado com toda cronologia do crime, inclusive depoimentos completos à Polícia e fotos dos criminosos.
A Globo se comporta como se dependesse dela a defesa da “instituição” Ministério da Cultura. Os fatos, como tudo que ocorreu de ilegal até agora no governo Lula, não interessam aos manipuladores da opinião pública nacional. Vale o que está escrito.

Deus, o filme

Recebi agora de manhã de um amigo que curte borrifar gasolina em fogueira.
Também ardoroso admirador de circo em chamas, repasso aos clandestinos leitores desse blog semi-invisível.
Entonces, tirem as crianças da sala, preparem uma caixa de lenço de papel, e vejam isto:

http://www.youtube.com/watch?v=zRUfdAI7u3g&feature=player_embedded#

domingo, 4 de outubro de 2009

O que é isso, companheiro?

Tem craque de futebol que bate pênalti na mão do goleiro. É do jogo. Pistoleiro dar tiro no pé também é normal em duelo à bala. O que não dá para entender, em política profissional, é um candidato majoritário preferencial adotar métodos eleitorais oportunistas como se estivesse disputando diretoria em sindicato profissional ou em time de futebol da várzea. É de dizer, pô, parece que bebe.
O governador Jacques Wagner está a reboque de um plano de marketing eleitoral absolutamente idiota. Ele acaba de colocar em prática, ou colocaram por ele, tanto faz, um amplo projeto de doação de cabras e bodes para agricultores familiares de baixa renda, com um brinco na orelha de cada animal exibindo a logomarca do Governo do Estado e o slogan de sua gestão. O projeto custa mais de R$ 12 milhões no momento em que a Bahia vive graves crises nos setores de Educação, Saúde e Segurança. E o pior: a associação baiana de criadores de caprinos diz que os animais oferecidos são de baixa qualidade.
Wagner é governador bem avaliado, candidato a reeleição. É do partido de Lula, tem apoio de Lula, tem a caneta do milagre nas mãos, está com medo de quê? De Paulo Souto? De Geddel Vieira? Será que o governador não sabe ou não acredita que o maior eleitor baiano é um senhor chamado Lula? Souto perde para Wagner, a Bahia já viu esse jogo. E Geddel perde para Lula, na hora que Lula quiser ou mandar, todos caímos de saber disso.
Mas o jogo é jogado, o lambari é pescado e cabra não usa brinco!
Mais uma derrapada dessas do marketing do governador e algum político de oposição pode lembrar ao distinto público que Wagner, com aquela barbinha caprichosamente desenhada, é ele mesmo o bode no meio da sala.

Pátria olímpica

A estrela sobe e os brasileiros olham para o céu. Nunca na história deste País um político brilhou tanto no cenário internacional, e nem ninguém jamais auferiu tantos dividendos eleitorais, como o presidente Lula nos últimos dias. Uma performance extraordinária e até meio miraculosa.
Os valores do marketing político, como se conhece até então, estão absolutamente alvoroçados, para não dizer de cabeça para baixo, como a prometida bananeira de Paulo Coelho em Copacabana.
Lula catou os cavacos, ajeitou a fogueirinha, colocou seus tubarões no espeto e ele mesmo acendeu o fogo. O resultado é churrasco da melhor qualidade. Mágica é mágica. O que valia ontem, nos elaborados conceitos da ciência política, como transferência de votos, por exemplo, hoje vale tanto quanto palpite na mega-sena.
Lula, neste iluminado momento midiático nacional, elege até um poste. Ou um poste chamado Dilma.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Resistir é preciso

Imprensa independente é garantia de saúde administrativa do Estado.
Esta é uma verdade prática que se aprende em qualquer setor de redação de jornal diário, mas que parece não chegar aos ouvidos de lógica política sindicalista dos governistas, sejam estes o iluminado líder nacional, os ministros marqueteiros, os senadores que vestem ternos milionários ou simples entusiastas assalariados de uma ideologia mais esfuracada que peneiras à luz do sol. Hoje há um exemplo claro no noticiário do dia.
Uma repórter do Estadão descobriu que a prova do Enen havia vazado, procurou o Ministério da Educação e conseguiu evitar uma fraude sem precedentes na história do ensino superior no Brasil. Isto é jornalismo independente e é disso que o País precisa -não de manchetes que só dizem amém.
O Estadão é um dos últimos bastiões de liberdade de opinião, de independência de verbas oficiais, de compromisso com a ética na mídia de comunicação nacional. O Estadão e a Folha talvez sejam os únicos jornais do país que resistem à idéia governista esdrúxula de jornal único, nos moldes da antiga imprensa soviética e tão a gosto do pensamento liberal transversal fascista que vigora nos encastelados do Planalto.
O interessante desta história é que o jornal circula todos os dias, tanto nas bancas como na Internet, com uma faixa preta abaixo da logomarca avisando que está sob censura. A censura foi determinada por um juiz do Maranhão, a pedido de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado e líder de uma quadrilha especializada em desviar dinheiro público.
E tem gente que pensa que a ditadura é em Honduras.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

One note samba

Descobri no rastro de um post no Noblat hoje de manhã.
A rainha de Los Grandes.
Música pura na língua de todos, esta mesma que temos dentro da boca.

Esta semana vamos enfrentar os imperadores do Norte pela indicação da cidade sede das Olimpíadas de 2016.
Para ela, ou melhor, Ella, temos Elis.
Para Jordan, temos Pelé.
Para Obama, Lula.
E para Chicago, temos o Rio.
Vamos mostrar ao mundo que nossos baixinhos são melhores que os altinhos deles.

http://www.youtube.com/watch?v=PbL9vr4Q2LU&feature=player_embedded

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Big brotherzinho

Cooptação política de jornalistas venais sempre foi o método preferido de políticos carreiristas sem compromissos ideológicos. Antigamente, no tempo dos militares, por exemplo, o poder central comprava empresas jornalísticas inteirinhas, da antena da emissora de tevê aos charutos do redator-chefe, mas agora, talvez por economia, os moços encarregados da lógica política governista têm assestado a mira em colunistas estratégicos para influenciar formadores de opinião. Hoje, com a similaridade cada vez mais estreita entre a ótica nacionalista militar e a postura estatizante de um governo que se pretende social-democrata, parece que o velho método de compra por atacado está de volta.
Um exemplo?
Manchete do portal UOL de agora de manhã:
Lula é visto como herói pelos apoiadores de Zelaya.
O outro lado desta notícia é escandalosamente verdadeiro –ou seja, Lula é visto como um invasor, tanto pelo governo de Honduras como o Departamento de Defesa dos Estados Unidos.
A decisão de manchetear apenas uma tendência do fato, portanto, foi claramente o que se chama de manipulação editorial.
Já há alguns meses quatro das dez maiores empresas de comunicação do País, Globo, Bandeirantes, UOL e Terra, são dedicados porta-voz do Governo Federal em todos os níveis.
Isto sim é que é ditadura, o resto é Honduras...

Um buque de guerra

A maior dificuldade para escritores ficcionistas, depois da criação do argumento e do esqueleto emocional do roteiro, é compor os personagens. A vida real, claro, é a referência principal e o noticiário dos jornais diários a maior fonte de inspiração.
Imaginem, por exemplo, criar um conto realista com um velho aposentado da Marinha nacional, um sargento taifeiro, que tenha passado grande parte da vida realizando pequenos furtos para compensar o salário magro para tantas almas e bocas dependentes, e que tenha sido pego em flagrante, já com mais de 60 anos de idade, furtando duas latas de leite em pó num supermercado, autuado, fichado e despejado numa cela de presídio, e a família tenha ficado lá na favela, com os bicos abertos como filhotes no ninho.
Dramático e instigante, não? Não. Não é imaginação. O cara existe e o fato aconteceu mesmo, ontem, no Rio de Janeiro. E deve estar acontecendo algo parecido agora, em outro canto do país. É. Este é o país, estes somos nós, marinheiros e escritores, e esta é a brava Marinha nacional, a mesma que está comprando submarinos nucleares.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Los grandes

É Clementina cantando com medo as aventuras de seu povo aflito,
é seu Francisco me ensinando que a luta é mesmo comigo.

http://www.youtube.com/watch?v=VyGGQ1ahsI8

Segundona

Alguns pontos anotados no fim-de-semana e nos quais se deveria pensar durante a semana:
-A execução pública de um assaltante, com direito a tevê, tiro na testa e aplausos entusiastas do público presente.
-O que leva a justiça do país mais livre do mundo a prender um cineasta genial por ter transado com uma menina 30 anos atrás?
-Por que um golpista está refestelado em uma embaixada brasileira como se esta fosse um galinheiro e ele um grande pensador refugiado?
-Por que o presidente Lula usou o mesmo mote marqueteiro de George Bush (vamos às compras!) para combater a crise econômica?
-Dilma, como diz seu pai político, ou Vilma, como diz o povo, contratou o marqueteiro de Obama para sua campanha, como se o cós tivesse alguma coisa a ver com as calças.
-Os jornalistas da Rede Globo, todos!, estão superando os imitadores de artistas que a empresa tem no elenco na busca insaciável por emoções fugidias.
-Como o Grêmio conseguiu perder por 2 a 1 um jogo que estava ganhando de 1 a 0 contra um timezinho sem qualquer expressão como o chatíssimo Goiás?

domingo, 27 de setembro de 2009

Sem fumaça

Domingo, sol de calor, céu azul, levanto com vontade de ir à praia. Digo sol de calor porque estou na Bahia, se estivesse no Rio Grande diria sol falso. Faz mais de ano que não vou à praia, pelo menos de sunga e com intenção de mergulhar. Deve ser a vida nova que a medicina prevê para a gente quando se larga o cigarro. Deve ser. Parece que de fato estou mais disposto, mas a desconfiança com o mundo mau continua a mesma. Não vou à praia.
Ontem, tive dose suficiente de contato externo. Não houve futebol aqui em casa, mas manteve-se o encontro semanal de velhos companheiros de máquina de escrever e de desatinos ideológicos. Convocado com elegância e intimado com severidade, fui a um restaurante na Boca do Rio para degustar rabada com pirão de leite e me deliciar com o debate político em mesa de veteranos jornalistas independentes de repente trajando vistosas bandeiras partidárias.
Em meio a golpes de alfinetes afiados e sorrisos debochados, percebi que aquela mesinha de falastrões risonhos reunia em torno desta voz anarquista solitária um assessor do Prefeito (PMDB), dois assessores do governador (PT) e um assessor do candidato adversário (DEM). Todos pensadores liberais progressistas e que não se entendem quanto aos mais simples conceitos de democracia.
Voltei para casa com um sorriso pregado no rosto e chupando uma balinha de menta dissimuladora, com a certeza de que as incoerências políticas não são decisivas nem tem qualquer importância para relacionamentos de amizade. Mar de Piatã e Itapuã verde clarinho como uma esperança tímida. Não tem Lula no mundo que perturbe a realidade da vida. Esta ninguém tasca, a gente viu primeiro.

sábado, 26 de setembro de 2009

Kung Davi

Sensacional flagrante feito pelo tio Mano do pódio da premiação do campeonato infantil de judô em Porto Alegre. A foto é sensacional porque mostra em primeiro plano meu neto Davi já com a medalha no peito e pronto para ouvir o hino nacional.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Os maiorais e o maioral

O presidente Lula estava indo tão bem nas aparições internacionais. Respeitado pelo desempenho da economia brasileira, pela consolidação do processo democrático e pela postura ideológica em favor dos povos menos favorecidos, Lula estava, como se dizia antigamente, dando cartas e jogando de mão em mesa de profissionais calculistas como Obama, Sarkosy e Berlusconi. Beleza.
Mas de repente, sem mais nem porque, sabe-se lá por que cargas d’água, Lula resolveu interferir em Honduras, uma pequena República centro-americana com mínimas relações comerciais e culturais com o Brasil. A foto que ontem era brilhante, hoje amanheceu esmaecida. Lula, ao que parece, usou aquela velha idéia política de que para resolver um problema, nada melhor do que outro problema. Zelaya na Embaixada brasileira em Honduras é o bode na sala. Agora, segundo a lógica do marketing, basta tirar o bode da sala.
O prestígio internacional brasileiro já se esfuma como surgiu, na poeira do tempo, e aqui no quintal, fora o assombro da população com a expectativa de o Brasil se envolver em um conflito internacional, já floresce mais desarranjos políticos partidários do que Maria-sem-vergonhas e para alvoroçar ainda mais o cenário se sabe que dois caças franceses Rafale, do tipo que estamos comprando por bilhões de dólares, caíram no mar em simples manobras de exibição.
Ainda bem que nada temos a ver com o fato de uma sonda indiana ter descoberto água em mais de 60 por cento do solo lunar. Se não já estaríamos lendo um comunicado oficial da Presidência da República de que Lula não sabia de nada, é tudo mentira até que se prove o contrário, mas a Petrobrás já estaria estudando uma maneira de prospectar a água lunar, engarrafar e distribuir ao sofrido povo nordestino, porque nunca neste país o povo teve oportunidade de tomar água da lua e blá, blá, blá.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Manicomial

Em homenagem ao primeiro dia da primavera neste ano de vácuo nacional em que o país parece estar despressurizando aos poucos, relacionamos (eu e eu mesmo) alguns fatos correntes do noticiário diário. Então, as flores da primavera ao vivo nesta quarta-feira 23:
-um golpista centro-americano invadiu a embaixada brasileira em Honduras e garante que “daqui não saio, daqui ninguém me tira”.
-o governador do Mato Grosso do Sul diz que o ministro do Meio Ambiente é veado e que poderia estuprá-lo.
-O filho do senador José Sarney afirma que nomeia quem quiser para o Senado.
-o ex-deputado federal cassado por corrupção José Dirceu indica diretor da Petrobrás e ministro do Supremo e critica pesquisas eleitorais desfavoráveis à sua candidata.
-O boxeador Acelino Freitas, o Popó, é acusado de mandar matar o namorado da sobrinha e se candidata a deputado federal.
-O ex-deputado Hildebrando da motosserra diz que foi um correligionário seu quem cortou braços e pernas, furou os olhos e cravou um prego na testa de um suposto inimigo.
-O crime organizado na Bahia não admite mais prisões pela Polícia Civil e queima ônibus urbanos como forma de retaliação.
Se o governo democrata-nacionalista mandar cercar o país nesta adorável primavera, finalmente seremos o que sempre fomos, ou seja, um horto no hospício.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Ignorância na Web

A atriz Dirce Migliaccio morreu hoje, no Rio de Janeiro, em um hospital público municipal. Era um dos grandes nomes do cinema nacional, com passagem obrigatória, por questões de desequilíbrio comercial do mercado cinematográfico nacional, pela dramaturgia televisiva -ou a indústria noveleira que estraçalhou a arte da interpretação no Brasil. A prova deste descalabro crítico está no textinho biográfico da UOL sobre a trajetória profissional da atriz, onde o desinformado redator destaca a atuação da veterana atriz como Emília, no original do Sítio do Pica-Pau Amarelo, um papel humorístico para uma novela de Dias Gomes e o fato de ser irmã de um ator da novela Caminho das Índias! A perfomance de Dirce no Assalto ao Trem Pagador, o maior filme da história do cinema nacional, com atuações históricas de Átila Iório, Grande Otelo e Reginaldo Farias, não foi sequer citada. E olha que nessas redações de hoje em dia tem até ombudsman. Para quê?

Toada nordestina

Novas pesquisas eleitorais indicam que embolou de vez a disputa para ver quem vai para o segundo turno com José Serra. Ciro e Marina crescem, Dilma murcha, ou melhor, bufa com o favoritismo contestado. Ainda tem muito tempo pela frente, os barra-bravas do PT consideram cedo para puxar o presidente e avisar “gorgulho deu no feijão, colega”, muitos esperam por uma reviravolta, embora nem o milagreiro pré-sal tenha funcionado, e talvez, na verdade dos fatos, já passe da hora de anunciar, isto sim, que “mofo deu na farinha”.

Nada vele nada

Está enganado quem imagina que haja uma mudança fundamental, um avanço irreversível no judiciário nacional, com a indicação do advogado José Dias Toffoli para ministro do Supemo Tribunal de Justiça. Apenas sai um coroa, por morte, e entra um garotão, por esperteza. Os dois nasceram e cresceram no mesmo berço ideológico, o fundamentalismo católico de extrema-direita. O morto combatia o uso de células-tronco na medicina, o esperto advoga em favor de criminosos torturadores do tempo da ditadura militar. O presidente Lula, como sempre, está coberto de razão ao dizer que tudo que a oposição diz sobre o caso é “bobagem”.

domingo, 20 de setembro de 2009

Modelo de façanha

Hoje é dia de revolução. Vinte de setembro. Dia de lembrar a guerra dos gaúchos contra os brasileiros. Dia de reverenciar a luta do Rio Grande para ver-se livre do Império do Brasil. Uma guerra que durou dez anos e deixou mais de dez mil mortos. O Rio Grande perdeu e o Brasil venceu, embora algumas almas desencarnadas acreditem que o combate ainda não acabou.
A Guerra dos Farrapos não tem nada a ver, como pensam alguns débeis mentais de lá e de cá, com tradicionalismo nativista dos grupos folclóricos que cultuam bombacha, churrasco e gaita como expressão cultural. A revolução farroupilha foi um movimento separatista, de luta armada pela independência e liberdade do povo gaúcho em relação ao governo imperialista nacional. Não foi um passeio no bosque nem um convescote político. Foi uma luta em nome da vida e valia a morte.
Lembre-se dos farroupilhas hoje, eles merecem. Os farroupilhas foram os primeiros governantes de uma Nação de direito que nunca chegou a existir de fato. Um país que continua plantado no imaginário popular. Como uma semente de realidade.

sábado, 19 de setembro de 2009

Vanerão axé

Pobre Rio Grande, triste Bahia.
Não bastasse a chuva e a incompetência do governo, a terra da liberdade viu-se obrigada ontem a suportar a visita sarcástica do presidente da República. Fiel ao estilo dúbio e à desfaçatez das opiniões, Lula preferiu se escudar na lei pra não dizer o que pensa sobre a sucessão do governo gaúcho. O presidente foi incapaz de afirmar apoio a Tarso Genro e ainda deixou escapar nas entrelinhas do seu discurso tatibitate que pode apoiar uma candidata ao governo do Estado, que quer dizer, claro, Maria do Rosário, para perder, claro, para José Fogaça.
Lula, desta vez sem ofender diretamente a todos os gaúchos, como costuma fazer de vez em quando, mas apenas aos pobres crentes ingênuos do Partido dos Trabalhadores, insinuou no seu palavreado de duas caras que prefere candidatos alinhados com o partido de seu bolso e coração, o PTMDB.
Na Bahia, antítese espiritual, política e cultural do Rio Grande, a situação é a mesma. Sugiro, com a humildade do sol que acaba de bater em minha janela, que Tarso Genro e Jacques Wagner apóiem outro candidato ou candidata que não seja a favorita do Planalto, a guerrilheira manequim do diploma fajuto em favor dos interesses do capital internacional. O motivo? O País está ficando para trás no que interessa diretamente à massa da população, a Educação e a Saúde. Antes dos jatos supersônicos e dos submarinos nucleares, talvez fosse razoável alfabetizar o seu João e garantir atendimento médico para dona Maria.

Eleitoooooraaaiiisss

Ciro Gomes está desde ontem à noite estrelando a capa do maior portal de notícias do País, com sorriso de serial-killer sedutor. O destemperado mais simpático da classe política nacional descobriu agora que é mais provável se eleger presidente da República do que governador de São Paulo. Nada demais, todo mundo sabe disso. Ciro ainda acredita que Lula pode mudar e desistir da candidatura de Dilma. Difícil, talvez impossível, ninguém confia em ninguém em política.
Então, também inspirado nos raios de sol deste sábado baiano primaveril, eu sugiro ao bravo paulista cearense que se candidate ao hipotético cargo de Presidente do Mundo. Pelo menos no quisito Primeira-Dama, ele levaria grande vantagem, só perdendo para Nicolai Sarkosy. A vitória viria se o francês, docemente respaldado na sua primeira-dama, resolvesse concorrer, com folga, a Presidência da Via Látea, de olho no trono de Deus, claro, pois a Virgem Santa já está ao seu lado.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Isto é ela




Pra dar outro toque lateral na realidade da vida, sem querer brigar com deus, afinal a primavera já veste cores e luzes de fantasia, mas vejam e ouçam isto.


Realmente tinha algum sentido ser apenas um sabiá e cantar bem ou mal de acordo com o alpiste que me era servido.



terça-feira, 15 de setembro de 2009

Laralaralaralá

Só para dar um toque de realidade nesta manhã de primavera.

http://www.youtube.com/watch?v=S_VhxSagVpE

Era isso que a gente cantava em 76, 77, enquanto esperava -e fazia- a hora de construir um novo país, mais justo, livre e feliz, longe dos coturnos e dos dólares.

Sempre no coração, haja o que houver...
Veja bem, meu patrão, como pode ser bom,
Você trabalharia no sol e eu tomando banho de mar...
Luto para viver, vivo para morrer,
Enquanto minha morte não vem,
Eu vivo de brigar contra o rei.

Simples assim





Laerte, hoje, na Ilustrada.

A chama da batalha



Excepcional flagrante de Daniel Marenco, da Zero Hora para a capa da Folha de S. Paulo de hoje.

A governadora Yeda Crusius, tal qual na vida real, aparece encoberta pelas chamas na cerimônia de abertura da Semana Faroupilha, no Rio Grande.

Yeda, como se sabe, é alvo prioritário do PT gaúcho na luta pelo poder na terra da liberdade.

A letra da lei

O Governo Federal, ou melhor ou pior, o presidente Lula está em uma cruzada diabólica para arrecadar mais dinheiro para sustentar seus planos políticos eleitorais. Li agora a pouco na Folha que foi criado um imposto para toda a cadeia produtiva do mercado livreiro. O Governo diz que o dinheiro vai ser usado em programas de incentivo à literatura.
A notícia saiu na Ilustrada e não na página de Polícia.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Só pra você

O moreno inzoneiro apresentador esportivo da TV Globo anunciou aos quatro ventos e sete mares que a Bahia faria grandes festas para saudar a muy leal e valorosa seleção brasileira de futebol. Durante o jogo com o Chile, o ladino apresentador notou que só a torcida adversária incentivava sua seleção, mas não teve coragem de falar sobre o silêncio perturbador dos baianos.
A realidade da vida mostrou ao mulatinho platinado que nem tudo neste país acontece de acordo com os altruísticos interesses do Departamento Comercial da grande rede de comunicação nacional. Às vezes, como se sabe, é preciso combinar com o povo.
De ontem à noite para hoje de manhã, por exemplo, bandidos atacaram módulos policiais e queimaram mais três ônibus, na guerra aberta entre traficantes e militares que já dura quatro dias na Terra da Felicidade.
Agora de manhã, quinta-feira, os gloriosos jogadores e jornalistas esportivos já foram todos embora, os baianos ficaram cuidando dos ferimentos e do conserto das trincheiras, com a certeza de que a vida real não passa na televisão.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Dia da Pátria

Sete de setembro, Independência do Brasil.
Sou do tempo da parada da mocidade. No Julinho, recém ginasiano, desfilava na rabeira, longe da banda, invejando os guris do tarol. Todo guri gaúcho é um herói à procura de uma causa, de uma lenda, de uma princesa. Uma banda de música dos anos 60 era como um exército. Os tambores, bumbo, caixa, surdo, tarol, estes eram a infantaria. Os metais a cavalaria. Tumbas e pratos a artilharia. Desfilar no colégio era como ir para a guerra. Eu queria ser da infantaria, aqueles que chegam primeiro na trincheira inimiga. Tudo igualzinho a vida real.
Hoje, vida que passa, estou longe do front, sou platéia, apenas povo.
E foi como povo que vi ontem à noite o pronunciamento do presidente da República e vi agora de manhã as fotos do desfile militar em Brasília.
A idéia dos rapazes que fazem marketing político de Luis Ignácio Lula da Silva era aproveitar o clima de patriotismo, de orgulho nacional, para impor uma tese política desenvolvimentista como base de discussão eleitoral para o futuro do País. Parece que não deu certo. A dose de lorota passou do tolerável. A mídia moitou. Patriotismo, no Brasil, se resume à seleção nacional de futebol e as execuções do hino nacional, este mesmo quando interpretado por uma doida. O povo conhece o país em que vive.
Talvez um ou outro demente não tenha notado as contradições evidentes do textinho mal enjambrado sobre defesa de meio ambiente e exploração de petróleo, mas acho que ninguém deixou de perceber a intenção de um governo transitório, como todos os governos democráticos, de se apoderar das riquezas naturais do país em nome de uma verdade política.
Antes de comprar carro usado na mão desse inusitado vendedor de ilusões, o povo certamente vai pensar, como estou pensando agora, em uma verdade bíblica para ver de fato com quem está tratando. Diga-me com quem andas e te direi quem és é uma bela maneira de reclassificar o honorável e popularíssimo presidente da República. Todos nós sabemos como ele foi eleito e quem estava ao seu lado. E todos nós sabemos como ele governa e quem está ao seu lado. A CUT virou uma central de pelegos. O MST continua levando tiro nas costas. Sarney, Collor, Renan e Jucá são agora os mais legítimos porta-vozes dos interesses políticos de Lula.
O sol sobre Brasília hoje de manhã e os efeitos do tempo na nossa memória não nos impediu de notar o tom pastel estragado na foto oficial da Independência.
Mas não tenho tarol nem quero ouvir Vandré, queria apenas ter orgulho do presidente da República, e não esta desconfiança cada vez mais crescente, já quase irreversível. Talvez fosse bom para minha auto-estima. Pelo menos não dependeria apenas de um texto improvável que de repente brotasse na tela do computador ou da decisão de Dunga nunca mais convocar o Robinho.

sábado, 5 de setembro de 2009

You say yes, i say no

Do jornalista, escritor e deputado federal Fernando Gabeira, na Folha de hoje.

Você diz alô, eu digo adeus

No momento em que o governo faz uma grande festa pelo pré-sal, a revista "Foreign Policy" publica um número sobre o longo adeus do petróleo. É tão grande o impacto festivo que um prefeito de Pernambuco perguntou: já posso contar este mês com o dinheiro do pré-sal? Ao governo interessa desinformar -para isso tem um grande aparato. Mas é fundamental nesse confronto fortalecer algumas teses. A primeira delas é de que o recurso do óleo deveria ser usado para nos libertarmos dele. Parece simples. No entanto, pesquisas indicam que um terço dos royalties são gastos por algumas cidades para aumentar a máquina administrativa. Isso quer dizer dar mais empregos e aumentar o poder dos grupos políticos locais. Fala-se em usar a Noruega como modelo econômico de exploração. Mas nada se fala no modelo de proteção ecológica de lá. O interessante é que o Estado não combinou com os russos, e o modelo talvez não seja atrativo para empresas. A Petrobras cuida de quase tudo, drenando imensos recursos que poderiam se voltar para a energia renovável. O importante é que houve uma grande festa. Alguns, como Sarney, saíram de sua pirâmide para celebrar; outros, como Dilma, de resguardo contra perguntas delicadas, reapareceram protegidos. Já havia legislação e toda uma história do petróleo no país. Mas a pressa em festejar parece maior que a de pesquisar e contabilizar os recursos para saber o que fazer com eles. A diferença entre Obama e Lula em energia está no ministro que escolheram. Lá é um Prêmio Nobel de Física; aqui é o Lobão, que prepara uma nova estatal, para a alegria de netos, filhos e amantes. Fazer um fogo e distribuir espelhinhos foi tática do poder desde a chegada dos portugueses. Caramuru.

Graus de dificuldades

Sábado, oito da manhã. Sol de primavera. De repente nubla. Várias espécies de pássaros ocupam os galhos da mangueira distraída, ainda desfolhada do outono. Um casal de jandaia encima a galharia, parecem leões guardiões de acrópoles, um sofrê saltita nervosinho pra lá e pra cá, um bando daqueles que chamo de bem-te-vi renegados (são parecidos, mas não iguais) e um solitário pica-pau cor de telha animam o cenário.
Então soa a sonosplatia.
Um salão de eventos de Testemunhas de Jeová, a uns 500 metros de distância em linha reta da janela de onde estou, abre os trabalhos do dia por um alto-falante potente o suficiente para trazer algumas frases no lombo do vento e invadir os meus moucos ouvidos: e agora, em oferecimento do apóstolo Antonio Santos, da Congregação do Arraial, ouviremos o sermão 195 pápápá...
Por um instante, só por um instante, tive a impressão que os pássaros estavam me olhando à espera das palavras iluminadas. Só depois, bem depois, percebi que devia ser uma sutil manifestação de disfunção da lógica, ou do armário onde se guardam o bom senso e a desordem e o equilíbrio, tudo na mesma gaveta. Talvez seja dia de faxina.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Olha eu aqui

Muito bom o horário eleitoral do PSB ontem à noite em rede nacional.
Ciro Gomes apresentou seu nome ao País como alternativa real a Presidência da República.
Aparentou calma, segurança, bom humor, algo além de uma moderna direção de arte no filmete, e passou claramente a idéia de que é a melhor continuidade possível do governo Lula.
A frase final, dizendo que o cafezinho estava gostoso, mostra que o cara-de-calango mais simpático do País está cheio de apetite.

Em nome de deus

A Folha ilustra sua capa de hoje com uma foto que mostra a ministra Dilma Rousseff cercada pelo senador Crivela, o apóstolo Hernandes, a bispa Sônia e outros próceres evangélicos em uma oração coletiva pela saúde da candidata e a vitória na próxima campanha eleitoral.
Os auto-denominados apóstolo e bispa são aqueles mesmos presos nos Estados Unidos por contrabando e lavagem de dinheiro. Marcelo Crivela todo mundo sabe quem é.
Qual a necessidade política de Dilma se submeter a uma cena dessas, na saída do Planalto?
Talvez a ministra-candidata conquistasse mais votos pelo país afora se tivesse dado voz de prisão para estes criminosos exploradores do espírito religioso do povo brasileiro.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Cara e pinta de palhaço



Artistas do Grupoo Tholl, em foto de Nauro Júnior para a Zero Hora.

Os palhaços trocaram a alegria pela tristeza.

O grupo Tholl, o cirque de soleil da Princesa do Sul, é hoje um dos mais importantes grupos de dança do País, com espetáculos que encantam gerações, como dizem os amantes da arte circense. Eu estive em Pelotas no ano passado e assisti uma apresentação do Tholl no Theatro Guarany. Pareceu-me um trabalho de alta qualidade profissional, criatividade e desempenho a serviço da cultura. Meus companheiros de trabalho à época são testemunhas. Lá estávamos eu, gaúcho baiano, Zé Luís, da Fábrika Filmes, Mauro Assis, da Funyl de Brasília, Serginho Raposo, da África para o mundo, André Geniski, da Europa para Pelotas, e Amilton Coelho e Bruce, dupla de publicitários do tipo não-gosto-de-coisa-nenhuma. Gente com muita quilometragem por todas as BRs do planeta e que ficou gratificada com o show oferecido pelos artistas do Tholl em uma pequena cidade num canto distante do país, longe demais das capitais e de nossas próprias expectativas culturais para uma noite de sábado nas franjas geladas do pampa gaúcho.
Pois li agora no site da Zero Hora que o Tholl terá de deixar Pelotas. Não há um lugar adequado para o grupo se exercitar. A Universidade Federal de Pelotas e a Prefeitura Municipal não se entendem quanto à utilização de prédios públicos abandonados pela cidade e este mal-entendido administrativo está enxotando os artistas do Tholl de sua terra. Isto, claro, é uma estupidez. Uma infâmia de quem não tem compromisso cultural nenhum com sua terra nem muito menos com o desenvolvimento sócio-econômico de sua própria cidade.
Espero que desta vez o povo de Pelotas saiba o quê está perdendo.
Ou que pelo menos saiba que está perdendo. De novo.

Vox Poppuli

Premonições incorretas e sentimentos imperfeitos sobre o noticiário geral:
-Jornal Nacional aprova indicação de Lula para candidato a deus.
-Dilma não será Lara no remake de Doctor Jivago.
-Marina Silva tentará esverdear um país vermelho de esperança e preto de raiva.
-O acadêmico Collor de Melo vai, enfim, publicar seu primeiro livro, Eu Comi a Uva.
-Felipe Massa não voltará a correr na Fórmula 1, está na cara.
-O Grêmio chegará no G4, o Bahia não, e o Inter será campeão.
-García Márquez continuará a vivir para contarla.
-Saramago continuará contando para viver.
-Lula vai dar a Bahia e o Pará ao PMDB em troca do que ele já tem, os votos do povo.
-Vanuza vai cantar Boi da Cara Preta na convenção anual do MST.
-O bebê de Ivete Sangalo não será homem nem mulher, será apenas baiano.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Reflexos do baile

Saramago desistiu do blog.
Lula lançou um blog –ou coisa parecida.
Saramago diz que vai voltar a escrever a sério –ou coisa parecida.
Lula não disse coisa parecida. Ele apenas acha que deus é brasileiro e chama-se Lula.
Saramago saca o revólver quando ouve falar em deus.
Lula saca o revólver quando ouve falar em oposição.
Eu não sou nem um nem outro, embora seja fisicamente parecido com o líder operário pelego e tente em todos os formatos escrever ao menos tecnicamente parecido com o mestre literário comunista, mas penso em parar de vez com este blogzinho desconectado do mercado e demasiado sobressaltado com a tal de realidade da vida.
Descobri hoje, na Folha, que os hipertensos, meu caso, são mais suscetíveis de ficar dementes na velhice. Ainda não sou velho, fumo, jogo bola, escrevo, observo pássaros, tomo café preto com leite e açúcar e adoro pão com goiabada, coisa de menino, mas ando muito desconfiado com a memória e o vernáculo. Além do mais, tenho de dar um jeito de ganhar a vida. A mesma vida que Saramago descreve tão bem e que Lula sapateia em cima como um tiranozinho de meia tijela.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Los antojos

O presidente Lula inaugurou seu blog hoje.
Do alto de seu espetacular senso de democracia e de uma modéstia messiânica exemplar, o presidente botou o pé na WEB com uma afirmação retumbante de auto-elogio sobre as recentes descobertas da camada de pré-sal pela Petrobrás, embora nada, absolutamente nada tenha a ver com isso. Sem um sorriso nos lábios ou qualquer outro indício de bom humor, Lula afirmou que o pré-sal é a segunda independência do Brasil. Ou seja, ele estava falando sério.
O que ele quer dizer com isso?
Quer dizer que com ele nasceu um novo Brasil e este país É dele, assim como a Petrobrás, a Eletrobrás, os Correios, a Caixa, o Banco do Brasil, etc., etc.
A ex-ministra Marina Silva disse mais ou menos a mesma coisa, com cuidado de ressalvar que ninguém deve querer ser líder de tudo e ainda querer ser líder do resto.
Só não explicou direito porque quer refundar o PV –seria, por exemplo, para ficar com a presidência do partido e, quem sabe, ser líder de tudo?
A realidade política brasileira parece ter caído no funil –ou na peneira.
Na próxima eleição, mais do que nunca, iremos votar de máscara. E em outra máscara.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Águas de agosto

Estou alguns dias em silêncio, desculpem, mas apenas sigo os líderes.
O guia e mentor do Governo Federal socialista, liberal, progressista, populista, fascista, oportunista e mentiroso está em silêncio.
A favorita está -ou foi posta- em silêncio.
O vampiro careca da avenida Paulista está aos brados, mas ninguém ouve.
A truculência democrática cearense negocia sorrisos e almas por um lugarzinho no grid.
A santinha do pau oco tem apoio da diabinha do pau puro.
Até Gilmar Mendes parou de falar pelos cotovelos, agora é a vez de Henrique Meireles apresentar ao distinto eleitor sua voz de barítono de ópera bufa.
E um trabalhador rural foi morto com um tiro de calibre 12 nas costas durante a invasão de uma fazenda no pampa gaúcho.
Eu vou escrever o que?
Estou à procura de parceiro para uma dupla caipirinha, Perna de Pau e Olho de Vidro.
Alguém se habilita?

No alvo


Laerte, na Ilustrada de hoje, algumas voltas à frente dos coleguinhas.
-Eis um poema que abalará vossos corações.
-Vai-se a primeira bomba despertada.
- Não era pomba?
- Não.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Tarja preta

O senador José Sarney é mesmo um criminoso político compulsivo. Tal qual os bandidos incorrigíveis que esperam indulto de Natal ou de Dia das Mães ou outra besteira semelhante para voltar à vida de crimes pelo menos num fim-de-semana.
Foi mais ou menos isso que ocorreu com Sarney.
Assediado por seus pares e acossado pelos holofotes da mídia, Sarney manteve-se os últimos dias em repouso -como uma flecha parada no ar. Bastou mudar o foco das atenções, com o depoimento da ex-secretária da Receita Federal e os devolteios de Aloízio Mercadante, para o veterano meliante da cena nacional sacar da caneta e sacramentar novos crimes lesa-Pátria. Segundo o Estadão de hoje, Sarney assinou mais 45 atos secretos e de quebra beneficiou uma sobrinha assaz necessitada do dinheirinho público.
Ou o velho coronel nortista enlouqueceu de vez ou a impunidade é mesmo o maior estimulante para quem tem mania de roubar.

Quem tiver pé pequeno...

O presidente Lula, irritado até a raiz dos cabelos com a crise que ele diz não existir dentro do Partido dos Trabalhadores, deu ontem à noite mais uma lição de clareza política e senso de justiça democrática ao afirmar, com outras palavras, claro, que Porta da RUA é Serventia da Casa...
Lula criou a graciosa agremiação partidária, educou os filhos pródigos nos princípios do peleguismo sindical e agora ameaça expulsar de casa quem não tomar a sopa de porcarias que está sendo servida a Nação.
Isso é que é pragmatismo.
Isso é que é democracia.
Isso é que é política.

Pátria amada


Laerte, na Ilustrada de hoje.
Idolatrada, salve, salve!!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O fim do PT do bem

Ontem, quarta-feira 19 de agosto, foi um dia histórico para a cena política nacional. O Partido dos Trabalhadores, o mesmo PT que arrebatou corações e mentes por todos os cantos do País com ideais de liberdade e igualdade, perdeu dois de seus mais legítimos representantes, o senador Flávio Arns e a senadora Marina Silva. Mas em patética compensação política, consolidou o noivado com três dos nomes mais questionados do País e comprometidos até a alma com os valores capitalistas que hoje embasam as ações do Governo Federal, os senadores José Sarney, Collor de Mello e Renan Calheiros.
A grande questão, para a militância do PT em todo o País, é saber se vale a pena jogar este vale-tudo para se manter no poder, sem mover qualquer palha do monte de feno nacional , como a preservação dos recursos naturais, a reforma agrária e os sistemas de educação e saúde pública. Ou se está afinal chegando à hora de abandonar a romântica nau dos insensatos que está atirando antigos e valorosos remadores ao mar em troca de um lugarzinho a bordo para veteranos piratas bucaneiros.
O PT, cada vez mais, é só um quadro na parede da Pátria. E daqueles que só doem quando a gente olha.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Por isso eu vou na casa dela

Surge o primeiro nome para a vaga de vice-presidente na chapa de Marina Silva a Presidência da República. É o velho e bom cantor e compositor Gilberto Gil, ex-ministro da Cultura do Governo Lula. Gosto muito de Gil como um dos mais legítimos e categorizados artistas nacionais. Gosto tanto que quando dirigia um jornaleco aqui na Bahia até fiz campanha para ele concorrer a Prefeitura de Salvador, mas o Rei Mudança da época, o arcebispo Waldir Pires, impediu Gil de começar sua carreira política com um cargo executivo.
Mas, hoje, depois da pífia atuação de Gil na Cultura, onde o melhor que conseguiu foi escapar, com leve arranhões, de denúncias de corrupção, não vejo nele capacidade de aglutinação partidária ou mesmo representatividade política popular para pongar no bonde de Marina.
Ele é PV, cantaria um belo jingle, filmaria clips emocionantes, mas um candidato precisa de votos. Ou de muito dnheiro. Não é o caso de Gil. Voto, como se sabe, fora Lula, ninguém tem neste país. Dinheiro, isto sim, tem muita gente com os bolsos, as gavetas, os cofres cheios. Como Antonio Ermírio de Moraes, por exemplo.
Seria uma chapa bem interessante, Marina e Ermírio.
Ela estraçalha a imagem de Dilma e Ermírio implode a base de Serra.
Será que tem alguém lendo esta sugestão sabugosa?

O sorriso do Brasil



A ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira flagrada pela lente de Alan Marques, da Folha, abre o riso em depoimento ontem na Comissão de Justiça do Senado Federal.

Segurança e espontaniedade de quem não deve nem teme e não tá nem aí. Ou dona Dilma assimila e neutraliza esse sorriso já ou os governistas podem começar a procurar um lugar agradável para acomodar a vaca de Lula no brejo.

Realismo nostálgico



Tira de Laerte, na Ilustrada de hoje.

-Gostaria de ser criança outra vez?

-Não. Gostaria de ser criança pela primeira vez.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Homens que são sãos

Entre alimentar o cachorro, passar o café e espichar o rabo do olho para o telejornal me surpreendi agora a pouco com uma aparição do Presidente da República. Cidadão contrito, prestei atenção.
Lula desafiava a ex-secretária da Receita Federal a mostrar a agenda para provar ter se encontrado com a ministra Dilma Roussef. A argumentação do Presidente era tão infantil, descabida, primária, que achei que ainda não havia acordado direito. Em seguida apareceu o senador José Sarney, outra vez a se defender de denúncias indefensáveis sob alegação patética “...um homem com a minha vida pública!”
Desisti do café, da conversa com o cachorro, ele sempre sábio e objetivo, e vim para o computador batucar este sambinha desaforo. E vou botar pra tocar um baião de Sergio Ricardo. Um baião que o cego Aderaldo cantava na feira de Caruaru. Um baião que Lula certamente ouviu ao longo de sua trajetória política enquanto costurava a fantasia de líder operário. Adivinhem. Tem a ver com o Bolsa Família.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Isto é um assalto

Naquele velho e surrado estilo do perguntar não ofende, me ocorreu agora se o extraordinário espetáculo de desobrigação ética e moral da classe política, misturando mais do que nunca no mesmo saco os bigodes farsantes de Sarney e Mercadante e as caras de pau escanhoadas de Calheiros e Virgilio, é mesmo um reflexo direto da sociedade brasileira? Será que nós merecemos os políticos que elegemos? Ou será que não?
A tendência natural é dizer não, claro que não merecemos estes políticos. Sei não. Se a gente olhar direitinho o que ainda acontece no campo, nas periferias das grandes cidades, em castelos e nas favelas, em iates e jangadas, em templos e cadeias, nos escritórios e botequins, nos ônibus de operários e nos Jaguar (Jaguar!) de estelionatários, talvez a gente até ache que está bem na foto, isso podia ser um retrato ainda mais nítido e lógico da realidade das ruas de uma Nação com as mãos para o alto.
Parece até aquele anúncio de cerveja que um baixinho safado diz para uma garota bonita, "gata, gata você não é, mas pra mim tá otimo, viu..."

domingo, 16 de agosto de 2009

O dominó tremeu

A pesquisa de opinião divulgada hoje pela Folha de S. Paulo seria apenas a novíssima referência para medir as conseqüências da crise do Senado Federal, mas os números são tão barulhentos que devem mexer diretamente com os arranjos políticos das candidaturas preferenciais ao Palácio do Planalto.
O grande beneficiado parece ser Ciro Gomes, consolidado na briga pelo segundo lugar. Outro dado interessante, mas já esperado, a popularidade do Presidente continua à prova de balas. E o cometa da meia noite, a luz do alvorecer, o raio de esperança, a santinha do pau oco já mostra ao distinto público que acaba de entrar em cena.
Ainda é cedo para avaliar os efeitos do nascimento de uma candidatura inesperada, Marina, e o renascimento de outra, Ciro, mas devem ser desestabilizadores para as até então confortáveis projeções dos favoritos Serra e Dilma.
O que pode se notar é que aumentou bastante o grau de dificuldade de Lula em administrar a cena política nacional de acordo com seu projeto político. O Presidente tinha uma batata quente nas mãos, o PMDB. Agora tem mais duas, Ciro e Marina. E três batatas quentes, como se sabe, é caso para malabarista.

sábado, 15 de agosto de 2009

Quem é que vai pagar por isso?

Algumas questões matinais intrigantes e instigantes para um sábado deste mês do cachorro louco.
-O presidente do Senado Federal é o maior mentiroso da história política do País.
-O grupo do senador Renan Calheiros acaba de ganhar do Governo Lula mais uma rádio.
-A candidatura de Marina Silva prova que o rei está nu.
-Dilma e Lula aprovam indenizações para fazendeiros milionários na Amazônia.
-Pela primeira vez, os sem-terra gritaram nas ruas que Lula é um traidor.
-A Reforma Agrária deu para trás no atual Governo, segundo o próprio MST.
-Tem um bem-te-vi numa mangueira aqui de casa imitando um sabiá.
-Tem um casal de jandaia morando num ninho de pica-pau.
-Tem um sorriso de criança voando no céu azul sem ter onde pousar.
-E tem uma esperança de socialismo morando debaixo do cu do cachorro.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

E entram pela reta...

Alguns dias fora do ar por falha técnica nos meus transmissores intermitentes, volto com sugestão de slogan de marketing de guerrilha para campanha verde que pode balançar a geléia geral nacional:

-Lá vem o Juvenal!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Questão de caráter

Volto ao jardim, na certeza que devo atacar.
A situação do país é alarmante, ou pelo menos muito, muito preocupante.
Não há mais governantes. Esta parece ser a principal característica do atual modelo político democrático nacional. Todos os governantes são candidatos. Todos são personagens político-partidários eleitorais. Não há autoridade pública.
Aqui na Bahia estamos em agosto, não sei que mês vocês estão por aí, e ainda não há aulas na rede estadual de Educação. Em uma espécie de mórbida compensação, morrem adolescentes pretos pobres em confronto com a Polícia aos magotes, como se fossem dados estatísticos da segurança pública e não gente.
Em São Paulo, mais exatamente em São Carlos, cidade universitária de alta qualidade de vida, dois seguranças de supermercado espancaram um pedreiro até a morte porque este havia roubado uma coxinha e um frasco de shampoo. O governador paulista está empenhado em apagar os cigarros da população e não percebe o tamanho das chamas em volta.
Em Brasília, o Congresso Nacional é um circo de horrores e palhaçadas.
Mídia, historiadores e palpiteiros dizem que o brasileiro é cordato, honesto, trabalhador, solidário. O brasileiro, suponho, é, antes de tudo, esquivo. Reage como se estivesse sempre a despistar o predador. E também é burro. Na hora do voto, no mais das vezes, acaba elegendo o predador como se fosse o protetor.

Verde e vermelha

Grande Marina Silva.
A candidatura da santinha do pau oco já está alvoroçando corações e mentes políticas oportunistas pelo país afora.
Há chance eleitoral, sim senhor. Por que não haveria? Ela é limpa, alva e transparente. Conhece muito bem a geografia política eleitoral do País, tem ampla percepção de vários setores da vida pública nacional, defende uma bandeira específica com profundo e reconhecido conhecimento de causa e vem aí com todo dinheiro do mundo verde. E, para desespero do favorito e da favorita, não tem rejeição e nem se respalda em coligações espúrias, ou seja, tem pista livre para decolar.
Aguarda-se para as próximas horas o contra-ataque dos profissionais.
Isto está ficando cada vez mais divertido.

Rufam os tambores

Aos poucos, como se estivesse com preguiça ou envergonhada, a mídia começa a anunciar ao distinto público a troca do grupo de palhaços de ponta para os próximos espetáculos do Gran Circo Del Congresso Nacional. Saem os tradicionais protagonistas de várias faces do PMDB e da base de apoio governista e debutam na fogueira nacional os bons mocinhos do PSDB.
Os senadores Arthur Virgílio e Sérgio Guerra entram na mira dos holofotes da ribalta em lugar dos veteranos palhaços Renan Calheiros e José Sarney.
Muda quase nada, mas pode ser que fique mais divertido. Depende do grau de tolerância de cada um à farsa da vida política nacional.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O bom da vida

Passei o dia de ontem em intensa expectativa de uma nova ordem profissional na minha vidinha de jornalista-escritor desconectado prestes a voltar ao berço esplêndido que até esqueci do post obrigatório de segunda-feira.
Mas justifico.
Além da atenção presilhada na realidade da vida, me distrai com parábolas e rasantes de um gavião solitário no céu da minha janela e com a releitura de alguns parágrafos daquele que talvez seja o maior romance da língua portuguesa, Levantado do Chão.
Como gesto de boa vontade para pagar a conta do post que não houve, copio um breve parágrafo muito além da parca imaginação dos homens comuns, como nós.
Entonces... Saramago:

-Duas horas depois, mais tempo fosse e todo haveria de parecer curto, Manuel Espada saiu de casa, vai ter de esforçar o passo para chegar ao trabalho antes do sol fora. Os dois vagalumes que tinham estado à espera, puseram-se outra vez a voar, rentinho ao chão, com tal claridade que as sentinelas dos formigueiros gritaram para dentro que o sol estava nascendo.

Sorria, você acabou de ler uma das mais lindas metáforas jamais descritas na literatura.

Vem m(*) por aí...

O PMDB e os governistas fisiológicos ligaram os ventiladores no Senado Federal.
Alguns senadores contra e a favor do generoso vento planaltino bateram boca no melhor estilo teatral na sessão de ontem à tarde. Simon, Renan, Collor, Cristóvão e Jarbas só não saíram aos tapas porque nenhum deles tem mais idade para isso. O que mais chamou atenção aos espectadores da cena política nacional ao vivo e em cores foram o olhar encolerizado de Collor e a estrondosa ausência do PSDB.
O mundo dá voltas e voltas e passa de novo no mesmo lugar. E não é como farsa.

domingo, 2 de agosto de 2009

É o amoooor...

Laerte, quem mais poderia ser?, na Ilustrada de hoje.

Oferta da casa

A prática política influencia decisivamente o comportamento de qualquer cidadão, por mais sério ou safado que seja. O governador de São Paulo, José Serra, sem espaço nem jeito, tenta de todas as maneiras viajar pelo País anunciando que é candidato a presidente da República.
Ontem, segundo a Folha, o governador esteve no interior de Pernambuco e discursou para um público perplexo. Serra disse que sempre foi amigo dos nordestinos, e deu como exemplo o fato de no Jardim da Infância ter tido como colegas alguns filhos de retirantes nordestinos. E para coroar esta sensacional afirmação de proximidade afetiva com o povo do Nordeste, o candidato a presidência do Brasil disse que sempre trabalhou muito pela região e deu como exemplo a homenagem que prestou a Luiz Gonzaga no Vale do Anhangabaú.
Os nordestinos devem ter ficado muito impressionados. Tanto que serviram bode assado no almoço. Uma especiaria regional que Serra comeu aos soluços e ainda agradeceu dizendo que estava uma delícia.
A delícia mesmo ele vai ver quando contar os votos que o Nordeste está reservando ao PSDB.

Plim Plim

O meu amigo Fernando Marroni, deputado federal pelo PT/RS, apareceu ontem no Jornal Nacional como papagaio de pirata do ministro Celso Minc em matéria sobre lixo tóxico. Marroni estava com cara pra lá de séria e com jeito de quem tinha algo a dizer, uma pena que o repórter global não percebeu. Fiquei com a sensação de que eram dois caras certos, no lugar certo, na hora certa, mas no lado errado. Pelo menos quanto a Globo.

Antonio de Niro

Sempre considerei Antonio Fagundes um excelente ator, apesar das atuações adocicadas em novelas e mini-séries da televisão. A partir de hoje, depois de ler uma matéria da Ilustrada, passarei a chamá-lo de Bob Fagundes, numa referência a Robert de Niro, o maior ator da história do cinema, conforme todo mundo sabe.
Bob Fagundes está estreando uma peça em São Paulo, cidade que abriga talvez a maior campanha anti-tabagista do mundo, e resolveu enfrentar a censura dita politicamente correta acendendo um cigarro em cena.
Estou pensando seriamente em parar de fumar, meu desempenho em campo, como meia armador, tem sido sofrível, mas apóio a posição de confronto de Fagundes. Censura é para ser combatida e não respeitada.
Como alguém escreveu num muro de Paris, em maio de 68, e não o Caetano Veloso em uma musiquinha politicamente oportunista como pensam alguns desavisados, é proibido proibir.

sábado, 1 de agosto de 2009

O bando


Nunca neste País a democracia, a liberdade de expressão e os direitos do cidadão foram tão achincalhados como no episódio político do derruba-não-derruba o senador José Sarney da Presidência do Senado Federal.
O jornal O Estado de S. Paulo está sob censura da Justiça Federal e proibido de divulgar matérias jornalísticas sobre a Operação Faktor, ou Boi Barrica, que investiga uma tonelada de denúncias de desvio de verbas e enriquecimento ilícito da família Sarney.
Pode parecer inacreditável um jornal diário independente ser proibido de divulgar informações de absoluto interesse público, mas é o que está acontecendo. O autor da espetacular façanha judicial lesa-pátria é o desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça de Brasília.
Na foto acima, podemos ver um flagrante do grupo de autoridades que lidera o fabuloso conglomerado conhecido como Família Sarney.
Da esquerda para a direita da foto, fora as formosas e desconhecidas madames, o próprio Dácio, Sarney, Agaciel Maia e Renan Calheiros.
O senador José Sarney, o Incomum, corre o risco de ver o movimento Fora Sarney virar para o velho e bom Cana Nele!
E o presidente Lula, o Pilatos, devia vir a público nos explicar a diferença entre impunidade política e liberdade de imprensa.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Ordem do dia

Já que a míida não tem lavado as orelhas e o grande público não entende a linguagem política, o presidente Lula resolveu ser um pouco mais claro na questão do derruba-não-derruba Sarney.
Em outras palavras, com sua tradicional sutileza elefantina, Lula disse claramente "eu não votei nele", o que quer dizer em politiquês castiço, com todas as letras, "não tenho nada com isso, tirem ele daí".

Olha ele aí

O cabo Anselmo, um dos personagens mais emblemáticos e folclóricos da ditadura militar no Brasil, reapareceu publicamente ontem, segundo a Folha de S. Paulo de hoje. Ele quer os documentos de volta e, claro, uma bela indenização d governo brasileiro, nos mesmos moldes desta anistia que enriquece espertalhões pelo país afora.
Eu, que vivo no mundo da lua e me preparando pra trocar de estação, pensava que o velho cabo marinheiro dedo-duro que assombrava o sono dos militantes de esquerda nos anos 70 estava muito bem identificado e havia sido eleito para a Presidência da República.
Acho que confundi os meliantes, sou muito distraído.